É falso que advogados de Adélio Bispo representam acusado de quebrar relógio de Dom João VI

Antônio Cláudio Alves Ferreira é defendido pela Defensoria Pública; defensor designado não é o mesmo que cuida do caso do autor da facada contra Bolsonaro

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Foto do author Luciana Marschall

É falso que o corpo jurídico que atuou ao longo do processo de Adélio Bispo, internado desde 2019 pelo esfaqueamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), esteja agora defendendo Antônio Cláudio Alves Ferreira, acusado de quebrar o relógio de Balthazar Martinot durante a invasão ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Seis advogados negaram a afirmação ao Estadão Verifica.

É falso que os advogados que atuaram no processo de Adélio Bispo estejam agora defendendo Antônio Ferreira Foto: Reprodu

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Postagens com a alegação falsa circulam amplamente nas redes sociais. Uma delas, no Facebook, pede que os usuários da plataforma adivinhem quem são os advogados do “santinho que quebrou o relógio no Planalto” e dá como resposta a afirmação falsa: “os mesmos do Adélio Bispo”.

A reportagem identificou que a defesa de Adélio Bispo foi realizada por Zanone Manuel de Oliveira Júnior, Fernando Costa Oliveira Magalhães, Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa, Marcelo Manoel da Costa, Daniel Magalhães Bastos e Marco Alfredo Mejia. Além de negarem estar trabalhando no caso de Antônio Ferreira, todos informaram não acompanharem mais a situação de Adélio Bispo, cuja defesa durante a execução penal está a cargo da Defensoria Pública da União (DPU).

Em nota, a DPU confirmou que assumiu a defesa de Adélio Bispo em 11 de junho de 2019. Disse também que acompanhou a audiência de custódia de Antônio Cláudio Alves Ferreira, suspeito de ter quebrado o relógio dado a Dom João VI. No entanto, a equipe de defensores que cuidou do caso de Ferreira não é a mesma que cuida do caso de Adélio. O processo envolvendo Antônio Cláudio Alves Ferreira tramita em sigilo no STF.

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Adélio foi absolvido impropriamente, ou seja, considerado inimputável pelo juiz federal Bruno Savino em de junho de 2019. Desta forma, ele foi internado, como medida de segurança, após pareceres médicos concluírem que ele sofre de transtorno delirante persistente.

O que dizem os advogados?

Zanone Júnior afirmou à reportagem que a equipe coordenada por ele não trabalha mais como defensora dos interesses de Adélio Bispo desde a absolvição e que ele se manteve como curador do internado até junho de 2022.

Pedro Possa também sustentou que ele e o sócio, Marcelo da Costa, atuaram no caso até o trânsito em julgado do processo criminal, acrescentando que a execução penal ficou a cargo da DPU. De fato, em 2021, o órgão público foi o responsável por impetrar habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) requerendo a transferência de Adélio da Penitenciária Federal de Campo Grande para o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou outro estabelecimento adequado. O pedido foi negado e Adélio Bispo segue internado em presídio de Campo Grande.

Daniel Bastos garantiu que Antônio Ferreira não é e nunca foi assistido pelo escritório que representa, ao contrário de Adélio Bispo, e classificou a postagem como “mais uma das muitas notícias fantasiosas difundidas nas redes sociais”.

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Fernando Magalhães e Marco Mejia disseram não atuar mais junto a Adélio e negaram atender Antônio Ferreira, a quem Magalhães acrescentou desconhecer.

Entenda

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, quando ainda era candidato à Presidência. O acusado foi preso ainda em flagrante.

Desde a data do crime, diversas peças desinformativas passaram a ser compartilhadas envolvendo o fato. De um lado, opositores de Bolsonaro alegavam que o ataque havia sido forjado, enquanto apoiadores sugeriam que a esquerda esteve envolvida no esfaqueamento.

Adélio Bispo. Foto: PM-MG

Em meio a isso, começou a se especular quem estaria pagando pelos serviços de advocacia prestados a Adélio Bispo, que não tinha poder econômico para o corpo contratado. Os questionamentos neste sentido viraram investigação da Polícia Federal – que havia concluído anteriormente que Adélio Bispo agiu sozinho e era considerado incapaz de responder pelo crime por sofrer distúrbios psicológicos.

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Em 2023, após a invasão promovida por apoiadores de Jair Bolsonaro às sedes dos Três Poderes, uma nova onda de desinformação começou a circular. Desta vez, postagens alegavam que apoiadores do governo Luiz Inácio Lula da Silva teriam se infiltrado em um suposto movimento pacífico da direita com o intuito de promover vandalismo. As alegações são falsas. Os invasores repetiram frases literais de Bolsonaro e premeditaram o vandalismo em grupos de simpatizantes do ex-presidente.

A postagem aqui analisada supõe algo no mesmo sentido, tentando ligar a polêmica questão da defesa de Adélio Bispo – que muitos defendem sem provas ter sido financiada pela esquerda – ao ataque no Palácio do Planalto. Antes de Antônio Ferreira ser preso, por exemplo, o Estadão Verifica já havia desmentido que um militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) era o homem que aparecia nas imagens quebrando o artefato trazido ao Brasil por Dom João VI.

Relógio feito por Balthazar Martinot foi derrubado em invasão ao Planalto. Foto: Reprodução/TV Globo

Este conteúdo também foi definido como falso por Lupa.

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