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Vídeo não mostra criminosos mortos por fazendeiro no interior do Piauí

Postagem enganosa mostra, na verdade, imagens de suspeitos de participação em guerra do tráfico em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 2019

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Por Bernardo Costa

O que estão compartilhando: vídeo com imagens de jovens mortos em uma região de mata. É possível ver sete corpos. O texto que acompanha a gravação diz que um “senhor de 63 anos, dono de fazenda no interior do Piauí, mata 09 marginais que tentaram lhe assaltar de novo”.

O Estadão Verifica apurou e concluiu que: é enganoso. As imagens foram registradas em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, em dezembro de 2019, e estão relacionadas a uma guerra entre facções rivais na comunidade do Frade. A Polícia Civil do Piauí negou que o vídeo seja de ocorrência envolvendo fazendeiro no interior do Estado.

Captura de tela da postagem verificada Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: A legenda do vídeo afirma que a propriedade do fazendeiro teria sido assaltada quatro vezes em dois anos pela mesma quadrilha. O senhor de 63 anos teria dito, em depoimentos à polícia, que vendeu um trator para comprar uma sub metralhadora, pois sabia que eles iriam voltar. Nada disso é verdade.

As postagens do vídeo, que viralizaram em redes sociais no Brasil e no exterior, compartilham discurso pró-armas. Isso se constata em alguns comentários: “O homem tem que defender sua casa sua família!” e “Um salve pra esse guerreiro que defendeu seu patrimônio, sua família, e sua própria vida”. Ainda nos comentários, há indicações de que a cena mostrada no vídeo seria no Rio de Janeiro: “Vídeo antigo de uma faxina que aconteceu em Angra”, disse um usuário do X no dia 17 de março, data em que os vídeos começaram a viralizar. No YouTube, outro internauta escreveu: “esse caso foi uma ação do BOPE no RJ em 2019″.

Gravação foi feita em Angra dos Reis, no Rio

Diante das indicações dos comentários, uma pesquisa no Google com os termos “vídeo mostra homens mortos Angra Bope 2019″ levou a uma notícia no site JD1 Notícias que traz as mesmas imagens do vídeo. A matéria, de 16 de dezembro de 2019, informa que as mortes estão relacionadas a um confronto entre facções rivais na madrugada do dia anterior, no bairro do Frade, em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar do Rio, foi acionado para intervir no conflito.

A reportagem traz um link para um vídeo, postado no X, que registra a cena das pessoas mortas. As características do local e dos corpos demonstram que se trata da mesma situação que aparece na postagem enganosa.

A reportagem do site JD1 Notícias diz que pelo menos sete corpos foram abandonados em um pequeno caminhão, em frente ao batalhão do Corpo de Bombeiros, no bairro do Frade. Uma notícia do site Meia Hora, também de 16 de dezembro de 2019, informa que esses corpos, segundo moradores do Frade, haviam sido encontrados numa área de mata dentro da comunidade. O texto cita que o caminhão foi deixado na Rua Boa Esperança. Um consulta no Google Maps confirma que o quartel do Corpo de Bombeiros, no Frade, em Angra dos Reis, fica na Rua Boa Esperança.

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O contexto do vídeo dá a entender que foram moradores da região que encontraram os corpos na área de mata, pois a gravação é feita por populares e não há presença policial. Uma pesquisa no Google com o termo “moradores encontram corpos em área de mata no Frade em Angra dos Reis”, levou a uma reportagem do site Tribuna Sul Fluminense. O texto informa que os sete corpos estavam na Rua Boa Esperança, em uma área de mata próxima ao Colégio José Reseck. De fato, uma busca no Google Maps pelo colégio na comunidade do Frade, em Angra dos Reis, mostra que há região de mata nas proximidades da escola.

Polícia do Piauí nega que caso foi em fazenda no interior do Estado

O Estadão Verifica entrou em contato com a Polícia Civil do Piauí. O órgão afirmou não haver registro da suposta ocorrência policial envolvendo um idoso de 63 anos que teria matado nove bandidos em sua fazenda, no interior do Estado. A assessoria do órgão disse que a alegação das postagens que viralizaram “não procede”.

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