Um vídeo em que profissionais de saúde batem palmas e comemoram foi tirado de contexto para sugerir que a ala de covid-19 do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, no bairro de Messejana, em Fortaleza, teria sido fechada por falta de pacientes. Na realidade, o vídeo foi gravado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), também no bairro de Messejana. Tanto o hospital quanto a UPA continuam a atender pacientes infectados pelo novo coronavírus. O boato recebeu mais de 143 mil compartilhamentos e foi visualizado 6,3 milhões de vezes.
O Estadão Verifica entrou em contato por WhatsApp com a assessoria de comunicação do hospital. A unidade de saúde é referência em covid-19 e continua recebendo pacientes -- ou seja, a ala não foi fechada. Messejana também recebeu um hospital de campanha para ampliar a capacidade de atendimento. O hospital informou ainda que o vídeo foi gravado na UPA do bairro Messejana.
A imagem foi gravada na quarta-feira, 17, confirmou a assessoria de comunicação das UPAs no Ceará. A UPA de Messejana não possui ala para pacientes de covid-19. No entanto, recebe pacientes infectados pelo novo coronavírus que ficam isolados dos demais pacientes. Eles devem permanecer na unidade até que haja realocação para um hospital referência -- tanto para a enfermaria quanto para a UTI.
Nos momentos mais críticos da pandemia, pacientes poderiam ficar por dias em uma UPA aguardando a transferência para um hospital de referência. Atualmente, porém, o Ceará passa por uma desaceleração no número de casos confirmados de covid-19. Os funcionários da Saúde filmaram a comemoração portanto como uma demonstração de alívio.
No dia em que o vídeo foi gravado, a UPA de Messejana possuía quatro pacientes com covid-19 na ala adulto. Todos eles foram transferidos para a ala infantil para limpeza da ala adulto e depois retornaram. No dia seguinte, um paciente foi transferido para um hospital de referência. Na sexta-feira, outros dois foram transferidos e o paciente restante recebeu alta.
Apesar disso, o vídeo não representa o "fechamento da ala de covid-19", como falsamente informado pela postagem no Facebook. Entre a sexta-feira, 19, e o domingo, 21, sete pacientes passaram pela UPA: um teve alta, cinco foram transferidos para hospitais de referência e um morreu. Nesta segunda, 22, são três os pacientes que aguardam transferência no local.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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