Postagem distorce conteúdo de estudo que afirma não haver relação entre leite e câncer de mama

Publicação de 2004 revisou pesquisas sobre laticínios e concluiu não existir evidências que consumo desses alimentos cause tumores

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Por Beatriz Bulhões
Atualização:

Uma publicação no Facebook desinforma ao alegar que o consumo de leite é um fator capaz de causar câncer de mama. A postagem em questão cita como fonte um estudo de 2004 que, na realidade, afirma não haver evidências de relação entre a ingestão de laticínios e a formação de tumores. O post também menciona um livro baseado em história pessoal que não apresenta evidências científicas.

A postagem cita um estudo dos pesquisadores Patricia G. Moorman e Paul D. Terry, da Universidade Duke, nos Estados Unidos. A dupla publicou no periódico científico The American Journal of Clinical Nutrition uma revisão da literatura sobre a relação entre laticínios e câncer, reunindo diversos estudos que investigou o tema. "A maioria dos estudos revisados não mostrou um padrão consistente de aumento ou diminuição do risco de câncer de mama com alto consumo de laticínios", concluíram.

 

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A postagem analisada aqui alega erroneamente que o leite da vaca seria prejudicial por conter o hormônio estrogênio. Na revisão feita pelos pesquisadores americanos, mesmo nas pesquisas que acharam alguma relação, ainda que pequena, entre o hormônio e o desenvolvimento de tumores, este era apenas um dos fatores para o adoecimento. A presença de gordura nos laticínios, além de agrotóxicos e pesticidas nos alimentos ingeridos pela vaca, são outras causas citadas nos estudos.

"Alguns produtos lácteos, como leite integral e muitos tipos de queijo, têm um teor de gordura saturada relativamente alto, o que pode aumentar o risco (de câncer). Além disso, os produtos lácteos podem conter contaminantes, como pesticidas, que têm potencial carcinogênico", esclarecerem os autores.

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Os pesquisadores da Universidade Duke ressaltam ainda que os estudos que supostamente comprovariam a relação entre laticínios e câncer não levam em conta os outros alimentos consumidos no dia, fatores genéticos ou hábitos cotidianos -- como fazer exercício e dormir bem.

Uma outra revisão, de 2020, foi publicada no periódico New England Journal of Medicine revisando novas pesquisas que associavam leite e câncer. Novamente, o resultado foi que não há provas suficientes de alguma influência da ingestão do alimento.

Consultado pelo Estadão Verifica, o presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Oncológica (SBNO) e doutor em ciências nutricionais Nivaldo Pinho foi taxativo sobre a hipótese de o leite causar câncer. "Sem chances. É fake news", resumiu.

Professora publicou livro dizendo ter se curado

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A publicação que viralizou nas redes sociais cita o livro Your Life In Your Hands (Sua vida está em suas mãos, em tradução livre), em que a professora Jane Plant conta que se curou do câncer de mama ao parar de ingerir laticínios. O livro existe, foi publicado em 2000 e tem outras duas edições lançadas, em 2006 e 2012.

A autora, entretanto, narra uma história pessoal e não apresenta provas do seu relato. Ela também parte de premissas que dizem que mulheres orientais têm menos câncer de mama por comerem menos laticínios e se baseia em estudos antigos, já desmentidos.

Nivaldo Pinho explica que o livro "é apenas um depoimento pessoal" e "sem comprovação científica". O especialista alerta, entretanto, que há alimentos não recomendados aos pacientes de câncer: os processados e ultraprocessados. Segundo ele, a alimentação saudável, associada à atividade física (ou não sedentarismo), pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de tumores. Também é importante evitar fatores de exposição como cigarro, álcool, exposição solar em excesso e obesidade.


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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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