Postagem distorce declaração de Lula para parecer que ele confessa ter comprado votos em 2022

Em entrevista, presidente acusou seu rival Jair Bolsonaro de aprovar R$ 300 bilhões em auxílios para tentar se reeleger

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Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que “foram colocados” cerca de R$ 300 bilhões para “ganhar as eleições”. Legenda sobreposta ao vídeo diz: “Lula conta como comprou todos”.

O Estadão Verifica investigou e conferiu que: é enganoso. O post recorta e distorce uma entrevista de Lula para parecer que ele confessa ter comprado votos. Na verdade, ele se referia ao seu adversário nas eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro. O petista o acusou de aprovar cerca de R$ 300 bilhões para tentar se reeleger. Ele cita taxistas e motoristas em referência aos beneficiários que receberam auxílio naquele ano eleitoral. O recorte que viralizou nas redes é parte de uma entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador (confira aqui).

Lula acusava seu adversário nas eleições para presidente em 2022, Jair Bolsonaro, de ter comprado votos para tentar se reeleger. Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: O conteúdo verificado aqui circula no Instagram e no WhatsApp. Leitores pediram a verificação pelo número (11) 97683-7490.

O vídeo nas redes começa com o presidente dizendo: “Fui candidato agora nas eleições porque eu tinha consciência que a única chance de derrotar o fascismo era eu”. Uma pesquisa por essa frase no Google leva a uma série de reportagens da imprensa, publicadas dia 2 de julho deste ano. Na data, Lula realizou uma entrevista à Rádio Sociedade da Bahia. A busca também leva à transcrição completa da conversa no site do Planalto (confira aqui).

A entrevistadora perguntou ao presidente como ele via o avanço de candidatos da direita e se ele tinha receio de sofrer etarismo (discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos). Mais adiante em sua resposta, o petista citou indiretamente seu adversário nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro:

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“Então eu sou assim, Silvana, por isso eu sou muito motivado, tenho muita força. Eu, na verdade, fui candidato agora nas eleições porque eu tinha consciência que a única chance de derrotar o fascismo era eu. A única chance. Porque, Silvana, você sabe quanto de recurso foi colocado nos últimos dois anos para tentar ganhar as eleições? O equivalente a US$ 60 bilhões. Eu vou traduzir em reais: 300 bilhões. Para tentar não perder as eleições, comprando votos, dando dinheiro para taxista, para motorista, distribuindo dinheiro para todo mundo, fazendo isenção, fazendo desoneração. Perdeu. Perdeu as eleições. E eu vou contar uma coisa para você. Não volta mais. Porque esse povo vai ter que aprender a gostar da democracia. Vai ter que aprender a conviver de forma civilizada, de forma educada. Um respeitar o outro.”

Reportagem da Reuters, de outubro de 2022, calculou um custo de R$ 273 bilhões envolvendo medidas orçamentárias já colocadas em prática naquele ano e mais compromissos feitos pelo então presidente Jair Bolsonaro nos meses anteriores à eleição. O Estadão detalhou ano passado que o governo Bolsonaro liberou 84% de todo o recurso de auxílios financeiros durante o período eleitoral de 2022, segundo auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU). Apenas entre agosto e outubro, foram pagos R$ 9,77 bilhões do total de R$ 11,65 bilhões previstos no ano em empréstimos consignados do Auxílio Brasil, do Auxílio Caminhoneiro e do Auxílio Taxista.

O valor de 300 bilhões de reais também já foi mencionado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No programa “Conversa com o Presidente”, da TV Brasil, Haddad relacionou o valor à tentativa de reeleição da campanha de Jair Bolsonaro: “Auxílios em véspera de eleições, auxílio caminhoneiro, auxílio taxista, auxílio isso, auxílio aquilo. Bom, na soma total, estamos falando de algo em torno de R$ 300 bilhões”. Segundo o ministro, a conta foi realizada pela equipe de transição do governo Lula.

O Estadão Verifica tentou contato com a Secom do governo federal para entender a fonte da alegação de Lula, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Compra de voto pode levar à reclusão e inelegibilidade

A “compra de voto”, na verdade, é uma prática ilícita, que acontece quando um candidato doa, oferece, promete ou entrega para o eleitor qualquer bem ou vantagem com a finalidade de obter seu voto. Essa prática pode tornar um candidato inelegível por oito anos, conforme a Lei de Inelegibilidade. O Código Eleitoral prevê ainda pena de reclusão de até quatro anos para quem praticar essa conduta.

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Não pesa contra Jair Bolsonaro condenação por compra de votos. Em junho do ano passado, o TSE declarou o ex-presidente inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, pela reunião com embaixadores na qual o então presidente atacou o sistema eleitoral do País com informações falsas.

A acusação de que “Lula teria admitido compra de votos” também foi desmentida pela Reuters, Lupa e pelo Boatos.org.

Como lidar com postagens desse tipo: Falas de presidentes costumam estar transcritas no site oficial do Planalto e em notícias da imprensa. O Estadão Verifica já desmentiu mais peças de desinformação que tiram falas de Lula do contexto original, para acusar crimes. Por exemplo, foi verificado que o presidente não cometeu ilegalidade ao levar 11 contêineres com presentes quando deixou a Presidência. Essa confusão começou com um recorte isolado da Rede TVT, de 4 de março de 2016.

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