O que estão compartilhando: um vídeo gravado de dentro de um carro, aparentemente de forma escondida, que mostra diversos caminhões transportando troncos de árvores em uma área florestal. O homem que faz a gravação diz: “Filmagem aqui para mostrar como é a extração de madeira na região de Cachoeira do Aruã”. A postagem do vídeo por diferentes contas nas redes sociais é acompanhada da legenda: “Governo Lula ‘cuidando da Amazônia!’”.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é falso. O vídeo é antigo e vem sendo postado na internet desde 22 de dezembro de 2018, pelo menos. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), as imagens foram analisadas em conjunto com a Polícia Federal (PF) em 2019. Segundo o órgão, não foram encontradas ilegalidades. As informações dão conta de que se trata de uma atividade legal dentro do plano de manejo da exploração de madeira na região.
Saiba mais: As legendas que acompanham as postagens dão a entender que o vídeo é recente e que mostra um crime ambiental fruto do descaso do atual governo. No entanto, uma busca nas redes sociais identificou, no Facebook, uma postagem antiga do mesmo vídeo com data de 22 de dezembro de 2018. Naquele período, Michel Temer era o presidente do Brasil. A postagem foi identificada ao digitar, na barra de buscas do Facebook, a frase “video mostra caminhões com toras de madeira em Cachoeira do Aruã”.
Cachoeira do Aruã é uma comunidade ribeirinha que fica na região do Rio Arapiuns, distante 100 km do município de Santarém, no oeste do Pará. A região é ponto turístico devido à queda d’água que dá nome à comunidade. Os habitantes locais vivem da extração de madeira, agricultura familiar e produção artesanal. Na comunidade, há extração legal de madeira, reconhecida e autorizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), mas também extração ilegal. Em dezembro de 2020, a região foi alvo da Operação Handroanthus GLO, da Polícia Federal (PF), que apreendeu 131 mil m³ de madeira em tora, material suspeito de ser produto de extração ilegal.
O Estadão Verifica procurou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para saber se o vídeo que voltou a circular fazia parte do inquérito da Operação Handroanthus GLO ou de algum outro que apura crime ambiental em Cachoeira do Aruã. O MPF do Pará informou que o órgão e a PF avaliaram as imagens em 2019 e não foram encontradas ilegalidades. “Pelo contrário, a PF apontou alguns detalhes que permitem inferir que a filmagem registra um procedimento legal de extração: operação realizada durante o dia; por meio de um grupo com várias carretas; todas emplacadas e em boas condições de uso”, destaca a nota do MPF do Pará. “A região de Cachoeira do Aruã possui áreas com planos de manejo, ou seja: existem empresas regularizadas realizando extração legal de madeira na região.”
Leia mais
Sobre a Operação Handroanthus GLO, o MPF disse que não pode fornecer informações “porque o procedimento judicial relativo ao caso tramita sob sigilo”. Questionado sobre a existência de algum inquérito sobre extração irregular de madeira na região, o MPF informou que o mais recente é de 2020, que também tramita sob sigilo. A PF não respondeu aos questionamentos.
Dados do desmatamento caem no Pará
Também procurado, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) informou que a área sob alertas de desmatamento na Amazônia caiu 50% em 2023 na comparação com 2022, segundo dados do sistema Deter, do Inpe. No Estado do Pará, prossegue o órgão, a redução foi de 46% no mesmo período. Ainda segundo o MMA, de janeiro a dezembro de 2023, o Ibama aumentou os autos de infração por crimes contra a flora em 106% na comparação com a média de 2019 a 2022.
A pasta destacou que um dos primeiros atos do atual governo foi retomar o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), que havia sido revogado em 2019. As ações em curso, segundo o MMA, incluem a restrição de crédito rural para proprietários com Cadastro Ambiental Rural (CAR) suspenso, com embargos e imóveis sobrepostos a Terras Indígenas (TIs), Unidades de Conservação (UCs) e florestas públicas não destinadas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.