Vídeo de vandalismo no Reino Unido mostra ingleses de extrema direita, e não ‘extremistas islâmicos’

Protestos violentos ocorrem após o assassinato de três crianças e são promovidos por desinformação sobre a nacionalidade do autor do crime

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Por Flavio Lobo
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo que mostra um protesto de rua noturno com atos de violência. Um grupo de pessoas lança fogos de artifício. Legenda sobreposta às imagens diz: “Conflito entre extremistas islâmicos e civis do Reino Unido!”

O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. O vídeo mostra um confronto entre manifestantes de extrema direita e a polícia no condado de Merseyside, na região de Liverpool, em 3 de agosto. Na data, a cidade registrou confrontos entre manifestantes contra e a favor da imigração no período da tarde. Durante a noite, há relatos somente de confronto entre o grupo contrário aos imigrantes e as forças policiais.

Gravação de protesto violento foi tirado de seu contexto original nas redes sociais. Foto: Reprodução de redes sociais

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Saiba mais: o Estadão Verifica constatou que o vídeo checado mostra cenas do protesto acontecido na County Road, situada no bairro de Walton, Liverpool, na noite do dia 3. Para isso, a reportagem leu notícias sobre os protestos, fez uma busca reversa de imagens (veja aqui como fazer) e analisou elementos visuais do vídeo. Também usou a ferramenta Google Street View, do Google Maps.

Vídeos do protesto, alguns com versões mais longas, foram publicados nas redes sociais. A comparação visual dessas postagens e de fotos e vídeos publicados pela imprensa com o vídeo checado permitem concluir que ele foi gravado na rua County Road.

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Ao analisar o vídeo, o Estadão Verifica identificou uma loja da rede de fast food KFC. Com o auxílio da ferramenta Google Street View, localizamos o restaurante naquela rua.

Comparação de frame do vídeo checado (esq.) e do Google Street View (dir.) mostra que há elementos visuais comuns em ambos; gravação foi feita na County Road, em Liverpool. Foto: Reprodução de vídeo/Twitter | Reprodução/Google Street View

Também foi possível identificar a fachada de três prédios e um final luminoso afixado em um poste. Novamente utilizando o Google Street View, localizamos esses elementos na mesma rua.

Comparação de frame do vídeo checado (esq.) e do Google Street View (dir.) mostra que há elementos visuais comuns em ambos; gravação foi feita na County Road, em Liverpool. Foto: Reprodução de vídeo/Twitter | Reprodução/Google Street View

Vandalismo foi conduzido pela extrema direita

Em nota (leia aqui, em inglês), a polícia de Merseyside disse que aproximadamente 300 pessoas envolveram-se em “desordem violenta” e houve nove prisões nas imediações da County Road, na noite de 3 de agosto. A tarde daquele dia registrou confronto entre manifestantes pró e contra a imigração. Mas a imprensa britânica informou que o protesto à noite foi formado exclusivamente pro grupos de extrema direita que responderam a uma convocação nas redes sociais para a realização de atos de vandalismo (leia em Liverpool Echo, BBC).

Eles queimaram uma biblioteca local, destruíram o comércio e atearam fogo a lixeiras. Também houve tentativa de impedir o trabalho dos bombeiros e confronto com os policiais. Os presos já estão sendo ouvidos em julgamento.

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Protestos foram impulsionados por desinformação

A onda de protestos violentos anti-imigração no Reino Unido começou depois de um ataque a faca que matou três crianças, em 29 de julho. Boatos falsos publicados nas redes sociais diziam que o autor do crime era um imigrante ilegal muçulmano que estaria buscando asilo. A primeira página a publicar a informação falsa sobre a nacionalidade do adolescente voltou atrás e pediu desculpas.

O suspeito preso é Axel Rudakubana, adolescente de 17 anos que nasceu em Cardiff, no País de Gales, pertencente ao Reino Unido. Ele foi formalmente acusado por três assassinatos, dez tentativas de assassinato e por porte de arma branca. Sua religião não foi revelada.

Como o incentivo da desinformação online, os protestos violentos contra imigrantes e muçulmanos incluíram ataques a mesquitas, hotéis e outros locais que hospedam pessoas que buscam asilo no país. Centenas de pessoas foram presas e a justiça britânica já sentenciou algumas à prisão.

Representantes do governo britânico cobraram mais ação das plataformas de redes sociais para combater a desinformação sobre o caso.

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Vídeo foi postado por deputada

O vídeo checado com a legenda enganosa foi publicado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Contatada pelo Estadão Verifica, a assessoria respondeu que a deputada não tem “compromisso com o erro” e que “após análise mais apurada, resolveu deletar o vídeo tendo em vista que as informações referentes aos atos ainda são preliminares, com informações contraditórias entre os veículos de informações, e necessitam de apuração mais detida”.

A postagem foi retirada das páginas da parlamentar, mas foi republicada por outras pessoas e continua circulando nas redes.

Na mesma resposta ao Estadão Verifica, a assessoria de Zambelli diz que “a imprensa também erra ao rotular os atos como sendo da ‘extrema direita’, sendo que é nítido que há uma clara revolta espontânea da sociedade”.

A cobertura dos principais jornais britânicos e da imprensa internacional informa que há amplo consenso de que a onda de protestos violentos é marcada por islamofobia e pelo protagonismo de grupos de extrema direita. Ativistas são acusados de promover os protestos disseminando notícias falsas e teorias conspiratórias.

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Na quarta-feira, 7, milhares de pessoas reuniram-se em manifestações anti-racistas em locais atacados pelos protestos extremistas, em várias cidades do Reino Unido.

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