O que estão compartilhando: que o Ministério da Educação (MEC) enviou um livro comprado no governo Lula para escolas com um conto que narra a história de um rei que queria se casar com a própria filha. A postagem mostra uma reportagem de TV sobre a devolução do material por prefeituras do Espírito Santo (ES) ao MEC, sob a justificativa de que a obra, ao tangenciar o incesto, seria imprópria para ser abordada na educação infantil.
O Estadão Verifica apurou e concluiu que: está fora de contexto. A reportagem é antiga, de 2017. O livro foi recolhido naquele ano e não foi mais distribuído a escolas desde então, segundo informou o ministério ao Verifica. Em 2017, a gestão do MEC do governo Michel Temer (MDB) disse que a obra havia sido selecionada e aprovada em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) era presidente. Ainda segundo pronunciamento do MEC de 2017, o livro já havia sido adquirido em 2005, no primeiro mandato de Lula.
Saiba mais: A reportagem de 2017 tem sido compartilhada com a seguinte legenda: “MEC envia livros comprados pelo governo Lula que incentiva (sic) filhas a se casarem com o pai”. Uma das postagens, feita no Facebook, faz menção às eleições municipais deste ano: “Por isso o Lúdio que é do PT não pode ganhar. Será um caos na educação de nossos filhos”, numa referência a Lúdio Cabral, que foi candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Prefeitura de Cuiabá.
A reportagem foi ao ar em junho de 2017, na TV Gazeta, afiliada da TV Globo no Espírito Santo, e não tem relação com o atual governo Lula. O livro em questão é intitulado Enquanto o sono não vem. A matéria mostra que o conto “A triste história de Eredegalda” provocou polêmica entre os professores e pais de alunos, motivando o recolhimento da obra por prefeituras do Estado e devolução da obra ao MEC. Segundo a reportagem, o livro havia sido distribuído para escolas públicas de todo o País para alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental, entre 6 e 8 anos.
O conto narra a história de um rei que pede em casamento a sua filha mais bela. Ao se negar, a menina é trancada pelo pai numa torre e fica proibida de beber água. Na matéria, uma professora e um delegado criticam a distribuição do livro às crianças, que havia sido feita por meio do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), do MEC, após ter sido avaliada e aprovada pelo Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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À reportagem, o MEC, sob gestão do então presidente Michel Temer (MDB), disse “que o processo de seleção e avaliação (do livro), que está sendo revisto, foi realizado e publicado em 2014″. À época, a Presidência da República era ocupada por Dilma Rousseff (PT). Após a polêmica, o então ministro da Educação no governo Temer, Mendonça Filho, decidiu recolher os exemplares do livro. Na notícia da decisão no site do MEC, o texto informa que o livro “já havia sido adquirido em 2005, no governo Lula”.
Procurado pelo Verifica, o MEC informou que não houve nova distribuição do livro após o recolhimento em 2017. “Não houve nova distribuição. O livro mencionado fazia parte do PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), que era composto por jogos, atividades concretas e caixa literária para anos iniciais e foi distribuído em 2016″, informou.
Esta não é a primeira vez que a reportagem de 2017 é compartilhada nas redes sociais fora de contexto. Em 2018, o Projeto Comprova mostrou que o livro Enquanto o sono não vem não havia sido distribuído quando Fernando Haddad, hoje ministro da Fazenda, era ministro da Educação. Em 2018, Haddad era candidato à Presidência pelo PT.
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