Circulam nas redes sociais e no WhatsApp trechos de um artigo escrito pelo ex-vice-presidente da farmacêutica Pfizer Michael Yeadon. No texto, ele faz alegações falsas, como a que "não há necessidade de vacinas" e que "a pandemia efetivamente acabou". Um especialista consultado pelo Estadão Verifica e dados divulgados por organizações de saúde de todo o mundo mostram o contrário.
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O artigo de Yeadon foi publicado no site Lockdown Sceptics no dia 16 de outubro. Além das alegações falsas sobre a pandemia, o cientista também fez críticas ao Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) no trabalho de combate à covid-19.
O Verifica entrou em contato com Yeadon por meio de suas redes sociais, mas não teve retorno até o momento da publicação desta checagem. A Pfizer disse que não vai se pronunciar sobre o assunto. Veja nossa verificação sobre as falas de Yeadon:
Vacinas são necessárias no enfrentamento da covid-19
O histórico de enfrentamento a doenças infecciosas no Brasil mostra que a vacinação é uma forte aliada para eliminar ou controlar patologias. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde divulgou um relatório que apresenta avanços na "erradicação do sarampo, eliminação do tétano neonatal e no controle de outras doenças imunopreveníveis, como difteria, coqueluche e tétano acidental, hepatite B, meningites, febre amarela, formas graves da tuberculose, rubéola e caxumba, bem como, a manutenção da erradicação da poliomielite".
A OMS e o Instituto de Tecnologia em Imunobiologia Bio-Manguinhos da Fiocruz também defendem que o uso de vacinas é o método mais eficaz no combate à doenças infectocontagiosas. Em 2013, o instituto divulgou um artigo sobre a importância da vacinação, no qual considera que o método é o mais barato para o controle da saúde pública, diferente do custo-benefício dos medicamentos.
"A vacinação mudou a história da saúde pública mundial", disse o médico infectologista Leandro Curi, da comissão de covid-19 da Secretaria Municipal de Ibirité, em Minas Gerais. "No Brasil, por exemplo, não tem mais paralisia infantil [poliomielite]. A vacina aumenta a expectativa de vida, por isso é importante investir em pesquisas no cenário que estamos enfrentando, onde a taxa de mortalidade da covid só cresce".
Atualmente, o País recebe quatro testes de vacinas. Entre elas, a CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech; a Ad26.Cov2.S, do laboratório belga Janssen; a ChAdOx-1, desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca; e um imunizante da Pfizer com o laboratório alemão Biotech.
Pandemia não acabou
O Brasil contabiliza atualmente uma média móvel diária de 533 mortes pela covid-19, o que mostra que, diferentemente do que afirma o ex-vice-presidente da Pfizer, a pandemia continua. Foram registrados 669 novos óbitos e 48.107 casos nesta quarta-feira, 3, de acordo com dados divulgados pelas secretarias estaduais da Saúde.
O dado global de casos de covid-19 se aproxima de 65 milhões. O Brasil se encontra na 10ª posição do ranking mundial. O médico infectologista Leandro Curi acredita que o País está distante de sair do quadro emergencial da doença.
"Não temos segunda onda [termo usado para se referir a aumento de novos casos após redução nas estatísticas], porque não tivemos a capacidade de sair da primeira", disse Curi. "Foi diferente dos picos de muitos países europeus. O Brasil se manteve em números altos de transmissão e agora está aumentando ainda mais".
O especialista também considera que o fato de muitos brasileiros não cumprirem normas de distanciamento social deixa o País ainda mais distante de uma redução no número de mortes e novos casos da doença.
A agências de checagem Lupa e Boatos.org também apuraram a informação que circula nas redes sociais.
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