O que estão compartilhando: postagem no X (antigo Twitter) diz ter havido intervenção da CIA e do presidente americano, Joe Biden, nas eleições brasileiras, e que o Financial Times teria afirmado que o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice presidente no governo Bolsonaro, era informante da agência de inteligência americana.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. Uma reportagem do Financial Times mostra a campanha de bastidores do governo Biden para pressionar autoridades brasileiras a respeitarem o resultado das urnas na eleição presidencial de 2022. O texto não afirma que Mourão era informante da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) ou que os EUA intervieram no resultado da votação.
Saiba mais: A postagem foi feita no dia 10 de abril. Ela reproduz trecho de uma reportagem televisiva com a seguinte chamada jornalística: “influência dos EUA para que eleições não fossem questionadas”. O texto da postagem tem duas frases: “A intervenção da CIA e Biden nas eleições brasileiras” e “Financial Times afirma que o mourão era informante da CIA”.
A mesma reportagem televisiva teve trecho compartilhado no YouTube em 23 de junho de 2023, dois dias depois da publicação pelo Financial Times da matéria intitulada: “The discreet US campaign to defend Brazil’s election” (A discreta campanha americana para defender as eleições brasileiras). A reportagem de TV reproduz o teor da matéria do Financial Times. O texto não afirma que Hamilton Mourão era informante da CIA e que houve intervenção dos EUA na eleição presidencial brasileira no sentido de interferência no resultado da votação.
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O que a matéria mostra é uma articulação de membros do governo Biden para pressionar políticos e militares brasileiros a respeitarem o resultado das eleições de 2022, já que havia, segundo a matéria, especulações de que Bolsonaro e seus aliados poderiam não aceitar a derrota eleitoral e promover, em resposta, um golpe de Estado.
Em relação a Mourão, a reportagem cita um episódio relatado por um ex-funcionário de alto escalão do Departamento de Estado, Tom Shannon, durante uma visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a Nova York, em julho de 2022, para um almoço com investidores. Shannon, que foi embaixador dos EUA no Brasil, cita uma conversa com Mourão em que o brasileiro teria dito que também estava preocupado com a possibilidade de um golpe de Estado.
Mourão, no entanto, negou ter havido a conversa. A reportagem do Financial Times ainda cita que Mourão foi uma das autoridades brasileiras próximas a Bolsonaro que ajudaram a transmitir a mensagem dos EUA sobre a necessidade de proteger a integridade das eleições.
A reportagem não afirma que Mourão seria “informante da CIA”, como alega a postagem. Da mesma forma, a matéria não mostra que o governo Biden influenciou no resultado das urnas. Essa alegação, que foi difundida nas redes sociais logo após a publicação do Financial Times, distorce a reportagem, como mostrou o Projeto Comprova.
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