Não há registro de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha afirmado que poderá criar o programa “Mais Enfermeiras” para substituir por estrangeiras as profissionais brasileiras insatisfeitas com a demora em aplicar o Piso Nacional da Enfermagem. Aprovado no ano passado, o piso salarial foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal por impasse quanto ao seu custeio. Em evento com profissionais da área, presidente sinalizou que quer resolver impasse para conceder o piso.
A desinformação circula em vídeo publicado no Facebook. Uma mulher alega que as enfermeiras terão que trabalhar sem piso salarial porque Lula teria afirmado que poderia criar o “Mais Enfermeiras” da mesma forma que criou o programa Mais Médicos. “E quem não quiser trabalhar que saia e ele traz de fora”, diz a responsável pela peça desinformativa, ironizando, em seguida, os eleitores do presidente: “Parabéns pra você que votou no Lula, faça o L e pode começar a procurar outro emprego se não quiser trabalhar com esse salário”.
Não há registro público de que Lula tenha sugerido a criação de um programa similar ao Mais Médicos, porém voltado aos enfermeiros. Além disso, o presidente já declarou publicamente que trabalha para viabilizar o piso salarial nacional. O jornal Correio 24 Horas mostrou que, em recente visita à Bahia, ele tentou acalmar a classe, que exige o cumprimento da lei estabelecendo piso já aprovada pelo Congresso Nacional.
“Vocês podem ter tranquilidade que nós vamos resolver o problema de vocês”, disse Lula na ocasião. “Eu terei o maior prazer de convidar as enfermeiras e enfermeiros do Brasil e dizer: ‘está resolvido o problema de vocês. O governo vai selar o piso da categoria’”, declarou.
Como explicou recentemente o Estadão Verifica, a lei 14.434/22, que instituiu o piso nacional da enfermagem, foi suspensa em setembro de 2022 por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Ele atendeu a um pedido da Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos de Serviços (CNSaúde), que alega se tratar de uma lei “inexequível”, ou seja, que não poderá ser cumprida por suposta falta de recursos. Com 7 votos a 4, a decisão foi confirmada pela Corte.
Em dezembro de 2022, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, promulgou a Emenda Constitucional (EC) 127, que viabiliza o pagamento do piso, direcionando recursos do superávit financeiro de fundos públicos e do Fundo Social para financiar o pagamento para a classe.
De acordo com a assessoria de comunicação da Presidência, a posição do Governo Federal segue a mesma que foi divulgada no site oficial em de fevereiro. Conforme a nota, assinada pelo Ministério da Saúde, uma frente interministerial está trabalhando para acelerar a implementação do piso. “O presidente Lula e todos os ministros e ministras envolvidos nessas ações valorizam a luta histórica dessa categoria por merecido reconhecimento salarial e a importância desses trabalhadores essenciais para o funcionamento de todos os serviços de saúde do Brasil”, diz o texto. O assunto foi definido como prioritário desde o período de transição.
No dia 13 de fevereiro, conforme o Ministério da Saúde, um grupo de trabalho foi instituído para avançar, de forma célere, no texto final da Medida Provisória para implementação do piso.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.