É falso que Drauzio Varella tenha indicado remédio que promete curar diabetes

Vídeo do médico foi manipulado digitalmente com uso de IA; doença não tem cura e deve ser controlada com medicamentos receitados individualmente

Foto do author Luciana Marschall

O que estão compartilhando: vídeo em que o médico Drauzio Varella diz que uma medicação que não se vende em farmácia cura o diabetes e permite que o usuário volte a comer doce e pão francês. Ele acrescenta que experimentou dietas caras, remédios prescritos por médicos, exercícios físicos e que nada adiantou até que descobriu o remédio anunciado.

PUBLICIDADE

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A voz do médico foi alterada digitalmente. A ferramenta de detecção de inteligência artificial (IA) Loccus.ia identificou ser alta a probabilidade de que a tecnologia tenha sido usada para copiar a voz de Drauzio. Além disso, é visível que o áudio não está sincronizado com os movimentos da boca do médico. O vídeo verdadeiro está na página de Drauzio no YouTube e trata de alergias, não de diabetes.

A assessoria de Varella informou que ele não recomenda ou vende medicamentos nas redes sociais, na televisão e em nenhum outro meio. Segundo o endocrinologista Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, a doença não tem cura e os tratamentos convencionais para o problema são eficazes.

A narração do conteúdo que circula no Facebook tem características de criação por inteligência artificial. Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: O Verifica identificou a origem do vídeo verdadeiro de Drauzio Varella consultando o canal dele no YouTube. Foi possível observar semelhanças no cenário, modelo e cor da roupa utilizada pelo médico.

O áudio falso acrescentado às imagens de Drauzio provavelmente foi fabricado a partir de uma IA, que imitou a voz dele. A ferramenta Loccus.ia apontou que a tecnologia de IA foi usada em 87% do áudio para clonar a voz do médico:

Ferramenta de detecção apontou uso de IA em 87% do áudio. Foto: Foto: InVid/Loccus.IA

Os conteúdos utilizam a credibilidade do médico para atribuir uma espécie de selo de qualidade ao produto que pretendem vender. Contudo, a imagem dele, veiculada junto a uma narração falsa, pode levar usuários das redes sociais a gastarem dinheiro em produtos sem eficácia e colocarem a saúde em risco. Drauzio vem alertando sobre montagens que utilizam sua imagem neste sentido. “São falsários, gente que não presta, é um bando de bandidos que usa a imagem dos outros para tentar enganar as pessoas”, diz ele.

Além de a postagem mentir sobre uma suposta recomendação do médico para uso do produto, ainda inventa que a mãe de Varella faleceu devido a diabetes, na tentativa de sensibilizar os usuários da rede social. No livro Por um fio (Companhia das Letras), o médico narra que a mãe faleceu devido a um quadro de miastenia grave, uma doença que enfraquece progressivamente a musculatura.

Publicidade

Conteúdo falso pode ser prejudicial à saúde das pessoas

Conforme o endocrinologista Fernando Valente, que avaliou o vídeo a pedido do Estadão Verifica, não existe substância que elimine o diabetes. “A gente pode até ter normalização da glicose, do açúcar no sangue, mas a pessoa continua tendo diabetes e precisa continuar seguindo o tratamento, o acompanhamento, as orientações nutricionais, os exercícios físicos e medicamentos”, afirmou. “É uma doença que tem tratamento, mas não tem cura”.

Valente ressalta que, ao contrário do que é dito no conteúdo aqui checado, os tratamentos recomendados pelos médicos têm eficácia e devem ser administrados individualmente para cada caso. Às vezes, é indicado mais de um remédio, além de insulina e hábitos saudáveis.

O endocrinologista ressalta o perigo de dizer que tomando o remédio anunciado no Facebook o diabético poderá comer o que quiser, como doce e pão francês. Conforme o médico, o paciente pode se sentir tratado e com liberdade de comer alimentos que aumentam o açúcar no sangue, o que pode levar a uma descompensação glicêmica.

A orientação nutricional profissional, segundo Valente, sempre deve levar em conta o grau de descompensação glicêmica e o tratamento que a pessoa está fazendo. “A gente habitualmente não proíbe um alimento, mas daí a torná-lo rotineiro, frequente e a pessoa comer em quantidade tem um risco”, explicou. “Isso vai aumentar o peso dessa pessoa e vai aumentar aguda e cronicamente a glicose e riscos de complicações em longo prazo do diabetes”.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.