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Explosão de bateria de lítio registrada em vídeo viral não foi causada por elevador

Postagens alegam que incidente ocorreu por estar dentro do transporte, mas não há relação; conteúdos alarmistas levantam suspeitas sobre a segurança de veículos elétricos

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O que estão compartilhando: vídeo que mostra a explosão de uma bateria de lítio dentro de um elevador. Postagens virais alegam que, quando o elevador fecha, a carga elétrica da bateria de lítio transforma o transporte numa “bateria magnética”, o que teria acarretado a explosão. Os posts também levantam dúvidas sobre a segurança das baterias.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo é real e o caso aconteceu na China. Informações da imprensa chinesa explicam que a bateria estava quente e o homem transportava o material para a área externa para resfriar. Ao contrário do que afirmam postagens virais, a explosão nada tem a ver com o fato de a bateria de lítio estar dentro de um elevador. Uma especialista consultada pelo Verifica explicou que as baterias de lítio inflamam quando sua composição química interna entra em contato com o ar, ou seja, quando seu encapsulamento externo rompe. Esse rompimento pode ocorrer por diversos motivos, como a alta temperatura das células da bateria.

Explosão de bateria de lítio registrada em vídeo viral não foi causada por elevador Foto: Reprodução/Facebook

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Saiba mais: um vídeo que mostra a explosão de uma bateria de lítio dentro de um elevador viralizou nas redes sociais. Na gravação, é possível ver um homem carregando a bateria, que pega fogo e explode segundos depois de entrar no elevador.

A filmagem é real e, apesar de ter viralizado recentemente, foi registrada na China em 2021. A imprensa local afirmou que o homem havia percebido que a bateria do carro estava aquecida anormalmente. Por este motivo, ele decidiu levar a bateria para o lado de fora para resfriá-la. O homem sofreu queimaduras em várias partes do corpo e lesões graves. Ele faleceu 26 dias após a explosão por um infarto agudo do miocárdio.

Diferentes postagens nas redes sociais atribuem a explosão ao fato de a bateria estar dentro de um elevador. “Quando o elevador fecha, a carga elétrica da bateria transforma todo o elevador numa bateria magnética”, diz uma das legendas. No entanto, o incidente não tem relação com o meio de transporte.

De acordo com Cynthia Thamires da Silva, doutora em Gerenciamento Eletrônico de Baterias pela Universidade de São Paulo (USP) e cofundadora da empresa de baterias de lítio inteligentes HION Tecnologia, as baterias de lítio inflamam quando sua composição química interna entra em contato com o ar, ou seja, quando seu encapsulamento externo rompe. Esse rompimento pode ocorrer por diversos motivos, como alta temperatura, sobrecarga, sobretensão ou sobrecorrente.

“Diretamente, o elevador não possui interferência no funcionamento da bateria de lítio”, explicou. “Essa falha da bateria poderia ocorrer em qualquer lugar e coincidentemente ocorreu no momento em que a porta do elevador fechou. A maior probabilidade é que a bateria possuía alguma falha que não foi devidamente tratada pelo sistema de gerenciamento, o encapsulamento externo se rompeu, o elemento químico da bateria entrou em contato com o ar e inflamou”.

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Conteúdos levantam suspeitas sobre veículos elétricos

As baterias de lítio têm diversas aplicações, como o uso em smartphones, notebooks e veículos elétricos ou híbridos. Dessa forma, o vídeo viral desencadeou uma série de comentários que levantam suspeitas e dúvidas sobre a segurança desses equipamentos. “Essas baterias são a coisa mais perigosa que o ser humano já fez”, afirmou um usuário. “Esse carros elétricos serão a 3ª guerra mundial”, disse outro.

Em nota ao Verifica, no entanto, a Associação Brasileira de Baterias Automotivas e Industriais (Abrabat) garantiu a segurança das baterias de lítio. A entidade reforça que, atualmente, o monitoramento de temperatura e de impactos de agentes externos é feito em tempo real por meio de uma central de inteligência inserida em cada bateria. Trata-se do Battery Management System, ou BMS. A Abrabat ressalta que os casos de incidentes envolvendo baterias de lítio são isolados e precisam de uma avaliação individual quanto às condições de uso e externalidades.

Cynthia também afirma que as baterias de lítio de aplicações automotivas são seguras, pois passam por diversos ensaios que a própria indústria demanda. A especialista indica que, para que ocorra a inflamação de uma bateria de lítio, deve haver um impacto ou falha muito grande, da mesma forma que também pode ocorrer com veículos à combustão. “Pode acontecer, mas é raro e os componentes são feitos com critérios altos de segurança”, afirmou.

Para evitar acidentes, a Abrabat destaca que é importante monitorar com atenção os indicadores da bateria, especialmente a temperatura, e proteger o equipamento de colisões frequentes. A entidade recomenda que usuários fiquem atentos ao armazenamento adequado, assim como o carregamento correto, com carregadores certificados e destinados para cada sistema específico.

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A associação aconselha que sobrecargas ou descargas profundas sejam evitadas. Também é indicado que as baterias de lítio sejam utilizadas exclusivamente para a finalidade a que se destinam, sem adaptações que contrariem as orientações dos fabricantes.

Além disso, Cynthia recomenda averiguar as normas de segurança que as baterias atendem com os fabricantes. Dessa forma, é possível garantir que a bateria é de boa qualidade e possui um sistema de gerenciamento eletrônico bom o suficiente para garantir a proteção do sistema.

Como lidar com postagens do tipo: em casos de acidente, é importante entender quais são as informações apuradas até o momento. Neste caso, alegações não confirmadas ou falsas podem atrapalhar a conscientização e a prevenção de acidentes. Pesquise detalhes em fontes confiáveis e seguras.

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Leitores solicitaram checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, número (11) 97683-7490.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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