Montagem usa vídeos antigos para enganar sobre doações destruídas ou retidas no RS

Gravações que circulam no TikTok e no Instagram confundem sobre o que de fato está ocorrendo durante a tragédia climática; prefeituras afirmam que donativos foram entregues normalmente à população

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Foto do author Luciana Marschall

O que estão compartilhando: postagem exibe seis vídeos e afirma que as doações para o Rio Grande do Sul estariam sendo destruídas e que barcos e caminhões estariam sendo apreendidos.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Os três primeiros vídeos são antigos e foram gravados no ano passado, durante outro período de enchentes no Rio Grande do Sul. O primeiro deles, que supostamente mostraria a destruição de doações em Encantado, foi contestado pela prefeitura da cidade. O segundo e o terceiro vídeos, sobre a paralisação da distribuição de mantimentos em um barracão, foi contestado pela prefeitura de Lajeado e checado em 2023 pelo Estadão Verifica.

O quarto vídeo é recente, mas foi contestado pela prefeitura de Novo Hamburgo. A administração municipal afirmou ao Verifica que não está impedindo a distribuição de doações, mas que os donativos precisam ser documentados para que haja transparência das atividades.

Por fim, os dois últimos vídeos exibidos pela postagem foram desmentidos recentemente pelo Estadão Verifica. Não é verdade que homens do Exército estavam proibindo resgates de barcos ou pedindo habilitação dos motoristas das habilitações; também não é verdade que um caminhão da Bread King com doações tenha sido multado ou impedido de viajar.

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Vídeos contêm alegações enganosas sobre ações de ajuda no RS. Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: Nenhum dos vídeos que compõem a montagem que circula em redes sociais como Instagram e TikTok contém alegações verdadeiras. Veja abaixo a checagem de cada caso:

Vídeo com pá carregadeira foi gravado no ano passado

O primeiro vídeo mostra uma pá carregadeira trabalhando em um ambiente lotado de caixas e sacos. A autora da gravação se dirige àqueles que doaram para Encantado, afirmando que os donativos estão sendo destruídos pela máquina.

O conteúdo não é recente e circulou nas redes sociais em setembro de 2023, quando um ciclone extratropical causou chuvas intensas e grandes enchentes no Rio Grande do Sul, especialmente na região da Serra Gaúcha e no Vale do Taquari.

À época, a Prefeitura de Encantado emitiu nota à imprensa afirmando ter utilizado a máquina pesada para remover roupas armazenadas na quadra do Parque João Batista Marchese, com o intuito de aumentar o espaço disponível para abrigar famílias. Conforme o município, a entrega das roupas para as pessoas que necessitavam ocorreu normalmente e nenhuma peça foi danificada ou descartada. No entanto, a administração municipal reconheceu que o uso do maquinário para o serviço pode ter sido um equívoco.

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Esse conteúdo foi checado à época por Reuters e Boatos.Org.

Gravação mostra Exército organizando embarcações

O segundo vídeo mostra barcos em reboques. O autor da gravação diz que as embarcações estão paradas porque o Exército Brasileiro está proibindo as pessoas de seguirem com os resgates e que “só falta eles pedirem carteira” para os pilotos.

Essa alegação foi desmentida pelo Estadão Verifica. O Exército esclareceu que o vídeo mostra um trabalho de organização de embarcações para evitar acidentes ou o comprometimento do resgate de vítimas. Além disso, a Brigada Militar e a Polícia Rodoviária do Rio Grande do Sul informaram não haver ações de inspeção de condutores de barcos ou veículos que queiram ajudar no socorro às vítimas.

Imagens gravadas em barracão de Lajeado são antigas

A terceira gravação mostra um caminhão e a parte externa de um barracão, onde há fardos de água e caixas de frutas empilhadas na porta. O autor do vídeo afirma que estavam sendo distribuídos materiais armazenados do local até que os voluntários foram impedidos de continuar o trabalho. O quarto conteúdo é uma continuação do anterior, agora gravado dentro do barracão, onde o homem mostra caixas de leite e cestas básicas e diz que nada mais pode sair se não houver registro do que entra e do que é retirado. Ele culpa o governo brasileiro e o Exército pela “desorganização”.

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Esse vídeo também circulou em setembro do ano passado, por ocasião das enchentes registradas naquele mês. Nas postagens compartilhadas naquela época, uma mulher dizia que as doações em Lajeado não foram liberadas pois deveriam aguardar a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cidade. O Verifica demonstrou que isso não é verdadeiro. A alegação foi negada naquela época pela prefeitura do município e pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom).

O conteúdo também foi desmentido por Lupa e Fato ou Fake.

Prefeitura não proibiu distribuição de doações em Novo Hamburgo

O quinto vídeo mostra uma pessoa discutindo com outras duas, que vestem coletes laranja. A autora da gravação diz que a prefeitura estava proibindo a Fenac (administradora de um espaço para eventos) de fazer doações para quem está precisando. Há uma legenda que afirma que a situação ocorreu em Novo Hamburgo. “A população estava organizando a logística corretamente, fazendo várias entregas e eles aparecem para proibir”, diz o texto, que incentiva as pessoas a não entregarem mais doações no local.

A prefeitura informou que os voluntários que estavam auxiliando o recebimento das doações resolveram entregar os donativos por conta própria para quem chegava ao local, sem qualquer registro ou verificação de necessidade. Esse procedimento foi impedido pela Secretaria de Desenvolvimento Social por não seguir o processo legal.

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Segundo a prefeitura, a entrega continuou a ser feita de forma documentada. “Todas as doações estão sendo encaminhadas para os abrigos organizados pelo município e também para os abrigos organizados pela comunidade, em igrejas, associações, escolas privadas, através do contato direto com seus coordenadores, mas isso é feito de maneira organizada e registrada, para posterior prestação de contas à população”, informou.

A Fenac informou à reportagem que a entidade apenas cede o local para a prefeitura municipal, que é a responsável pela administração das doações.

Caminhão com donativos foi parado por excesso de peso, não por falta de nota fiscal

O último vídeo mostra um caminhão baú parado, enquanto o narrador diz que o veículo está carregado de alimentos para as pessoas. Ele afirma que “não querem liberar o caminhão, querem a nota fiscal da mercadoria”. As imagens são acompanhadas da legenda “Governo barrando doações para vítimas das enchentes no RS por falta de Nota Fiscal!!!”

Esse conteúdo também foi desmentido pelo Verifica. O veículo foi abordado em um posto de fiscalização, mas não sofreu qualquer autuação. Segundo comunicado da Bread King, dona do caminhão, o transporte foi parado por excesso de peso, mas depois foi liberado e entregou os suprimentos às vítimas no Rio Grande do Sul.

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