O que estão compartilhando: que é possível ligar uma caminhonete Toyota Hilux ao aproximar um ímã do botão de partida.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O “pequeno pedaço de ímã” mostrado na gravação e supostamente usado no furto do veículo, na realidade, é um transponder. A peça fica dentro do chaveiro e emite o código para a central eletrônica do carro quando está próxima, autorizando a partida. Ainda que a Polícia Civil não tenha informado o resultado da apuração do caso, o transponder pode ter sido clonado. Especialistas recomendam que os proprietários mantenham as chaves sempre consigo para evitar a ação de golpistas.
Saiba mais: o vídeo analisado pelo Estadão Verifica gerou mais de 300 mil reações no Instagram e mostra uma policial civil de Rio Branco (AC) relatando o método de furto de uma caminhonete Toyota Hilux, em agosto deste ano.
“No momento em que eu fui levar o preso para a cadeia, eu perguntei como ele fez para ligar esse veículo, haja vista que é produto de furto e não está com a chave”, diz a autora do vídeo. “Ele me falou: ‘Quando você chegar na delegacia, você olha do lado do painel e vai ter um pequeno pedaço de ímã. Você vai pegar, apertar o freio e apertar o botão de ignição e dar partida no veículo’. Olha aí, pessoal, sem a chave. Isso é para ver que a polícia não pode parar, né?”.
O material, no entanto, não é um ímã — e sim um dispositivo de comunicação eletrônica conhecido como transponder. Ele está presente nas chaves dos automóveis, inclusive naquelas que necessitam inserção e giro, sendo adaptada em sistemas mais modernos para funcionar como sensor de proximidade.
“Cada sensor tem um código diferente”, explica Valdir Melero Junior, engenheiro elétrico e professor do Instituto Mauá de Tecnologia. O sinal digital é reconhecido pela central do veículo, por meio de um protocolo, antes de autorizar a partida. “É uma coisa que um ímã não faria. A troca de informação do transponder é via ar, por sinal eletromagnético, enquanto o ímã só tem o sinal magnético, um sinal constante.”
A mesma explicação foi dada pela Toyota, a fabricante da Hilux: “O objeto apresentado no vídeo não é um pedaço de ímã, mas sim algo que se assemelha a um componente interno da chave de ignição, que pode ter sido extraído de uma das chaves originais do veículo ou clonado ilegalmente. Portanto, é importante ressaltar que essa ação não denota um defeito de produto, mas sim uma cópia não autorizada da chave eletrônica do carro”. A subsidiária brasileira da empresa afirma não ter encontrado falhas relacionadas ao mecanismo.
O Estadão procurou a Polícia Civil do Estado do Acre, por e-mail, nesta quinta-feira, 17 de agosto, mas não recebeu resposta até a publicação desta checagem. Não há como saber, até o momento, se o objeto passou por perícia, nem se a corporação trabalha com a hipótese de golpe por meio da clonagem do componente da chave.
Fato é que diversos locais oferecem a prestação de serviço de cópias de chaves de veículos na internet. Alguns sites também colocam à venda equipamentos capazes de fazer a clonagem e transponders que, em tese, poderiam ser usados para essa finalidade.
O professor Valdir Melero Junior destaca que, para um criminoso fazer uma cópia do transponder da chave, precisaria ter acesso ao dispositivo numa distância curta, cerca de 50 centímetros a 1 metro, pela própria limitação do sinal. “E alguns sistemas não tem um código fixo, mas um rolling code, que vai sendo substituído a cada utilização”, acrescenta. A dica é manter a chave do carro sempre em local seguro.
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