Lula não disse que vai confiscar poupança; capa do 'Jornal do Brasil' é montagem

Veículo de imprensa desmentiu o conteúdo que circula em seu nome; presidente eleito propôs taxar fortunas e aumentar faixa de isenção do IR

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Por Luciana Marschall
Atualização:

Trata-se de montagem a capa do Jornal do Brasil que traz o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarando que pessoas com renda acima de R$ 8 mil mensais irão pagar 47,5% em imposto e que poupanças e investimentos em valores acima de R$ 50 mil serão confiscados. A capa de jornal não existe e o petista não fez tais afirmações.

A imagem está sendo divulgada amplamente em redes sociais e esta checagem é um pedido dos leitores ao WhatsApp do Estadão Verifica, (11) 97683-7490.

 

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Jornal do Brasil não circula mais em formato berliner 

É possível encontrar sinais claros de que o conteúdo da capa é falso. Não há espaço, por exemplo, entre o nome da cidade do Rio de Janeiro e a data de 11 de novembro de 2022, no alto da página. O texto também não segue o padrão jornalístico, apresentando afirmações em primeira pessoa, sem as aspas que identificam declarações nesse gênero textual, além de palavras repetidas e algumas em caixa alta.

O Jornal do Brasil publicou no próprio site um comunicado alertando para a falsidade do conteúdo e informando que em 2010 a publicação deixou de circular no modelo berliner - o mesmo adotado atualmente pelo Estadão, ligeiramente menor que o tradicional. Em fevereiro de 2018, o Jornal do Brasil voltou às bancas no formato tradicional standard, maior. Mas desde abril de 2019 a publicação é apenas online. De acordo com o jornal, o departamento jurídico tomou providências para responsabilizar os autores e disseminadores do conteúdo, a quem acusa de uso indevido de marca, com pedido de indenização por danos materiais.

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Lula não disse que irá confiscar poupança ou aumentar IR de quem ganha R$ 8 mil 

Não há qualquer registro de Lula dizendo que pretende confiscar poupanças ou investimentos, como fez o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Além disso, ele não propôs taxar em quase 50% aqueles que recebem mais de R$ 8 mil mensais. Na verdade, a proposta de governo da chapa formada por Lula e Geraldo Alckmin (PSB) prevê maior tributação de fortunas. Não há detalhamento da proposta.

Proposta de Governo de Lula e Alckmin

Conforme o texto, há intenção de se construir novo regime fiscal, a partir de uma reforma tributária que coloque os pobres pagando menos e os ricos pagando mais.  "Vamos fazer os muito ricos pagarem imposto de renda", diz o programa, acrescentando que esses recursos devem ser  investidos em programas e projetos com alta capacidade de induzir o crescimento, promover a igualdade e gerar ganhos de produtividade", afirma o documento.

Em campanha, Lula prometeu correção da faixa de isenção da tabela do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) para R$ 5 mil. O Estadão mostrou no ano passado que na pirâmide social-tributária do Brasil, quanto mais rico alguém, maior é a parcela da renda que permanece isenta no imposto. Simulações feitas pelo economista Sergio Gobetti naquele momento apontaram que enquanto 99% dos contribuintes têm isenção média de 25%, no topo da pirâmide 60% da renda não é tributada.

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Os R$ 400 bilhões

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O conteúdo afirma que as supostas taxações e confisco teriam como objetivo cobrir um rombo de R$ 400 bilhões deixado pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Esse valor foi citado em outubro pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, em sua conta no Twitter. Na ocasião, ele avaliava que o "buraco" deixado pela atual gestão para a próxima estaria próximo deste dígito, enquanto o Governo previa R$ 150 bilhões.

Ao Projeto Comprova, o professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) Marco Antônio Rocha explicou que os valores citados são projeções sobre "buracos" existentes e despesas que não foram orçadas na Lei Orçamentária de 2023. De acordo com Rocha, não há uma cifra exata de rombo, isso porque o cálculo depende do que é considerado prioritário em relação a dotações orçamentárias necessárias para o Estado funcionar. Assim, o valor pode mudar conforme o que é avaliado nessa equação.

O Estadão Verifica procurou a assessoria de imprensa de Lula, que não se posicionou até a publicação desta checagem. O mesmo conteúdo foi desmentido por Fato ou Fake, Lupa, Uol Confere, Yahoo Notícias e AFP Checamos.

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