O que estão compartilhando: que Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro, teria provas do envolvimento de partidos de esquerda e do presidente Lula no atentado a faca contra seu cliente, em 2018.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Um vídeo viral recupera entrevista antiga de Wassef na qual ele faz acusações infundadas. A Polícia Federal já concluiu que Adélio Bispo agiu sozinho por inconformismo político e descartou o envolvimento de siglas partidárias. Além disso, Wassef não citou o nome do presidente Lula na ocasião, diferentemente do que diz o post analisado.
À reportagem, a Defensoria Pública da União (DPU), que presta assistência jurídica a Adélio Bispo desde junho de 2019, informou não conhecer nova investigação aberta sobre o assunto ou qualquer novidade sobre o caso.
Saiba mais: a data 18/09/2023 e a expressão “explodiu a bomba”, acrescentadas à postagem, passam a impressão de que seria uma uma notícia atual. Entretanto, o vídeo é de novembro de 2021. Wassef concedeu entrevista a jornalistas informando que as investigações da facada em Bolsonaro seriam reabertas. Na ocasião, ele declarou ter provas de que a esquerda brasileira encomendou a morte do ex-presidente, mas não citou que Lula poderia ser condenado ou que o PT mandou matar Bolsonaro. Trechos da entrevista foram publicados por veículos como Poder 360, Correio Braziliense e Metrópoles.
Antes disso, contudo, o advogado citou o partido em outra entrevista, concedida em 2020 ao programa Aqui na Band. Na ocasião, ele disse que uma testemunha o procurou afirmando que “quem está por trás disso foi o PT, isso foi encomendado, houve pagamento, super organização e premeditação para assassinar Jair Messias Bolsonaro”. O canal do programa no YouTube não está mais disponível, mas o vídeo ainda circula em perfis nas redes sociais. Esse conteúdo não consta na peça desinformativa.
Naquele momento, as alegações tiveram repercussão em outros veículos e o PT processou o advogado por lançar acusações falsas contra a legenda. Em consulta ao processo, junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, a reportagem identificou que ele está classificado como extinto. A última movimentação ocorreu em fevereiro de 2021, quando um oficial de justiça informou não ter localizado Wassef para entregar o mandado que o citaria sobre a ação. Meses depois, o jornal O Globo noticiou que o advogado continuava sem explicar as acusações que fez contra o PT.
A Polícia Federal abriu dois inquéritos para investigar o caso. O primeiro, finalizado ainda em 2018, concluiu que Adélio Bispo, autor da facada, atuou sozinho e motivado por “inconformismo político”. O segundo, concluído em 2022, chegou ao mesmo resultado, descartando a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou paramilitares. Bispo foi considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelo crime por sofrer distúrbios psicológicos. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Facada: o que se sabe até agora
Adélio cumpre medida de segurança por tempo indeterminado após ter sido considerado inimputável. As duas investigações feitas pela Polícia Federal, uma em 2018 e outra em 2022, descartaram a participação de outras pessoas no crime.
No vídeo utilizado na postagem aqui verificada, Wassef questiona quem pagou pelos advogados que atuaram em defesa de Bispo ao longo do processo, o que nunca foi esclarecido.
Conforme o delegado Rodrigo Morais, que assina o relatório da segunda investigação, a única lacuna que restou foi quanto à “dúvida razoável acerca do real interesse dos advogados” do acusado.
A Polícia Federal chegou a fazer buscas no escritório do advogado Zanone Júnior para tentar identificar se alguém pagou pelos honorários dele ou se ele assumiu a defesa pela visibilidade do caso. Contudo, à época, uma decisão liminar de um desembargador do 1º Tribunal Regional Federal (TRF-1) impediu a análise do material coletado.
Em novembro de 2021, a Segunda Seção do TRF-1, em Brasília, derrubou a decisão liminar, permitindo que a investigação fosse reaberta. Em abril deste ano, a apuração teria identificado operações financeiras de uma empresa em nome de um dos advogados que atuaram no caso com o crime organizado. Desde então, não houve atualização do caso.
A reportagem tentou conversar com o advogado Frederick Wassef e com a usuária do Facebook que postou a falsa alegação, mas não houve resposta.
As circunstâncias da facada em Jair Bolsonaro frequentemente são alvo de desinformações disseminadas tanto por apoiadores da direita quanto da esquerda. Neste semestre, por exemplo, o Verifica já demonstrou que a ausência de sangramento externo não comprova que o ataque ao presidente foi armado e que Adélio Bispo não prestou novo depoimento recentemente.
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