É falso que Magazine Luiza esteja apoiando 'mudança de cor' da bandeira do Brasil

Boato surgiu com um vídeo que mostra obra da artista Criola em exposição na Avenida Paulista, em São Paulo; empresa foi uma das patrocinadoras do evento

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Foto do author Samuel Lima

Circula nas redes sociais a alegação de que a empresa de varejo Magazine Luiza estaria "apoiando a mudança de cor da bandeira brasileira". A afirmação é feita com base em um vídeo de um homem na Avenida Paulista, em São Paulo, que reclama de um painel com uma ilustração que lembra o símbolo nacional, adicionado da frase "Fome e retrocesso" e uma série de outros elementos.

 Foto: Estadão

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Na verdade, a peça é uma obra da artista Criola para a exposição "Feminino Plural", organizada pela União Geral de Trabalhadores (UGT) e que ocupou cerca de um quilômetro de extensão na avenida, da Rua Augusta até a Alameda Campinas, entre os dias 3 e 30 de junho. O boato inventa que seria uma proposta de alteração da bandeira e uma tentativa de "difamação" do presidente Jair Bolsonaro, mas se trata somente de uma crítica da autora ao governo apresentada em um evento cultural.

A exposição na Avenida Paulista é organizada desde 2015, a céu aberto, com painéis suspensos sobre a ciclovia e abordando diferentes temas. Além de Criola, apelido da grafiteira e ativista Tainá Lima, outra artista que teve o trabalho retratado este ano foi a ilustradora Claudia Liz.

A 7ª edição da mostra teve o apoio cultural da Prefeitura Municipal de São Paulo e foi patrocinada pelas empresas Edenred/Ticket, Carrefour, Via Varejo, Renner e Magazine Luiza, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério do Turismo. As empresas citadas não escolhem as obras exibidas; a curadoria é da jornalista e editora de moda Lilian Pacce.

De acordo com a UGT, o tema da exposição deste ano teve como meta reforçar a necessidade de se combater todas as formas de violência e discriminação contra as mulheres e a população negra e de alertar para a necessidade de uma agenda de políticas públicas voltada para a garantia dos direitos humanos.

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Não há nenhum registro que a artista, a organização do evento ou as empresas patrocinadoras apoiem alguma modificação na bandeira nacional com base na obra em questão. 

O símbolo nacional, que foi instituído em 1889, quatro dias depois da Proclamação da República, está descrito na Constituição Federal e teve a apresentação e o uso regulamentado pela Lei Nº. 5.700, de 1971. Qualquer alteração, portanto, passa necessariamente pelo Congresso. Países democráticos também costumam discutir essa questão a partir de plebiscitos, a exemplo da Nova Zelândia, em 2016.

Em resposta ao Estadão Verifica, a assessoria de imprensa do Magazine Luiza confirmou que foi uma das empresas que patrocinou a exposição, mas disse que "jamais vinculou sua marca ou seu patrocínio a uma obra específica". A empresa afirmou em nota que a sua política interna "impede o uso da marca em qualquer tipo de manifestação política, ideológica ou partidária".

A reportagem também procurou a vereadora Sandra Santana (PSDB-SP), que também é criticada no vídeo por aparecer como "apoio cultural" no mesmo painel. Ela disse que apoiou o evento porque este "retrata a violência contra a mulher e outras agressões que precisam acabar" e que não houve nenhum pedido de mudanças de cor na bandeira. "A vereadora lamenta a disseminação desta fake news, que incita a polarização política e não contribui para a união da sociedade", comunicou em nota.

Vídeo também desinforma sobre economia brasileira

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O autor do vídeo faz outras três afirmações falsas ou enganosas para elogiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e criticar o governador paulista, João Doria (PSDB). Ele diz que o Produto Interno Bruto (PIB) do País teria crescido 5% e que o dólar estaria em queda, ao mesmo tempo que "mais de 15 milhões" de bares e restaurantes fecharam na pandemia por conta das restrições impostas pelo Estado. 

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Em relação ao PIB, o dado mais recente do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) aponta que a economia brasileira cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021 em relação ao quarto trimestre de 2020 -- e 1% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Em 12 meses, o PIB acumula queda de 3,8%.

Na realidade, o número alegado na gravação se aproxima de projeções para o final do ano e que, portanto, ainda não se concretizaram. Economistas acreditam em uma alta de 5,18% para o indicador em 2021, segundo relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, por exemplo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também fala em crescimento de até 5,5%.

Essa perspectiva é apoiada principalmente pela alta no preço das commodities (produtos básicos, como alimentos, minério de ferro), exportados, em grande parte, pelo Brasil, e pelo avanço da vacinação contra a covid-19, que favorece a retomada econômica no mercado interno. Além disso, a base de comparação ajuda: o Brasil teve queda de 4,1% do PIB em 2020.

Quanto ao dólar, a moeda norte-americana operava a R$ 5,26 nesta quarta-feira, 7 de julho. A cotação realmente já esteve mais alta neste ano -- o pico foi de R$ 5,79, em 9 de março -- mas a taxa de câmbio permanece acima da média de 2020 (R$ 5,15, de acordo com o Ipeadata) e longe do patamar pré-pandemia, quando chegou a valer R$ 4,02 na primeira sessão do ano.

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Já a terceira alegação, de que "15 milhões" de bares e restaurantes teriam sido fechados na pandemia, é completamente fora da realidade. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), existem cerca de 1 milhão de estabelecimentos do tipo em todo o Brasil.

A regional paulista da entidade divulgou um levantamento, em abril, apontando que cerca de 12 mil negócios deixaram de existir na capital e 50 mil no Estado. O governo, no entanto, rebateu dizendo que o número de baixas na junta comercial foi de 2.971 na capital e 9.676 em toda São Paulo. A mesma representação de comerciantes estima que 335 mil bares e restaurantes fecharam as portas em todo o País desde o início da pandemia.

O conteúdo checado teve mais de 200 mil compartilhamentos no Facebook desde o final de junho.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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