O que estão compartilhando: que o filho de Rita Lee, o músico Beto Lee, afirmou que sua mãe faleceu de um câncer causado pela vacina contra a covid-19.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Beto Lee não disse que o imunizante causou a doença da mãe. Em entrevista, ele conta que o câncer de Rita foi detectado durante a pandemia de covid-19: “Por conta de uma reação da vacina que [o tumor] foi descoberto”. O câncer no pulmão da artista foi detectado durante exames de rotina após uma crise respiratória. Em nota, Beto afirmou que os conteúdos que deturpam a entrevista são “mentirosos e odiosos” e “uma completa distorção”.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC) esclarecem que não há evidências científicas de que as vacinas causem câncer. Pacientes oncológicos são prioridade em campanhas de vacinação, a fim de evitar complicações graves no sistema imunológico durante o tratamento.
Saiba mais: Postagens nas redes sociais usam um pequeno trecho da entrevista de Beto Lee no programa The Noite com Danilo Gentili para associar falsamente a vacina da covid-19 ao falecimento de Rita Lee, que morreu em decorrência de um câncer no pulmão.
Uma das maiores artistas da música brasileira, Rita Lee faleceu no dia 8 de maio deste ano. Desde 2021, ela lutava contra um câncer de pulmão, descoberto durante exames de rotina no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo: “Foi uma sorte, disseram, eu ter tido reação à vacina, já que, do contrário, não teria ido ao hospital e nem descoberto o câncer rapidamente”, escreveu a cantora no livro Rita Lee: Outra autobiografia.
A ida ao hospital ocorreu para tratar os efeitos colaterais, mas os exames de rotina feitos pelos médicos encontraram uma “massa” no pulmão, que mais tarde confirmou ser câncer maligno. No livro que iniciou antes mesmo de saber do diagnóstico, Rita conta os detalhes sobre os dias de tratamento contra a doença ao lado do marido Roberto de Carvalho.
Em abril de 2021, Rita Lee havia publicado fotos recebendo a segunda dose contra a covid-19 com a legenda: “Xô, Corona. Xô, negacionistas”. O marido também se imunizou contra o vírus e Rita escreveu “Meu gato vacinado”. Após sua morte, usuários utilizaram a foto para alavancar discursos falsos e antivacinação.
Câncer e covid-19
Como informa o Inca, não há evidências científicas de que as vacinas do calendário brasileiro, incluindo o imunizante contra a covid-19, causem câncer. “Não houve registro de aumento de casos oncológicos durante ou pós-covid associado à infecção por SARS-CoV-2 (vírus que provoca a doença), ou mesmo pela vacina, demonstrada cientificamente”, disse o órgão do Ministério da Saúde.
A presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, ressalta que pacientes com câncer são prioritários nas vacinas por serem imunocomprometidos. “Não tem estatística nenhuma que houve mais câncer pós-vacinação, pelo contrário. Pessoas morreram mais de câncer porque tiveram menos acesso ao tratamento e ao diagnóstico durante a pandemia, devido à adaptação do sistema de saúde”, explica a médica.
Segundo a oncologista Maria Ignez Braghiroli, integrante da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC), “algumas vacinas têm, inclusive, o papel de proteger contra o câncer, como é o exemplo dos imunizantes contra o HPV e hepatite B”. A recomendação dos órgãos de saúde é que pacientes com câncer não recebam vacinas com agentes vivos ou atenuados, que não é o caso dos imunizantes contra a covid.
Câncer de Rita Lee é o quarto mais comum em mulheres
Conforme o Inca, segundo estimativas de 2023, o câncer de pulmão é o terceiro mais comum em homens e o quarto em mulheres. No País, a doença foi responsável por 28.618 mortes em 2020.
Rita Lee começou a ter sintomas, como crises respiratórias, no início de 2021, quando recebeu o diagnóstico. “Nossa Rita submeteu-se a um check-up no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Os exames apontaram um tumor primário no pulmão esquerdo. Ela já se encontra em casa e dará sequência aos tratamentos de imuno e radioterapia”, diz o texto publicado em maio daquele ano pela equipe da artista.
Depois de um ano na luta contra um câncer, em abril de 2022 a equipe de Rita disse que o tumor foi considerado eliminado e não havia apresentado sinais de retorno. A cantora entrou, então, na fase de remissão da doença, quando a pessoa não apresenta mais sintomas.
A afirmação de que alguém está curado do câncer, porém, é algo complexo na medicina. Especialistas preferem falar em remissão da doença, que ocorre quando o paciente não apresenta sintomas. Passa-se a falar em cura para pacientes com câncer de pulmão quando a remissão se estende por cinco anos.
Em fevereiro deste ano, a roqueira deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, com estado de saúde “extremamente delicado”. No início de março, ela recebeu alta. A informação foi publicada pelo marido dela, junto com a postagem, ele compartilhou o primeiro registro fotográfico de Rita Lee após a internação: “Home (em casa)”, legendou.
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