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É falso que telefilme de 2004 tenha ‘previsto’ nome e intensidade do furacão Milton

Postagem sugere que eventos desta magnitude podem ser planejados e executados por ação humana, o que também não é verdade

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O que estão compartilhando: que um filme chamado “Furacão de Categoria 6″, lançado em 2008, teria previsto o nome e os estragos provocados pelo furacão Milton, que atingiu o estado da Flórida, nos Estados Unidos, na semana passada. Postagem no Instagram questiona se essa conexão é “coincidência ou algo planejado”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O telefilme Category 6: Day of Destruction (Categoria 6: Dia da Destruição) não faz referência a um furacão nomeado Milton. A produção, apresentada em duas partes pela rede de TV norte-americana CBS nos dias 14 e 19 de novembro de 2004, não trata especificamente de um único ciclone, mas de uma série de eventos naturais extremos que fustigam diferentes regiões dos Estados Unidos. A trama converge para a cidade de Chicago, no estado de Illinois, que em meio a uma onda de intenso calor se vê subitamente ameaçada pelo cerco de três poderosos furacões, um deles formado sobre o lago Michigan. A alegação de que catástrofes climáticos dessa magnitude podem ser planejadas, criadas e manipuladas por ação humana abastece teorias conspiratórias sistematicamente desmentidas por cientistas e pela imprensa.

Filme de 2004 não mostra um furacão chamado Milton Foto: repro

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Saiba mais: Ciclones são fenômenos atmosféricos caracterizados por ventos que giram em alta velocidade. Quando se formam no mar, nas regiões mais próximas dos trópicos ocidentais, recebem a denominação de furacão. São chamados de tornados, menos intensos, quando a massa circular se impõe sobre o solo. Furacões e tornados são recorrentes nos Estados Unidos.

As imagens do impacto provocado pelo Milton, assim como o saldo da destruição, foram acompanhadas em tempo real em todo o mundo. Além dos recursos científicos que permitem a emissão de alertas antecipados, o grau de preparo das autoridades públicas e da população nas regiões mais propensas ao fenômeno ajudam a mitigar danos. Precedido por avisos que anunciavam uma grande e inédita catástrofe, o Milton provocou até o momento 14 mortes.

O filme citado na postagem faz referência a um furacão de categoria 6, classificação hoje inexistente. A escala Saffir-Simpson, usada para classificar a velocidade dos ventos de um ciclone, e consequentemente seu potencial destrutivo, vai de 1 a 5. Como noticiou o Estadão, o Milton variou sua intensidade de 4 a 5 em sua rota do oceano em direção à costa da Flórida. Ele chegou ao estado americano às 20h30 (21h30 no horário de Brasília) de quarta-feira, 9, tocando o solo de Siesta Key, perto da cidade de Sarasota. Apesar de ter assustado com rajadas próximas de 290km/h, já mostrava então a força de categoria 3, soprando a 205 km/h. Na madrugada de quinta-feira, 10, enfraqueceu para a categoria 1.

O que mostra o filme de 2004?

Com direção de Dick Lowry e elenco que traz em papeis secundários nomes como Dianne Wiest e Randy Quaid, Category 6 investe no espetáculo superlativo turbinado por efeitos especiais. Mostra na parte 1 e na parte 2, que totalizam quase três horas de duração, metrópoles como Las Vegas (Nevada), St. Louis (Missouri) e Chicago, completamente arrasadas pela fúria de ventos e tempestades, com milhares de vítimas varridas até mesmo de locais aparentemente seguros.

Category 6: Day of Destruction é um exemplar pouco conhecido do cinema-catástrofe de vertente climática. O telefilme é uma produção de segunda linha na vertente que já rendeu no cinema sucessos de bilheteria como Twister (1996) e sua recente releitura, Twisters (2024). O gênero tem grande apelo popular amplificando na tela temores reais diante da fúria da natureza. Furacões, maremotos, vulcões e terremotos, entre outros infortúnios, alimentam diferentes subgêneros.

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O telefilme embrulha a narrativa e seus diferentes núcleos de personagens com elementos folhetinescos. Tem drama familiar, alertas sobre aquecimento global e consciência ambiental, ganância corporativa que atropela protocolos de segurança e heroísmo voluntarioso. Tem ainda uma intrépida repórter de TV que faz “perguntas difíceis” para autoridades negligentes enquanto documenta o caos e ajuda a salvar vidas. Um outro fio enrola uma abordagem sobre segurança nacional e terrorismo, pois um ataque hacker interrompe o fornecimento de energia elétrica e outros serviços vitais de Chicago em meio à tragédia.

Ao encarar a força “nunca antes vista” dos furacões fictícios, um experiente meteorologista da trama comenta ser necessária a criação da categoria 6 para enquadrá-los. Esta sim é uma prospecção alinhada com a realidade. Diante da crise climática cada vez mais severa e de fenômenos naturais atípicos observados em todo o mundo em virtude do aquecimento global, pesquisadores defendem a criação do nível 6 para furacões. Porque os antes raros representantes da turma 5 estão aparecendo com maior frequência. Sem as amarras da verossimilhança, a ficção já foi além. O mesmo diretor Dick Lowry lançou em 2005 o sugestivo Category 7: The End of the World (”Categoria 7: O Fim do Mundo”).

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