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Vídeo é manipulado para parecer que jornalista da CNN disse que será crime pregar trechos da Bíblia

Na realidade, Daniela Lima comentava sobre postagem desinformativa publicada pelo deputado Deltan Dallagnol

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Foto do author Luciana Marschall
Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo em que jornalista da CNN Brasil afirma que quem pregar nas redes sociais trechos da Bíblia sobre homossexualidade e em defesa da submissão da mulher ao homem será indiciado por crime.

O Estadão investigou e concluiu que: é falso. Cortes do programa CNN 360º, exibido em 1º de maio, foram manipulados de maneira a parecer que a apresentadora Daniela Lima teria afirmado que trechos da Bíblia serão proibidos de circular porque podem ser interpretados como discurso de ódio. Na verdade, a jornalista comentava ser desinformação dizer que o Projeto de Lei das Fake News pretende censurar conteúdos religiosos nas redes sociais.

Cortes do programa CNN 360º foram montados de maneira a parecer que a apresentadora Daniela Lima tenha afirmado que trechos da Bíblia serão proibidos de circular. Foto: Reprodução

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Saiba mais: Um post no Instagram divulga vídeo com dois trechos diferentes do programa CNN 360º. A legenda afirma ter começado a perseguição à igreja de Cristo e que pastores e pregadores serão presos por pregarem o que está na Bíblia. O texto acrescenta, ainda, que estas afirmações são feitas pela jornalista da CNN.

O primeiro corte usado na postagem enganosa pode ser assistido na transmissão oficial da CNN entre uma hora, dois minutos e 49 segundos e uma hora, três minutos e 12 segundos de programa. Nele, Daniela diz que partes da Bíblia serão proibidas de circular nas redes porque podem ser interpretadas como discurso de ódio.

A fala, contudo, está descontextualizada. Antes de dizer isso, a apresentadora comentava sobre a pressão de big techs e de setores conservadores contra a aprovação do PL 2630/2020. Neste contexto, Daniela diz que a bancada evangélica fechou posicionamento contrário ao texto e que passou a divulgar mentiras sobre o assunto. A jornalista então lembra que, na semana anterior, um político “pautou uma discussão enorme” neste sentido, referindo-se às postagens em redes sociais do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Em 24 de abril, ele publicou que versículos da Bíblia seriam banidos das redes sociais caso o projeto de lei seja aprovado. O Projeto Comprova, iniciativa de checagem da qual o Estadão Verifica faz parte, demonstrou serem enganosas as publicações.

A fala completa da jornalista foi: “Vou citar aqui um integrante da bancada evangélica, eu nem sei se ele formalmente é, mas ele é evangélico e foi ele quem pautou, na semana passada, uma discussão enorme. Ele disse que trechos da Bíblia serão proibidos de circular porque podem ser interpretados como discurso de ódio”. Na postagem enganosa, o trecho em que Daniela explica estar citando um parlamentar da bancada evangélica foi suprimido.

Já o segundo corte pode ser assistido entre duas horas, 37 minutos e 39 segundos e duas horas e 38 minutos. Aqui, a fala é “por conta de uma de uma interpretação bizarra e falsa, né? De que haveria ali veto a trechos da Bíblia. Não é! Mas se você sair defendendo na rua o que esses trechos estão dizendo, você na rua pode ser pego por racismo, por homofobia, e até também ser acusado de assédio ou tratamento misógino, então não faça na rua o que estão querendo que você possa fazer na redes”.

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Essa já é a parte final do programa. Antes dessa fala, a apresentadora explica que Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, não havia descartado o adiamento da votação do PL por lobby das Big Techs para tentar impedir a aprovação. Daniela então comenta que a bancada evangélica também decidiu fazer pressão contra o projeto e “entrar com tudo por conta de uma interpretação bizarra e falsa (do texto)”.

Como explicado pelo Comprova, o texto aprovado no Senado em 30 de junho de 2020 e que está em discussão na Câmara Federal não faz nenhuma referência explícita à supressão de postagem com trechos bíblicos ou restrição de publicação desse tipo de conteúdo. Na realidade, a proposta traz a salvaguarda das manifestações religiosas entre os conteúdos que devem ser removidos ou ocultados pelas plataformas de redes sociais.

A reportagem procurou o autor da postagem no Instagram, mas não teve resposta. A CNN também foi contatada, mas informou que não iria se pronunciar.

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