Governo gasta R$ 1,8 mil, não R$ 20 mil, por cada entrega de cesta básica a Yanomamis

Ministério dos Povos Indígenas firmou contrato sem licitação para doar 8,3 mil cestas por mês a indígenas; procurada, jornalista responsável pela alegação não respondeu

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Foto do author Giovana Frioli

O que estão compartilhando: reprodução de vídeo em que jornalista comenta sobre o contrato feito pelo governo federal com empresa de transporte aéreo para entrega de alimentos à população Yanomami. No trecho, ela diz que será gasto “R$ 20 mil para o envio de cada cesta básica”.

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O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso porque o custo da entrega de cada cesta básica fica em torno de R$ 1,8 mil. O contrato feito pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) para levar alimentos à Terra Yanomami firma o pagamento de R$ 185 milhões a uma empresa de locação de aeronaves para entregar, durante um ano, até 8,3 mil cestas por mês. Em abril, o Ministério assumiu a função de transporte aéreo, que estava sob responsabilidade do Exército. O contrato foi feito sem licitação, sob justificativa da “necessidade premente” dos Yanomamis, segundo a pasta.

A jornalista responsável pelo comentário foi procurada, mas não respondeu.

Governo gasta R$ 1,8 mil, não R$ 20 mil, por cada entrega de cesta básica a Yanomamis Foto: Foto

Saiba mais: Durante programa na Gazeta do Povo, em 28 de março, a jornalista Cristina Graeml comenta sobre o contrato feito sem licitação pelo governo federal com uma empresa de locação de aeronaves para transportar alimentos ao povo Yanomami. Em um trecho do programa, que viralizou nas redes sociais, ela denuncia que o Ministério dos Povos Indígena (MPI) gastará R$ 20 mil para entregar cada cesta básica, o que não é verdadeiro.

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O comentário foi feito depois que a empresa Ambipar Flyone Serviço Aéreo Especializado foi contratada pelo governo federal, via pregão público, em 9 de fevereiro, para viabilizar o transporte emergencial de alimentos à Terra Indígena Yanomami. O valor do contrato é de R$ 185,9 milhões, com vigência de um ano.

Na divulgação da assinatura do contrato, o governo publicou uma declaração do ministro da Casa Civil, Rui Costa, dizendo que o pagamento permitiria a entrega de cerca de 9 mil cestas básicas a partir da empresa de transporte. Logo, a conta feita é de que os R$ 185,9 milhões seriam destinados a 9 mil cestas, portanto um custo de R$ 20 mil para cada uma. No entanto, Costa não deixou claro que o número trata-se de estimativa mensal e não anual, como prevê o contrato.

Por nota, o MPI explicou que o valor será destinado para o transporte de até 8.360 cestas por mês, o que representaria 100.320 entregas em doze meses. Ou seja, o custo fica por R$ 1.853,24 para cada uma. A estimativa, por sua vez, prevê apenas a logística para a destinação dos alimentos, desde os pontos de estocagem até as comunidades indígenas.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome é o órgão responsável pela aquisição das cestas de alimentos e informou ao Estadão Verifica que o valor desembolsado para cada uma é, em média, R$ 280. De acordo com a pasta, o custo varia de acordo com a composição solicitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

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Povo Yanomami enfrenta agravamento da crise humanitária

A Terra Indígena Yanomami registrou 363 mortes em 2023, mesmo após a ação de uma força-tarefa do governo federal para conter a crise humanitária. O número superou o registrado no ano de 2022, em que houve a notificação de 343 mortes. Em janeiro do ano passado, foi decretado estado de emergência no local após altos índices de morte, principalmente por malária e desnutrição.

Diante da gravidade do cenário, um conjunto de operações no território foi determinado pelo governo, incluindo a retirada de garimpeiros, o anúncio da construção de um hospital indígena em Boa Vista e de 22 unidades básicas de saúde e a entrega de pacotes de alimentos ao povo Yanomami. As ações tomadas pelo governo não deram conta de sanar a crise até o momento, como reconheceu a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara.

Desde o início da força-tarefa, as Forças Armadas faziam as entregas das cestas básicas, em caráter emergencial. Porém, de acordo com o Ministério da Defesa, a atribuição do serviço é do MPI, que assumiu a logística em abril. Em 2024, mais de 15 mil cestas de alimentos foram entregues, segundo dados do ministério de apoio indígena.

Como lidar com posts do tipo: Apesar de a publicação citar dados verdadeiros na legenda, eles não foram usados de maneira correta na conta para chegar ao valor unitário das cestas básicas. Neste caso, seria necessário ter atenção sobre o período do contrato feito pelo governo e procurar por informações com o Ministério dos Povos Indígenas para checar o número de entregas estimadas. A Agência Lupa também publicou checagem sobre conteúdos semelhantes.

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