É falso que estudo tenha mostrado que vacina bivalente contra covid-19 reduz expectativa de vida

Site afirma que órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos publicou pesquisa, o que não é verdade; responsável pela notícia falsa não respondeu à tentativa de contato

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Foto do author Milka Moura

O que estão compartilhando: que um estudo do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) descobriu que a vacina bivalente contra covid-19 diminui a expectativa de vida masculina em 24 anos.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O CDC informou que “não realizou nenhum estudo que encontrasse uma diminuição da expectativa de vida para pessoas que receberam a vacina contra a covid-19″. A Pfizer, fabricante da vacina bivalente, reforçou que a vacina é segura e que não há indícios de diminuição da expectativa de vida pelo uso do imunizante.

Não há pesquisa do CDC que relacione a redução da expectativa de vida com a vacina contra covid-19. Foto: Reprodução/Internet

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Saiba mais: Um texto publicado no portal Stylo Urbano afirma que a vacina bivalente diminui a expectativa de vida masculina. Segundo a publicação, a fonte para essa afirmação seria um estudo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O texto diz que “um novo estudo oficial confirmou que os homens que receberem a vacina Covid sofrerão (sic) tragicamente uma perda de 24 anos na sua esperança de vida.” Também diz que “as vacinas de mRNA e as injeções de reforço são um ‘veneno genético de ação lenta’, de acordo com o estudo”. Mas nada disso é verdade.

O estudo associado no texto tem como título “Effectiveness of the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Bivalent Vaccine” (Eficácia da vacina bivalente contra a covid-19). E, ao contrário do que diz a publicação, a pesquisa não encontrou evidências de que a vacina reduz a expectativa de vida masculina.

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O que diz o estudo?

O estudo foi iniciado em 12 de setembro de 2022 e finalizado em 14 de março de 2023, totalizando 26 semanas de duração. Feita por pesquisadores da Cleveland Clinic, em Ohio, nos Estados Unidos, a análise reuniu 51.017 funcionários da unidade médica. O estudo não foi publicado em uma revista científica ou revisado por pares. Isso significa que ele não pode ser usado para orientar a prática clínica médica.

A pesquisa analisou a efetividade da vacina bivalente, e não a expectativa de vida dos vacinados. O estudo mostrou que pessoas que tomaram a vacina bivalente ainda foram infectadas pela doença. Alguns pontos citados na pesquisa podem explicar a baixa eficácia encontrada no estudo, que chegou a 30% de proteção contra a infecção pelo SARS-CoV-2, quando as linhagens Omicron BA.4/BA.5 eram predominantes. As questões destacadas pelos autores foram:

  • O estudo não foi capaz de distinguir infecções sintomáticas e assintomáticas;
  • Os indivíduos com infecção prévia não reconhecida podem ter sido classificados erroneamente como não infectados anteriormente;
  • Indivíduos que escolheram receber a vacina bivalente podem ter sido mais propensos a realizar testes quando apresentavam sintomas;
  • Os indivíduos que optaram por receber a vacina bivalente podem ter sido menos propensos a assumir comportamentos de risco em relação à covid-19;
  • Houve limitações na detecção de infecções;
  • A imunidade natural ao vírrus pode ter afetado a eficácia percebida da vacina.

Não há no estudo a menção a casos de redução de expectativa de vida em homens jovens. Inclusive, a conclusão da pesquisa aponta que houve limitações na capacidade de determinar se a vacina diminuiu a gravidade da doença, devido ao pequeno número de ocorrências graves durante a duração do teste.

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A médica infectologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), reforça que o estudo em questão não observou diminuição na expectativa de vida. “O artigo que é utilizado como referência não trata desse assunto. Ele trata sobre a eficácia da vacina bivalente”, explicou. “A vacina não protege totalmente da infecção porque ao longo do tempo os títulos de anticorpos vão diminuindo e a pessoa pode eventualmente se infectar. Mas ela protege de formas graves da doença, por isso a mortalidade diminui”.

O CDC informou em nota ao Estadão Verifica que não realizou nenhuma pesquisa que encontrou uma diminuição na expectativa de vida para pessoas imunizadas contra a covid-19. “Na verdade, o oposto é verdadeiro”, informou. “Estudos têm demonstrado que pessoas vacinadas contra a covid-19 têm taxas mais baixas de morte por todas as causas do que pessoas não vacinadas. As pessoas que recebem vacinas contra a covid-19 não têm um risco maior de morte por causas não relacionadas à covid.”

Vacinação contra a covid-19 em fevereiro, em Santa Cecília, São Paulo. Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Vacina bivalente reduz a expectativa de vida?

Não. Segundo Grassi, a função da vacina é justamente melhorar a duração e qualidade de vida com o passar do tempo. “Na história da imunologia e da medicina, as vacinas aumentaram a esperança de vida da população. Vemos isso com a vacina para BCG, tétano, sarampo, rubéola, todas as vacinas que são incorporadas no Programa Nacional de Imunizações. Todas elas aumentaram a esperança de vida da população de maneira geral. E isso não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro “, avaliou.

A pesquisadora explica que não existem indícios ou estudos que comprovem que a vacina é responsável pela redução da longevidade. “Não existe nenhum dado que deixa a gente imaginar que vacina aumenta mortalidade. Ao contrário, a vacina fez a gente viver mais tempo e com melhor saúde”, afirmou.

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Quais os benefícios da vacina bivalente?

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Diferentemente da primeira leva de vacinas, a bivalente é capaz de imunizar contra mais de uma versão do vírus. No caso da Pfizer, usada no Brasil, o vírus usado é o original da covid-19 e variantes da ômicron. O estudo citado no texto falso não informa o nome específico do imunizante utilizado.

A Pfizer afirmou que a vacina é a principal forma de combate à covid-19, e que seus benefícios superam os riscos. “Se considerarmos o cenário que o mundo enfrentava em 2021 e o cenário atual, fica evidente o quanto a vacinação em larga escala foi essencial para controlar a pandemia. Até o momento, a Pfizer já distribuiu mais de 4,7 bilhões de doses da vacina ComiRNAty, em mais de 181 países, e não há qualquer alerta de segurança, de modo que o benefício da vacinação permanece se sobrepondo a qualquer risco”, comunicou a empresa.

Procurado, o responsável pela publicação e pelo domínio do site não se manifestou.

Como lidar com postagens do tipo: Estudos sobre a eficácia da vacina contra a covid-19 mostram que os benefícios são maiores do que os riscos. Qualquer informação disseminada nas redes sociais que vá contra essa premissa precisa de atenção redobrada. Procure sempre checar as informações com médicos especialistas, Ministério da Saúde ou jornais de sua confiança. Confira todas as checagens feitas pelo Estadão Verifica sobre covid-19.

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