O ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez confusão ao trocar o estado do Mato Grosso do Sul pelo Mato Grosso durante o debate com o presidente Jair Bolsonaro (PL), adversário no segundo turno das Eleições 2022, realizado pela Band no último domingo, 18. Nas redes sociais, a fala viralizou entre usuários que insinuam que a tal ponte nunca existiu.
Ao referir-se à ponte de Porto Alencastro, sobre o rio Paranaíba, situada na divisa entre Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, Lula afirmou que a estrutura está localizada entre o estado mineiro e o Mato Grosso, mas os dois territórios não são fronteiriços.
Minas Gerais faz divisa com São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, Bahia e Mato Grosso do Sul -- onde está a ponte citada por Lula. O Mato Grosso, por sua vez, faz divisa com os estados do Amazonas, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Rondônia, além da Bolívia, país vizinho ao Brasil.
Durante o debate, Lula criticava Bolsonaro por supostamente não dar créditos a ex-presidentes quando finaliza e inaugura obras iniciadas em governos anteriores. Para tal, afirma que agia de forma diferente quando governava: "quando tomei posse em 2003 o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estava fazendo uma ponte lá na divisa de Minas com Mato Grosso. Eu fui lá inaugurar e fiz justiça ao Fernando Henrique Cardoso, disse que era dele" .
O trecho onde Lula troca o nome dos estados pode ser conferido na transmissão feita pelo canal Band Jornalismo, no YouTube. De fato, no ano em que assumiu o primeiro mandato, Lula inaugurou uma ponte que vinha sendo construída pelo governo FHC, mas na fronteira entre Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
A inauguração da ponte de Porto Alencastro ocorreu em outubro de 2003, conforme está documentado em notícia publicada pela Agência Brasil.
Ao Estadão Verifica, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), vinculado ao Ministério da Infraestrutura, informou que as obras tiveram o marco inicial, com a licitação dos projetos, em 1994, durante o governo de Itamar Franco. A entrega foi quase 10 anos depois, no governo petista, com investimento total de R$ 124 milhões, com recursos do Governo Federal e de convênios firmados com os estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
A maior parte da construção se deu durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, quando a obra chegou a ser paralisada cinco vezes por falta de verbas.
Lula não deu os créditos a Fernando Henrique na inauguração
Apesar de dizer no debate ter feito justiça a Fernando Henrique Cardoso quando inaugurou a ponte, a história não aconteceu exatamente dessa maneira. A Biblioteca da Presidência mantém disponível o discurso de Lula naquele dia, assim como uma imagem do ex-presidente em frente à ponte.
Confira aqui o discurso de Lula
Durante o ato, o petista citou FHC em duas ocasiões. Na primeira, disse não se importar se a obra teve início "no governo Fernando Henrique Cardoso, no governo Sarney, no governo Itamar, ou no governo Collor", acrescentando que, para ele, o que importava "é que tem dinheiro público investido ali e se nós não dermos continuidade, aquele dinheiro público vai simplesmente desaparecer".
No segundo momento, ele lembrou o presidente que o antecedeu ao tratar de obras não continuadas pelo governo do PSDB por polêmicas envolvendo o Tribunal de Contas da União (TCU). Em nenhuma das menções ao tucano ele informa diretamente ter sido Fernando Henrique o responsável pela construção da estrutura.
A assessoria de comunicação do PT foi procurada, mas não respondeu até esta publicação.
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