Vídeo é editado para parecer que Lula falou em 'tomar cerveja junto' com ladrões de celulares

Trechos de entrevista do ex-presidente a rádio universitária de Pernambuco, em 2017, foram recortados para alterar o sentido

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

Uma entrevista antiga com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi editada por opositores nas redes sociais para parecer que o petista teria defendido roubar celulares "para tomar uma cervejinha". A peça traz essa legenda com um vídeo em que Lula diz uma série de frases recortadas e desconexas uma das outras. O Estadão Verifica encontrou o conteúdo original e constatou que o sentido da fala foi propositalmente manipulado.

 Foto: Estadão

A conversa foi transmitida ao vivo, em 25 de agosto de 2017, na página oficial do político no Facebook e tem pouco mais de 1h de duração. Na ocasião, o líder petista e a presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), conversaram com uma rádio universitária de Pernambuco. Os trechos que foram utilizados aparecem em dois momentos distintos, a partir da faixa dos 13 minutos (veja a entrevista completa abaixo).

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Primeiro, Lula responde a uma pergunta sobre as causas da violência. Ele atribui a incidência de homicídios no Estado ao nível de pobreza: "É uma coisa que está intimamente ligada. Ou seja, o cidadão teve acesso a um bem material, a uma casinha, a um emprego, e de repente o cara perde tudo. Então, vira uma indústria de roubar celular. Para que ele rouba celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança."

Mais tarde, quando o raciocínio já era outro, o ex-presidente comenta sobre o ódio na sociedade, usando como exemplo alguns clubes de futebol locais: "É preciso distensionar para a sociedade perceber que a torcida do Santa Cruz e do Sport não são inimigas. São adversárias durante o jogo, depois vão para o bar tomar cerveja juntos. E ainda deixam o pessoal do Náutico batendo palma do lado." 

Em nenhum momento da gravação o petista defende "tomar cerveja" com uma pessoa que cometeu um crime, nem que esse seria o objetivo de alguém que roubou um aparelho celular, como entendem alguns usuários.

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Segundo uma checagem anterior da Agência Lupa, uma versão estendida desse mesmo vídeo analisado agora pelo Estadão circulou ainda no ano passado na internet. A peça de desinformação vinha acompanhada de um outro trecho distorcido da fala de Gleisi Hoffmann, sobre a programação nacional da TV Globo. O conteúdo aqui verificado acumulou, sozinho, 76 mil visualizações no Facebook.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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