É falso que Dilma tenha participado de atentado que matou soldado Mario Kozel Filho

Ação foi realizada por VPR, grupo de luta armada do qual Dilma nunca fez parte; não há indícios de participação da ex-presidente em atos violentos na ditadura

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Foto do author Samuel Lima

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) não participou do atentado que levou à morte do soldado Mário Kozel Filho, em 26 de junho de 1968. Esta alegação falsa circula em redes bolsonaristas no Facebook. Na data citada, o grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que praticou luta armada contra a ditadura militar (1964-1985), atacou o quartel-general do 2º Exército, em São Paulo. Nos meses seguintes, dez dos acusados pelo atentado foram presos e dois foram mortos pelos militares.

É falsa a publicação no Facebook que acusa Dilma Rousseff de matar soldado em 1968. Foto: Reprodução / Arte Estadão

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O Estadão publicou a notícia na capa da edição de 27 de junho de 1968, disponível no acervo digital. A reportagem afirma que um veículo carregando dinamite foi lançado contra o Quartel General do 2º Exército, no bairro Ibirapuera. A explosão matou um soldado de 18 anos, Mário Kozel Filho, e deixou outros cinco feridos. Esses fatos já colocam em descrédito o boato. A postagem inventa que Dilma teria "jogado uma granada no portão". A data citada no post também está errada.

Capa da edição do 'Estado' em 27 de junho de 1968. Foto: Reprodução / Acervo Estadão

Nas páginas internas, o Estadão noticiou que o atentado ocorreu durante a madrugada e foi executado por apenas uma pessoa. O motorista saltou do veículo depois que tiros de advertência foram disparados e os pneus do carro foram alvejados. Depois, o homem que dirigia foi resgatado por cúmplices em um segundo veículo. O carro com explosivos se chocou contra a parede do quartel e detonou quando os soldados se aproximaram. Posteriormente, o fato foi atribuído ao grupo VPR.

Dilma, no entanto, não fazia parte da VPR nessa época. Segundo a biografia da petista no CPDOC da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ex-presidente era integrante do grupo guerrilheiro Comando de Libertação Nacional (Colina). Essa organização apenas se uniria à VPR em 1969, um ano após o atentado contra Kozel Filho. Os dois grupos formaram a Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) - Palmares. 

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Em outra verificação recente, o Estadão Verifica mostrou que não há evidências da participação de Dilma Rousseff em qualquer ação armada durante o regime militar. A reportagem consultou documentos tornados públicos em 2010 pelo Superior Tribunal Militar (STM) para desmentir boatos de que a ex-presidente teria participado de assaltos aos bancos Banespa e Mercantil, em 1968; de que teria confessado planos de assassinato do capitão norte-americano Charles Chandler; e de que teria participado de roubo ao quartel da Força Pública do Barro Branco. Nada disso é verdade.

O caso do soldado Mário Kozel Filho não é sequer citado nos arquivos da ditadura referentes a Dilma, produzidos a partir de depoimento sob tortura prestado por ela em delegacia do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 1970. De acordo com o relatório, Dilma afirmou que sabia de três assaltos e um atentado a bomba realizados pelo Colina, mas negou "participação ativa". 

A ação da Justiça Militar concluiu que ela teria chefiado greves e assessorado assaltos a bancos, mas não cita quais foram eles, nem comprova vinculação direta. Os arquivos indicam ainda que a ex-presidente se mudou para São Paulo apenas em outubro de 1969 -- portanto, meses depois da morte do soldado.

Acusada de subversão em 1970, Dilma foi condenada a quatro anos de reclusão e suspensão dos direitos políticos por dez anos. Ela foi solta no final de 1972. 

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Bolsonaro também insinuou participação de Dilma

Assim como ocorreu com os outros quatro casos citados pelo boato analisado anteriormente pelo Estadão Verifica, o presidente Jair Bolsonaro também insinuou envolvimento de Dilma Rousseff na morte de Mário Kozel Filho, sem apresentar provas. Em entrevista a um canal italiano de televisão, em janeiro de 2019, Bolsonaro citou o VPR como responsável "por várias ações terroristas, incluindo uma bomba que matou um soldado em São Paulo". Em seguida, disse que "fazia parte dessa organização terrorista também a senhora Dilma Rousseff". A transcrição do trecho foi feita pelo site Poder 360.

Dilma divulgou nota à imprensa sobre o episódio no Facebook, afirmando que Bolsonaro espalha uma fake news corrente entre seus apoiadores. "Nunca fui integrante deste grupo (VPR), jamais participei de qualquer ação armada e não propus ou contribuí para a morte de quem quer que seja", escreveu Dilma. 

Ela ressaltou que a acusação não consta nos arquivos da ditadura, nem no livro sobre o assunto editado por militares após o fim do regime -- a publicação também foi analisada pelo site Aos Fatos. A petista disse ainda que o episódio ocorreu quando residia em Belo Horizonte e frequentava a Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e que a postura do atual presidente é "profundamente lamentável" para um chefe de Estado.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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