O que estão compartilhando: vídeos em que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o apresentador Ratinho e uma repórter do G1 afirmam que a Serasa foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a pagar indenização a todas as pessoas que tiveram dados pessoais vazados.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: as postagens manipulam vídeos de figuras públicas para levar usuários a sites falsos, que pedem dados pessoais. Há indícios que as imagens foram editadas com inteligência artificial -- por exemplo, o movimento dos lábios não acompanha o que é dito.
Na realidade, existe um processo contra a Serasa Experian movido pelo Instituto Sigilo, com coautoria do Ministério Público Federal (MPF), com a acusação de vazamento de informações de usuários. Esse processo, contudo, ainda não foi encerrado, e até o momento não há determinação judicial para o pagamento de indenização.
Saiba mais: diferentes postagens nas redes sociais divulgam um suposto site oficial da Serasa para recebimento de indenização por vazamento de dados. Na verdade, esses sites coletam dados pessoais. Como já explicou o Estadão Verifica em outra checagem, o CPF pode ser usado para criar um cadastro falso de alguém com a finalidade de aplicar golpes.
As chamadas para os sites falsos incluem vídeos manipulados. Um deles simula que o ministro Alexandre de Moraes estaria informando sobre a suposta indenização. As imagens manipuladas parecem ter utilizado um trecho da sessão plenária do STF sobre o índice de correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ocorrida em 12 de junho deste ano.
Outras postagens fraudulentas usam trechos da programação da Rede Globo e um vídeo do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, para divulgar o golpe. A gravação original de Ratinho foi publicada na sua conta pessoal do Instagram, em que ele fala sobre uma campanha de doação de órgãos. O corte da Globo, por sua vez, usa um trecho do G1 em 1 Minuto, que detalha como resgatar dinheiro esquecido no banco. Veja os vídeos originais abaixo.
O Estadão Verifica localizou as imagens originais por meio de uma busca reversa (aprenda aqui como fazer). A partir dos vídeos verdadeiros, é possível perceber que as mídias falsas têm indícios de manipulação por Inteligência Artificial (IA). No caso do trecho da Globo, por exemplo, a ferramenta simula a voz da repórter, mas as palavras não acompanham os movimentos da boca.
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Todas as publicações direcionam os usuários a sites falsos. Nas diferentes páginas, é solicitado que o usuário preencha o número do CPF. Existem vários elementos que indicam que não se trata de um site oficial e autêntico, como o endereço do site. A página oficial da Serasa é serasa.com.br.
Caso Serasa
O vazamento de dados relacionado à Serasa veio a público em janeiro de 2021. De acordo com o Instituto Sigilo, mais de 223 milhões de dados pessoais de brasileiros, vivos e mortos, foram vazados. O instituto, juntamente ao MPF, está processando a Serasa por meio de uma ação civil pública, sob acusação de que a companhia teria comercializado, junto a terceiros, os dados vazados.
O processo pede que a empresa seja condenada a pagar uma indenização de R$ 30 mil a cada usuário prejudicado por um possível uso irregular de informações pessoais. À reportagem, o MPF explicou que o processo segue em tramitação na Justiça Federal. “Ainda não houve julgamento dos pedidos de indenização formulados pelo MPF. Ou seja, até o momento, não houve determinação judicial para o pagamento de nenhum valor. Notícias que indiquem o contrário são falsas”, informou.
O Estadão Verifica já checou um golpe similar envolvendo uma suposta indenização da Serasa por dados vazados em março deste ano. À época, a Serasa alegou que apresentou defesa na ação judicial proposta em fevereiro de 2021 e reforçou que os sites que prometem indenização são fraudulentos. A empresa afirma ter demonstrado “de forma amplamente detalhada a ausência de invasão nos seus sistemas ou de qualquer indício de que o suposto vazamento tivesse tido origem em suas bases de dados”.
Como lidar com postagens do tipo: antes de acreditar em postagens “milagrosas” que prometem dinheiro rápido e fácil, faça uma pesquisa no seu buscador de preferência para verificar a autenticidade e confiabilidade da publicação. Ao entrar em um site duvidoso, é importante checar alguns elementos, como a URL (endereço da página) e os hiperlinks (ícones ou palavras que se conectam a outra página na web). Não coloque seus dados pessoais em sites suspeitos e duvidosos.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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