Lei Rouanet não financiou ‘dança da picanha’; performance artística ocorreu em Londres em 2018

Dançarina não usou figurino de ‘picanha fatiada’ e sim molde do corpo feminino criado por uma designer de moda

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Foto do author Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: que, no governo Lula, a “dança da picanha” vale milhões e foi financiada com recursos da Lei Rouanet.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A imagem mostra a artista britânica Rebecca Namgauds durante a performance Slip Mould Slippery, apresentada no evento “All in: bodied”, na Galeria Melissa, em Londres, na Inglaterra, em outubro de 2018. O evento não contou com aporte do governo federal brasileiro e a peça usada pela dançarina não representa uma “picanha” fatiada, e sim um molde do corpo humano. O figurino foi desenhado pela designer Sinead O’Dwyer e a coreografia, feita por Grace Nicol.

Também não é verdade que o governo tenha tirado dinheiro da saúde e da educação para aplicá-lo na Lei Rouanet. Em julho, o governo anunciou um congelamento de R$ 15 bilhões do orçamento, atingindo principalmente saúde e educação; no final de outubro, o congelamento caiu para R$ 13,3 bilhões, mas a distribuição mudou e os cortes para saúde e educação aumentaram. O valor congelado para o Ministério da Cultura também subiu, de R$ 87 milhões para R$ 88 milhões.

 Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: O post investigado alcançou quase 200 mil visualizações no Instagram. Para tentar ligar a performance artística ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o vídeo dividiu a tela entre a apresentação da dançarina e uma fala do presidente defendendo o funcionamento da Lei Rouanet.

A declaração de Lula é de 25 de outubro de 2022, quando ele ainda era candidato à Presidência. Ele disse em entrevista à Nova Brasil FM que a Lei Rouanet voltaria a funcionar no Brasil. Em 2023, projetos culturais captaram R$ 2,3 bilhões em recursos por meio da Rouanet, valor recorde.

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Apesar disso, os valores captados não vêm diretamente dos cofres públicos, e sim por meio de incentivos fiscais. O que ocorre é que pessoas físicas ou jurídicas podem financiar projetos culturais em troca de abatimento de imposto. A performance que aparece no vídeo não captou recursos pelo dispositivo brasileiro.

Apresentação ocorreu na Inglaterra, não no Brasil

O que aparece no vídeo não é uma “dança da picanha”, e sim a performance artística Slip Mould Slippery, coreografada por Grace Nicol e apresentada pela dançarina Rebecca Namgauds, que vive em Londres, na Inglaterra.

O evento foi organizado em outubro de 2018 na Galeria Melissa. O Estadão Verifica não localizou o mesmo vídeo utilizado no conteúdo viral, mas há pelo menos dois registros da apresentação (aqui e aqui) que mostram a mesma artista, o mesmo cenário e o público, com roupas iguais às que aparecem no vídeo.

Vídeo viral (esquerda) e publicação com cenas da performance de 2018 (direita) mostram o mesmo cenário e o mesmo público na Galeria Melissa, em Londres. Foto: Reprodução Foto: Reprodução

A própria artista, Rebecca Namgauds, publicou várias imagens da performance em sua conta no Instagram. O primeiro foi feito em 19 de outubro de 2018. Segundo ela, a apresentação tinha sido feita na véspera, dia 18.

A coreógrafa Grace Nicol postou um vídeo com cenas de bastidores da apresentação. A publicação foi feita no YouTube em 4 de agosto de 2019. Na descrição, ela afirma que a performance ocorreu na Galeria Melissa, no evento “All in: bodied”, em outubro de 2018.

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A peça usada por Rebecca Namgauds é um molde do corpo humano feito em fibra de vidro e desenhado pela designer de moda Sinead O’Dwyer. Este texto explica que a apresentação de Rebecca usando o figurino ocorreu na noite de abertura da mostra, em Londres, em 18 de outubro de 2018, e que, depois da apresentação, as peças seriam reaproveitadas como “lembretes esculturais do corpo feminino em movimento”.

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