Dono de celular e PT negam ocorrência de furto de aparelho em comício de Lula

Imagem com celular sendo tirado das mãos de homem viralizou; nas redes sociais, apoiador do ex-presidente disse que o smartphone foi pego por integrante de equipe de Lula para tirar foto e devolvido em seguida, e polícia diz que não há registro de ocorrência

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Foto do author Clarissa Pacheco
Atualização:

Atualização às 10h40 de 22 de setembro de 2022 para acrescentar resposta da Polícia Civil

Ele mostra o celular nas mãos e, em seguida, o vídeo inclui uma foto de Lula abraçado a uma senhora em frente a uma ambulância do Samu: a mulher é identificada como Francisca Paraíso, avó de Diego. Lula usa a mesma camisa que estava durante o comício e que aparece no vídeo viral: de tecido jeans e com botões abertos na gola.

Foto da avó de Diego com Lula, compartilhada em vídeo postado por ele nas redes sociais. Foto: Reprodução

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A campanha do petista compartilhou o vídeo postado pelo apoiador e, em nota, negou ter havido furto do celular. A assessoria do ex-presidente confirmou que um integrante da equipe ajudou Diego a tirar uma foto com Lula. A campanha acusou bolsonaristas de compartilhar uma "cena cortada, em que não se vê o desfecho do movimento, para espalhar mentiras e maldades contra Lula".

Pedidos de foto

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O trecho que mostra um celular preto sendo retirado das mãos de um apoiador aparece nos segundos finais de um vídeo transmitido ao vivo pela equipe de Lula no Instagram no dia 15 de setembro de 2022. As imagens mostram o petista percorrendo um caminho ao lado de um gradil que o separa do público. Todo o vídeo dura 5:15 e mostra pessoas abraçando o candidato, tentando tirar fotos ou pedindo que outras pessoas registrem o momento. Em pelo menos duas situações, celulares são pegos ou entregues para pessoas que estão do mesmo lado que Lula.

Com 1 minuto e 16 segundos, uma mulher abraça o petista com o celular nas mãos e o entrega a uma pessoa que não aparece nas imagens. Ela diz: "Por favor, tira uma foto comigo". Em seguida, a mulher aparece erguendo o braço para receber o celular de volta. Nas imagens, não fica claro se ela pegou o celular imediatamente, já que a pessoa que faz o vídeo continua andando ao longo do gradil.

 Foto: Estadão

Aos 4 minutos e 4 segundos, uma senhora se aproxima do candidato com um celular que tem a capa vermelha. O próprio Lula pega o aparelho das mãos da mulher o entrega para alguém, que registra a imagem e o devolve. A devolução é mostrada aos 4 minutos e 14 segundos do vídeo e é possível ver uma foto na tela do celular.

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

'Ei, tira foto aqui'

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Diego Paraíso e a filha, identificada como Melissa, aparecem no vídeo a partir de 4 minutos e 26 segundos. Ele faz uma selfie e, em seguida, é possível ver que uma mão pega o celular de Diego aos 4 minutos e 32 segundos. Ele parece se assustar e, logo em seguida, sorri como se posasse para uma foto. No entanto, uma mulher com uma camisa vermelha aparece na imagem e passa à frente de Diego e da filha. A mulher, então, grita: "Ei, tira foto aqui!".

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Nas postagens enganosas analisadas pelo Verifica, a mulher foi apontada como dona do celular e, segundo as legendas, gritava "Pega ele", como se pedisse para alguém segurar o suposto autor do furto. Isso não é verdade. A mulher grita para alguém que está do outro lado do gradil e chega a segurar Lula pelo braço depois de ele já ter passado por ela. A gravação se encerra sem que seja possível ver se a mulher conseguiu ou não fazer o registro. Outras pessoas abraçam o candidato e tiram fotos, antes de o vídeo terminar.

O suposto furto do celular havia sido noticiado pelo site Antagonista e também pelo UOL. Os dois veículos publicaram, em seguida, a nota oficial da campanha de Lula desmentindo o furto, além do vídeo gravado por Diego Paraíso (UOL, O Antagonista).

No Facebook, uma página postou o vídeo com a seguinte legenda afirmando que uma pessoa tinha ido a um comício "apoiar um ladrão" e que tinha se surpreendido ao "ficar sem celular". O post também afirma que situações assim são recorrentes ao eventos petistas. O Estadão Verifica entrou em contato com a página, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

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Foi contatada ainda a Polícia Civil em Montes Claros para saber se o furto havia sido denunciado. O cartório da 1ª Delegacia Regional de Polícia de Montes Claros encaminhou à reportagem um relatório da Agência de Inteligência e Informações Policiais ao delegado Herivelton Ruas Santana sobre o "possível furto de celular no comício do candidato Lula". No documento, a equipe diz que, após ordem do delegado, fez uma análise detida das imagens que circularam nas redes sociais e que identificou que o homem que tem o celular retirado das mãos se chama Varlei Diego Paraíso e é o mesmo que aparece em outro vídeo assegurando que o celular não tinha sido furtado.

"Ele deixa claro que quem teria pego seu aparelho foi pessoas da segurança do candidato Lula, para fazer a foto e que posteriormente lhe devolveram o aparelho. Pelas imagens analisadas resta claro que trata-se das mesmas pessoas", diz o relatório. A equipe também destaca que fez uma busca nos Sistemas de Informações Policiais e que não encontrou nenhum boletim de ocorrência reclamando ou pedindo providências a respeito do possível furto.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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