É de julho de 2022 a foto que mostra uma criança deitada no chão sobre uma bandeira do Brasil. A imagem circula fora de contexto no WhatsApp e no Facebook, com a alegação de que o registro teria sido feito no ginásio onde ficaram detidas temporariamente pessoas que participaram de atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Na realidade, a foto é da convenção do PL que lançou a candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro à reeleição.
Leitores pediram a checagem deste conteúdo por WhatsApp, (11) 97683-7490. No aplicativo de mensagens, um texto que acompanha a imagem diz que o registro seria o “símbolo da vergonha” de um “governo ditatorial de esquerda”. No Facebook, uma postagem afirma que a foto é do “campo de concentração” — termo usado por bolsonaristas para se referir ao local temporário de detenção na Academia da Polícia Federal. O uso da expressão é condenado pela Confederação Israelista do Brasil (Conib) (leia mais abaixo).
Usando a ferramenta de busca reversa de imagens (veja como usar aqui), percebemos que a foto foi publicada várias vezes por um usuário do Twitter no dia 25 de julho de 2022, sete meses antes dos atos terroristas em Brasília. No dia anterior, o PL havia promovido uma convenção no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, para lançar a candidatura de Bolsonaro à Presidência.
Na foto do menino deitado, é possível notar o chão azul e uma estrutura para passagem de fiação elétrica. O cenário é o mesmo da convenção partidária, como podemos conferir em fotos publicadas pela imprensa. No ginásio onde ficaram detidos golpistas que participaram do vandalismo em Brasília, o chão é cinzento.
Comparações com Holocausto são repudiadas por Conib
Cerca de 1,5 mil pessoas foram levadas provisoriamente à Academia Nacional da Polícia Federal, em razão do espaço necessário para os procedimentos de polícia judiciária. Nas redes sociais, detidos reclamaram de falta de comida e das condições de tratamento no local. A Procuradoria da República do Distrito Federal vistoriou o local e disse não ter encontrado irregularidades. Da mesma forma, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) esteve no ginásio e constatou que os detidos receberam duas refeições e tinham acesso a atendimento médico e legal.
Na terça-feira, 10, a Polícia Federal informou ter liberado 599 pessoas detidas, por “questões humanitárias”. Neste grupo, estavam “idosos, pessoas com problemas de saúde, em situação de rua e mães acompanhadas de crianças”. Outros 727 investigados permaneceram presos. Na quarta-feira, 11, este grupo foi levado ao presídio da Papuda. Lá, receberam um uniforme, kit higiene, um colchão e vacinas contra covid, quando necessário.
A detenção temporária na PF tem sido chamada nas redes sociais de “campo de concentração” por bolsonaristas. Em nota, a Conib condenou o uso do termo e “comparações completamente indevidas do momento atual com os trágicos episódios do nazismo que culminaram no extermínio de 6 milhões de judeus no Holocausto”.
“Essas comparações, muitas vezes com fins políticos, são um desrespeito à memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes”, comunicou a entidade, que representa a comunidade judaica brasileira. “A Conib inclusive criou uma campanha contra a banalização do Holocausto, para que possamos entender melhor as verdadeiras dimensões dos fatos e assim contribuir para um melhor entendimento do presente”.
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