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Fala de Lula sobre educação para pobres e negros é retirada de contexto

Trecho foi recortado de discurso em ato de campanha na PUC, em outubro de 2022; petista defendia o acesso à universidade de grupos sociais

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Foto do author Clarissa Pacheco

O trecho de uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um evento de campanha foi retirado de contexto e circula nas redes sociais de forma enganosa. Um post usa um trecho de menos de dez segundos de fala para insinuar que o petista afirmou que pretos e pobres não têm que estudar, apenas trabalhar. Na verdade, Lula criticava essa ideia, e não a reforçava. O vídeo, contudo, omite o contexto original da fala.

 Foto: Reprodução

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O discurso foi feito durante um evento chamado ‘Ato em defesa da democracia e do Brasil com Lula e Haddad’, que ocorreu no Teatro TUCA da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 24 de outubro de 2022. Com mais de 11 mil curtidas só no Instagram, o vídeo que viralizou na web mostra apenas o momento em que Lula diz: “Pobre não tem que aprender, pobre tem que trabalhar. Negro não tem que aprender, negro tem que trabalhar”. O corte e a falta de contexto levam a crer que essa seria a opinião do presidente.

Na verdade, ele acusava “a elite política do País” de pensar assim e criticava essa visão. Ele afirma: “Nós precisamos provar: pobre, negro e nordestino é gente, e todo mundo quer ter o direito de se desenvolver e quer ter oportunidade”. Isso, porém, não aparece no vídeo viral, assim como todo o contexto da fala ficou de fora.

O trecho recortado para ser transformado em peça de desinformação é do final da transmissão, que durou mais de três horas. A partir de 2:49:39, o então candidato à Presidência da República afirma que os pobres são pobres porque não tiveram oportunidades, e que educação não será gasto, e sim investimento em seu governo. A fala completa é:

“Nós já provamos que é possível fazer as coisas. Nós já provamos pra eles que o pobre não gosta de ser pobre. Acha que alguém é pobre porque quer? Acha que alguém é peão de fábrica porque quer? Acha que alguém é faxineiro porque quer? Acha que alguém é lixeiro porque quer? Não. A gente só é porque não teve oportunidade, e é por isso que no nosso governo, educação não é gasto, é investimento, e a gente vai voltar a investir muito em educação. Porque senão, esse país nunca será um país desenvolvido, nós vamos passar mais um século sendo o país, sabe, do futuro, sendo um país, sabe, em pré-desenvolvimento. Não é possível continuar nesse atraso. Nós temos que fazer no século 21 aquilo que a gente não conseguiu fazer no século 20. Já que eu tô no meio de muita gente esperta, Haddad, o Haddad sabe que eu dizia muito isso, o que é uma vergonha é que a Argentina já tinha feito... Em 1919, a Argentina já tinha quantas universidades? O Brasil foi ter a sua primeira em 1920. Em 1920 foi ter a primeira universidade nossa, uma demonstração de que a elite política do Brasil nunca teve interesse que o povo pobre chegasse à universidade. E por quê? Porque permanecia e prevalecia uma mentalidade escravista: pobre não tem que aprender, pobre tem que trabalhar. Negro não tem que aprender, negro tem que trabalhar. E nós precisamos provar: pobre, negro e nordestino é gente, e todo mundo quer ter o direito de se desenvolver e quer ter oportunidade. É isso, nada mais do que isso. Nós queremos apenas oportunidade, que as pessoas tenham a chance de disputar a mesma vaga, o mesmo emprego”.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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