É falso que a foto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em um tribunal tenha sido registrada durante julgamento por um assalto ao Banco Banespa em 1968. Como o Estadão Verifica já mostrou, Dilma nunca foi acusada de participação nesse crime. Na realidade, a imagem foi feita em 1970, após Rousseff ser presa durante a onda de repressão a organizações de esquerda promovida pela Operação Bandeirante (Oban), na ditadura militar.
Ela prestava depoimento na Auditoria Militar do Rio. Acusada de "subversão", Dilma foi condenada a quatro anos de reclusão e suspensão dos direitos políticos por dez anos. Ela foi solta no final de 1972.
O assalto à agência do Banespa na Rua Iguatemi, em São Paulo, ocorreu no dia 15 de outubro de 1968. Como mostrou a reportagem do Estadão da época, cinco assaltantes renderam os funcionários do banco e retiraram 200 mil cruzeiros novos do cofre. Não há registro que algum deles fosse mulher, e o caso nunca foi ligado a Dilma. Além disso, arquivos da ditadura militar consultados pelo Estadão Verifica em junho indicam que a ex-presidente só se mudou para São Paulo em outubro de 1969.
Dilma participou de duas organizações que fizeram luta armada contra o regime militar: o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), originado da fusão entre o Colina e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). A ex-presidente, no entanto, sempre negou a participação direta em ações violentas.
A fotografia de Dilma no tribunal foi reproduzida em reportagens com crédito ao fotógrafo Adir Mera. Uma matéria do jornal O Globo de 2011 mostra que o pesquisador Vladmir Sachetta encontrou três fotos de Dilma durante o depoimento na Auditoria Militar, em busca no Arquivo Público de São Paulo.
As imagens foram publicadas originalmente no extinto jornal Última Hora, em 11 de novembro de 1970. Depois de serem redescobertas por Sachetta, as fotos foram publicadas no livro A Vida quer é coragem, biografia de Dilma Rousseff escrita por Ricardo Amaral, ex-assessor da Casa Civil que atuou na campanha da petista à Presidência. O livro foi lançado em 2011.
A assessoria da ex-presidente confirmou que a imagem divulgada no Facebook é referente a um depoimento em Inquérito Policial Militar (IPM), na Auditoria Militar.
Essa publicação também foi checada por Aos Fatos./COLABOROU ALESSANDRA MONNERAT
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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