É falso o boato de que Gilmar Mendes nunca foi advogado nem passou em concurso público

Rumor também afirma que ministro não foi sabatinado antes de ocupar cargo na Corte, em 2002

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Atualização:

Autor de declarações polêmicas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes tem sido personagem de várias correntes no WhatsApp. A mais recente delas mente ao afirmar que o magistrado nunca atuou como advogado e nunca passou em concursos públicos.

O ministro do STF Gilmar Mendes Foto: Andre Dusek/Estadão

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Outra informação equivocada é a de que o ministro não teria sido sabatinado antes de ocupar o cargo na Corte, quando indicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002. O boato foi enviado para a equipe do Estadão Verifica por nosso canal do WhatsApp. Para encaminhar textos, áudios, vídeos e fotos duvidosos, basta adicionar o número  (11) 99263-7900 à sua lista de contatos.

+ Recebeu algum boato pelo WhatsApp? Envie para o Estadão Verifica

O texto que viralizou também mistura duas informações legítimas com o objetivo de confundir. É fato que Gilmar mandou soltar o dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, em 2008. Também é verdade que, na época da nomeação do ministro, o jurista Dalmo de Abreu Dallari escreveu um artigo para a 'Folha de S. Paulo' com críticas ao magistrado -- descrito como alguém "longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país".

Confira nossa checagem:

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Gilmar nunca foi aprovado em concursos públicos?

Como informa o currículo do ministro, disponível no site do STF, Gilmar já passou em quatro concursos públicos. O primeiro deles foi para o cargo de juiz federal, em 1983. No ano seguinte, o magistrado foi aprovado para dois cargos: o de assessor legislativo do Senado Federal, na área de Direito Constitucional e Administrativo; e o de procurador da República. Gilmar rejeitou a primeira nomeação e atuou na Procuradoria de outubro de 1985 a março de 1988.

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O ministro também foi aprovado, em 1995, para a posição de professor assistente da área de Direito Público, na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Até hoje, Gilmar ocupa o cargo de professor adjunto na UnB.

Veja o currículo de Gilmar:

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Currículo de Gilmar

O ministro nunca atuou como advogado?

O texto do boato diz: "há dois dias que faço buscas e pesquisas em todos os tribunais do sul, sudeste e centro-oeste, buscando ações em que Gilmar Mendes houvesse atuado como advogado... e, para minha surpresa, ele jamais advogou..."

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Na realidade, Gilmar Mendes ocupou o cargo de advogado-geral da União de janeiro de 2000 a junho de 2002. A informação consta no currículo publicado no site do STF

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Ministro do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes Foto: TSE

Gilmar já foi alvo de 'cinco ou seis' pedidos de impeachment desde 2014?

É verdade que Gilmar Mendes já foi alvo de vários pedidos de impeachment -- mas, nesse ponto, o boato é impreciso quanto ao número de petições protocoladas. De acordo com um levantamento do site 'Congresso em Foco', somente no ano passado, seis ações pedindo o impedimento do ministro foram apresentadas ao Senado.

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Em abril deste ano, o jurista Modesto Carvalhosa apresentou nova petição. Na representação, o professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) lista nove atos em que Gilmar teria cometido crime de responsabilidade e, por isso, deveria perder o cargo. No dia 12, dois senadores apresentaram questões de ordem para que o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB-CE), analisasse o pedido.

Há ainda um abaixo-assinado online que pede a destituição do ministro. A petição tem quase 2 milhões de assinaturas.

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O ministro teve sabatina adiada e fraudulenta por 'nunca ter advogado'?

A mensagem alega que a sabatina de Gilmar no Senado -- todos os ministros precisam passar por uma -- teria sido adiada a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) porque o então advogado-geral da União jamais teria atuado na profissão. A informação é falsa. O ex-presidente da OAB Reginaldo de Castro pediu o adiamento da sabatina por outro motivo: levantou dúvidas sobre a "reputação ilibada" de Gilmar. Castro alegou que ele respondia a processos por ofensa à honra e improbidade administrativa.

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O boato também diz que, uma vez remarcada, a sabatina teria sido feita de forma rápida (o texto usa a palavra "sabatina" entre aspas). Gilmar ficou quatro horas na sessão com os senadores na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). No entanto, considerar rápida ou não uma sabatina de quatro horas é algo relativo.

O último magistrado a assumir uma cadeira no Supremo, Alexandre de Moraes, passou mais de 11 horas com os parlamentares. Edson Fachin, que assumiu em 2015, ficou 12 horas. Já o ministro Luís Roberto Barroso, nomeado em 2013, dedicou mais de sete horas às perguntas.

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No entanto, também há ministros que passaram menos tempo que Gilmar nas sabatinas. Cármen Lúcia, atual presidente da Corte, ficou pouco mais de 2 horas na presença dos senadores. O mesmo vale para Lewandowski, em 2006. Outro que passou menos tempo que Gilmar foi Luiz Fux, em 2011, que não chegou a quatro horas de sabatina.

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