Uma postagem viral no Facebook dá a entender que o Brasil está sofrendo menos com a inflação do que o restante do mundo ao comparar o índice brasileiro (10,3%) com o da Argentina (52,5%) e da Venezuela (2720%). O que o post não explica é que, mesmo que a inflação no Brasil seja mais baixa do que a desses países vizinhos, ainda é uma das maiores do mundo. Além disso, na Venezuela a taxa de aumento de preços registrada em 2021 foi de 686%, não 2720%.
A postagem analisada aqui obteve mais de 10 mil compartilhamentos no Facebook desde outubro do ano passado. A publicação traz uma imagem com os índices de inflação na Argentina, Brasil e Venezuela, com a frase "O mundo inteiro está sofrendo com a inflação...". Em outros posts semelhantes, a frase continua: "... os países socialistas muito mais".
Apesar dos índices citados nas postagens estarem parcialmente corretos (afinal não há indicação sobre o período exato a que esses números se referem), a taxa de inflação no Brasil hoje é uma das maiores do mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no País, fechou 2021 em 10,06% no acumulado dos últimos 12 meses. Na Argentina esse número foi de 50,9%, enquanto que na Venezuela foi de 686%, de acordo com dados dos bancos centrais de cada país.
Entre as maiores do mundo
De acordo com o levantamento mais recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil apresenta a 4ª maior taxa de inflação entre os 44 países monitorados. A taxa de inflação no Brasil (10,7%), segundo a OCDE, está atrás apenas da Argentina (50,9%), Turquia (36,1%) e Estônia (12,1%). Levando em consideração os mesmos dados da OCDE em relação ao grupo das 20 maiores economias do mundo, o G20, o Brasil tem a 3ª maior taxa de inflação, atrás apenas de Argentina e Turquia.
A inflação brasileira está à frente da registrada em outros países da América Latina, como México (7,4%), Chile (7,2%), Colômbia (5,3%) e Costa Rica (3,3%); dos Estados Unidos (7%); da média dos países que compõem a OCDE (5,8%); da média do G20 (5,9%); da média da União Europeia (5,2%) e da média da zona do Euro (4,9%). O levantamento se baseia nos dados mais recentes disponíveis pela OCDE, referentes a novembro ou dezembro de 2021. No caso do Brasil, foi utilizado o índice de novembro.
Já de acordo com dados da consultoria internacional Trading Economics, que reúne informações de todos países do mundo, entre as 97 nações que apresentaram dados atualizados em dezembro de 2021, o Brasil tinha a 18ª maior taxa de inflação. Segundo a Trading Economics, o índice brasileiro é inferior ao dos seguintes países: Venezuela, Zimbábue, Argentina, Turquia, Irã, Angola, Zâmbia, Nigéria, Moldávia, Geórgia, Mongólia, Sudão do Sul, Gana, Paquistão, Estônia, Sri Lanka e Lituânia.
Em setembro cenário era semelhante
Em relação ao mês de setembro de 2021 (período imediatamente anterior ao momento em que a postagem começou a circular) o cenário da inflação no Brasil já era parecido com o atual. À época, os índices acumulados dos 12 meses anteriores eram de 10,25% no Brasil; 52,5% na Argentina e 1.456% na Venezuela. Tanto entre os 44 países monitorados pela OCDE, quanto entre as 20 maiores economias do mundo, o Brasil apresentava a 3ª maior taxa de inflação, atrás novamente apenas de Argentina e Turquia em ambos os casos.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.