O que estão compartilhando: que um estudo da Universidade de Purdue provou que o chá da folha de graviola é 10.000 vezes mais eficaz do que a quimioterapia.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. A pesquisa em questão foi publicada em 1996. Os resultados foram obtidos em laboratório e não foram reproduzidos em humanos. Especialistas alertam que não existem receitas milagrosas contra o câncer.
Saiba mais: O trabalho apontou que um composto da graviola, cis-annonacin, inibiu a proliferação de células de câncer de colón alcançando um efeito 10.000 vezes mais potente do que a doxorrubicina — medicamento usado no tratamento oncológico. Porém, o estudo foi realizado a partir de amostras in vitro, ou seja, fora de um organismo vivo, em laboratório. O mesmo resultado não foi testado em pacientes de câncer.
Em nota, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) afirma que o estudo, lançado há quase 30 anos, não poderia ser usado em um debate científico. “A publicação é da década de 90, portanto com quase 30 anos, e não apresentou evidências desde então”, informa. “É importante reafirmar que não há alimentos milagrosos contra o câncer”, acrescenta o Instituto.
A nutróloga Marcella Garcez, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), reitera que não existem provas suficientes da eficiência da graviola contra o câncer. Marcella, que também é professora e responsável pelo Departamento de Fitoterápicos e Nutracêuticos da Abran, explica que a graviola é uma fruta com propriedades antioxidantes, mas que não pode ser um substituto para o tratamento convencional contra o câncer.
“Esse tipo de vídeo viral é algo totalmente irresponsável. Aquela pessoa que tem aquela dor, que acabou de receber um diagnóstico de um câncer e tem indicação de fazer um tratamento quimioterápico, às vezes ela perde a oportunidade da cura de uma doença, que ainda estaria num estágio de cura, porque foi atrás dessas dessas possibilidades terapêuticas milagrosas”, lamenta.
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Se existem estudos, por que não pode ser usado como medicamento?
As pesquisas realizadas até o momento sobre as possíveis ações da graviola contra o câncer não foram acompanhadas ou aprovadas pela Federal Drug Administration (FDA), a agência reguladora de alimentos e fármacos dos Estados Unidos, tampouco pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA). É o que aponta um artigo publicado em 2022 na revista científica Cancers.
Marcella Garcez acrescenta que as pesquisas ainda não apresentaram resultados concretos em pacientes de câncer. A especialista destaca que os estudos são observacionais, um tipo de análise com metodologia menos rigorosa e evidências menos confiáveis que os ensaios clínicos, em que são feitos testes com humanos. “O único jeito de lançar no mercado como medicamento fitoterápico é ter estudo clínico com humanos”, diz.
O uso de chás sem recomendação médica pode atrapalhar o tratamento convencional e causar danos à saúde do paciente, segundo a nutróloga. “A pessoa que eventualmente toma um chá de graviola, seja por caráter preventivo ou até mesmo terapêutico, deve consultar o seu médico de confiança para tomar. E nunca, jamais, substituir um tratamento convencional para uma doença neoplasia (que provoca o crescimento de tumores). Hoje em dia cada vez mais o tratamento (quimioterápico) está mais assertivo, mais efetivo”, avalia Marcella.
O Inca aponta que os principais tratamentos oncológicos são a quimioterapia, radioterapia, cirurgia e transplante de medula óssea.
Como lidar com postagens assim: Não compartilhe receitas que prometem cura milagrosa de doenças. A graviola é constantemente apontada como uma receita contra o câncer. O Estadão Verifica já mostrou, por exemplo, que é falso que o chá da casca da árvore da graviola trate e cure câncer. Em 2018, o Inca publicou uma cartilha alertando sobre o mito de dietas e alimentos milagrosos durante o tratamento da doença. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) também possui um guia para prevenção e controle do câncer no País.
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