Hospital da USP não faz cirurgia de transição de gênero em criança; operação é feita a partir dos 18

Vídeo distorce trabalho de acolhimento à população trans realizado no ambulatório da Universidade; atendimento envolve família e equipe multidisciplinar de especialistas

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Foto do author Giovana Frioli

O que estão compartilhando: a USP faz cirurgia irreversível de transição de gênero em crianças, a partir de 4 anos, sem autorização dos pais.

O Estadão investigou e concluiu que: é falso. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) não realiza cirurgias de redesignação sexual em crianças ou adolescentes. A unidade de saúde informou que a opção pelo procedimento só pode ser feita após os 18 anos — o que está de acordo com norma do Conselho Federal de Medicina (CFM). O atendimento a crianças trans no hospital envolve a família e uma equipe multidisciplinar especializada.

A cirurgia de transição de gênero só pode ser realizada em adultos acima dos 18 anos. Foto: Foto

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Saiba mais: No vídeo analisado aqui, um rapaz ironiza o fato de que menores de idade não podem se tatuar, beber álcool ou dirigir. Ele diz que, para fazer cirurgias de transição de gênero, não é necessária autorização dos pais. A postagem que acumula 1,1 milhão de visualizações no Instagram distorce o trabalho de acolhimento à população trans realizado no hospital da USP.

O Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS), ligado ao Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, passou a atender crianças e adolescentes em 2015 e tem o objetivo de acompanhar aqueles que apresentam incongruência de gênero ou não conformidade de gênero — termo que indica quando a identidade de uma pessoa entra em conflito com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento.

Segundo o Hospital de Clínicas, o acompanhamento de menores de idade com particularidades no desenvolvimento da identidade de gênero não inclui tratamentos ou procedimentos. Trata-se de assistência prestada à criança ou adolescente e à família por uma equipe multidisciplinar especializada, formada por psiquiatras, assistentes sociais, endocrinologistas e psicólogos. Pela lei brasileira, a cirurgia de transição de gênero só pode ser realizada em adultos acima dos 18 anos; a introdução de tratamento hormonal é permitida a partir dos 16.

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O coordenador do ambulatório, Alexandre Saadeh, explicou o processo de acolhimento em entrevista para o jornal USP em 2019. “A criança é acompanhada. A gente não faz intervenção hormonal nem cirúrgica nenhuma em criança”, disse. “No início da puberdade, para ganhar um tempo [no diagnóstico], para não acontecer as mudanças corporais específicas de cada aspecto nessa faixa etária, fazemos o bloqueio da puberdade, ou seja, essa criança, esse pré-púbere, não vai desenvolver caracteres sexuais secundários do seu sexo biológico. Com isso, a gente ganha um tempo a mais de acompanhamento desse adolescente e aí tem a certeza diagnóstica para aos 16 anos entrar com o hormônio específico relacionado com a sua identidade de gênero”, explicou.

Na entrevista, Saadeh esclarece que os procedimentos seguem as diretrizes do Conselho Federal de Medicina (CFM) e que as decisões sobre terapias hormonais são tomadas em conjunto com especialistas, a pessoa e a família. “O que fazemos é reconhecer o sofrimento dessa população a fim de trazer um alívio para que elas possam ser quem realmente são”, declarou.

O AMTIGOS foi criado em 2010 e no início só atendia adultos. Porém, desde 2015, apenas crianças e adolescentes recebem atendimento. Os maiores de idade do grupo são remanescentes das primeiras turmas ou eram menores quando entraram no programa de transição. O ambulatório faz atendimentos, pesquisa e ensino na Universidade.

A equipe do Estadão Verifica entrou em contato com o responsável pelo conteúdo falso nas redes sociais, mas não obteve resposta.

Como lidar com postagens do tipo: o tema da transexualidade ainda é alvo de muito preconceito e, por isso, é recomendado ter atenção com postagens que sensacionalizem o assunto. É importante pensar se o conteúdo faz sentido e perguntar: “Uma criança vai entrar no hospital público, dizer que quer mudar de gênero e os médicos vão operá-la?”.

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Neste caso, o conteúdo distorce o trabalho feito por um serviço público para fabricar uma mentira. Por conta disso, é importante pesquisar sobre o assunto antes de espalhar e confiar na alegação.

O Estadão Verifica já checou boatos semelhantes sobre mudança de sexo sem consentimento dos pais e estacionamentos exclusivos para pessoas LGBT.

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