Não há provas de que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tenha assaltado um banco durante a ditadura militar. Postagens no Instagram tiram de contexto uma foto de Dilma tirada durante interrogatório no qual ela era acusada de “subversão”. A ex-presidente sempre negou participação em atos violentos e não há comprovação de que ela tenha se envolvido em assaltos em documentos do Superior Tribunal Militar (STM) tornados públicos em 2010.
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O conteúdo apresenta uma montagem com duas fotos da ex-presidente. Uma é antiga, registrada em 1970, quando ela era interrogada na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro. Como explicou o Estadão Verifica, ela foi presa durante a onda de repressão a organizações de esquerda promovida pela Operação Bandeirante (Oban), na ditadura militar, e acusada de “subversão”. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Adir Mera e publicada originalmente no extinto jornal Última Hora, em 11 de novembro de 1970.
A outra foto na postagem é recente, feita em 2023, durante a diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin em cerimônia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Acima da montagem, há a legenda “De assaltante de banco a presidente de banco. Nunca desista dos seus sonhos”. A frase satiriza o fato de Dilma ter sido oficializada, no último dia 24, presidente do New Development Bank (NDB), banco dos países que integram os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Parte da afirmação, contudo, não é verdadeira. Em 2020, o Estadão Verifica demonstrou que não havia provas de que a ex-presidente tenha participado de ações violentas durante a ditadura militar. Em 1967, Dilma entrou no grupo de esquerda Organização Revolucionária Marxista - Política Operária (Polop) de Minas Gerais. Depois, integrou duas organizações de luta armada contra o regime: o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
À reportagem, a assessoria de imprensa dela afirmou serem inverídicos os boatos relacionados a assaltos a bancos ou outros crimes atribuídos à ex-presidente quando era militante contra a ditadura militar. “Os processos que resultaram em sua condenação jamais apontaram seu envolvimento nesse tipo de ação”, afirmou, em nota.
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Boatos que acusam Dilma de participação em assaltos circulam na internet desde 2016. São citados dois atos específicos em São Paulo, em 1968, em agências do Banespa e do Banco Mercantil. O Estadão Verifica, no entanto, demonstrou que Dilma nunca foi apontada como integrante dos grupos envolvidos nesses dois assaltos. Além disso, os arquivos da ditadura indicam que a ex-presidente mudou para a Capital paulista apenas em outubro de 1969, no ano seguinte às ocorrências.
Em checagem publicada em 2020, o Estadão Verifica mostrou que nos documentos do STM nenhum dos casos é sequer citado por Dilma Rousseff em depoimento sob tortura prestado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 1970.
A ação da Justiça Militar acusou Dilma de ter chefiado greves e assessorado assaltos a banco, mas sem citar quais foram eles ou comprovar vinculação direta. De acordo com o relatório, a ex-presidente afirmou que sabia de assaltos a banco, mas negou qualquer participação. Ao final, Dilma foi condenada por subversão a quatro anos de reclusão e suspensão dos direitos políticos por dez anos.
Outra vez que o nome dela esteve associado a assaltos a banco foi em um telegrama da Embaixada dos Estados Unidos de 2005, revelado pelo Wikileaks. À época, entretanto, o embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Thomas Shannon, negou ao jornal Folha de S.Paulo que o governo norte-americano tivesse informações que confirmassem essas alegações.