Atualizado em 8/2/2023 para incluir posicionamento de Flávio Dino e do governo do Estado do Maranhão.
É falso que o ministro da Justiça, Flávio Dino (PCdoB), ex-governador do Maranhão, tenha mandado colocar fogo em ônibus escolares supostamente adquiridos pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A alegação circula nas redes sociais acompanhada de um vídeo que mostra, na realidade, um incêndio na cidade de Franco da Rocha, em São Paulo.
Segundo apurou o Estadão Verifica, um incêndio danificou oito micro-ônibus escolares da rede pública de ensino da cidade paulista, em 22 de dezembro. No entanto, não existe nenhuma relação entre o ocorrido e Flávio Dino, que governou o Maranhão entre 2015 e 2022 e foi eleito senador pelo mesmo Estado em outubro, antes de assumir o posto no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além disso, segundo a Prefeitura de Franco da Rocha, nenhum dos veículos foi adquirido com recursos federais liberados durante o mandato de Bolsonaro. Enquanto o ex-presidente assumiu o comando do Executivo em 2019, as compras mais recentes envolvendo recursos do Ministério da Educação ocorreram pelo menos cinco anos antes.
A origem do vídeo
O vídeo analisado pelo Estadão Verifica teve milhares de compartilhamentos no Kwai e no Facebook e também foi encaminhado por leitores pelo WhatsApp (11) 97683-7490. Ele mostra uma série de ônibus escolares enfileirados pegando fogo. Ao fundo, pode-se ouvir pessoas comentando sobre o estouro dos pneus.
A atribuição falsa a Flávio Dino é feita nas legendas que foram colocadas sobre a gravação. “Fogo em todos os ônibus escolares que o Bolsonaro comprou e o Dino não entregou. Como vazou, eles decidiram colocar fogo. As crianças e seu dinheiro que se danem. Essa é a esquerda!”, alega o boato.
O blog fez uma captura de tela do vídeo e realizou uma busca reversa de imagens no Google. Assim, chegou a uma notícia do site G1 que traz uma foto semelhante do episódio e descobriu que o incêndio ocorreu no município paulista de Franco da Rocha, em 22 de dezembro de 2022.
A partir dessas informações, o Estadão chegou a uma reportagem veiculada pelo SP1, da TV Globo, no dia seguinte, que mostra o mesmo vídeo que circula agora nas redes sociais. A autoria não é informada.
Relato sobre o incêndio
A reportagem do SP1 esclarece que os ônibus estavam estacionados em um terreno que antes abrigava o Complexo Hospitalar do Juquery, uma instituição psiquiátrica do Estado desativada em abril de 2021. Depois que as atividades foram encerradas, as áreas foram cedidas pelo governo estadual para a prefeitura da cidade, que montou um centro de vivência onde os alunos da rede pública fazem atividades no contraturno escolar.
Em 22 de dezembro, perto das 18h, passageiros da Linha-7 Rubi da CPTM alertaram o Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal Metropolitana sobre um foco de incêndio no terreno, que fica ao lado de uma estação do trem. A frota era composta por nove veículos. Destes, oito ficaram completamente destruídos.
Na época, a Polícia Civil relatou que trabalhava com a hipótese de o incêndio ter sido criminoso e que analisava imagens de câmeras de segurança para identificar suspeitos que teriam invadido o local. A secretária municipal de educação, Renata Celeguim, declarou ao G1 que todos os ônibus tinham seguro e que a prefeitura trabalharia pela recuperação da frota antes da volta das aulas, em 1º de fevereiro. Segundo ela, os veículos são responsáveis pelo transporte de 2.200 crianças diariamente, de uma rede composta por cerca de 17 mil alunos.
O Estadão Verifica questionou a prefeitura, em um segundo momento, sobre a situação atual do transporte no município e ainda aguarda retorno.
Prefeitura nega o boato
A Prefeitura de Franco da Rocha confirmou ao blog que as imagens mostram o incêndio de ônibus escolares em dezembro passado, mas desmentiu o boato de que os veículos teriam sido queimados a mando do chefe atual do Ministério da Justiça do governo de Lula. “A frota de ônibus escolares do município não tem relação com o ministro Flávio Dino”, declarou a prefeitura, em nota. “A perícia constatou que o incêndio foi criminoso, no entanto, as investigações ainda estão em andamento.”
A gestão do município paulista também negou que os ônibus escolares tenham sido adquiridos por meio de recursos federais liberados durante o mandato de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022. Dois veículos eram novos e não tinham sido emplacados, mas foram comprados com recursos próprios. Os demais teriam sido adquiridos entre os anos de 2009 e 2015, com verba do município ou por doações do governo do Estado e do Ministério da Educação, através do programa Caminhos da Escola, que repassa recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O que dizem os citados
O vídeo que viralizou com a legenda falsa é atribuído a uma conta do Kwai identificada por “Nordestina Conservadora” ao lado de um emoji de bandeira do Brasil. O Estadão Verifica não encontrou o conteúdo na conta da usuária, o que indica que este foi apagado depois de se espalhar pela internet. A conta costuma postar material de apoio a Bolsonaro e exaltou os atos golpistas que vandalizaram a sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro. O blog tentou contato por meio do chat no aplicativo, mas não teve resposta.
Flávio Dino, através da assessoria de comunicação do Ministério da Justiça, nega qualquer relação com o caso. A Secretaria de Educação do Maranhão informou que, entre os anos de 2019 a 2022, o Estado recebeu o total de R$ 6,6 milhões repassados pelo governo federal para a aquisição de ônibus escolares e que todos foram entregues a 30 municípios para o transporte de estudantes da rede pública de ensino.
O mesmo material foi desmentido por Boatos.org, Lupa, UOL Confere e AFP Checamos.
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