O que estão compartilhando: vídeo mostra helicópteros do governo de São Paulo resgatando vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul; em outro trecho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz ao governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), que helicópteros de socorro da Defesa não podiam decolar por falta de teto para voo.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. De fato, no dia 1º de maio Lula informou Leite por telefone que oito helicópteros da Defesa não conseguiriam chegar ao Rio Grande do Sul naquela data por causa do mau tempo. No entanto, naquela ocasião já havia aeronaves do governo federal em atuação no Estado e os outros oito helicópteros atrasados chegariam no dia seguinte. Atualmente, são 42 aeronaves federais usadas nas operações de resgate. As imagens que mostram o socorro prestado por equipes paulistas foram divulgadas no dia 3 de maio. Foram enviadas três aeronaves para o auxílio aos gaúchos: uma no dia 1º de maio e outras duas no dia 5.
Saiba mais: O vídeo mostra o trecho de uma conversa entre Lula e Leite, no dia 1º de maio, quando o presidente disse ao governador que o Ministério da Defesa estava com oito helicópteros prontos para auxiliar no resgate de vítimas das chuvas no Estado, mas que não haviam levantado voo ainda por causa do mau tempo. Leite confirma a informação na conversa.
Em seguida, passam a ser exibidas imagens de resgates feitos usando helicópteros da Polícia Militar de São Paulo, como se apenas o governo paulista estivesse atuando no local. A legenda que acompanha o vídeo chama o presidente de “miserável” e questiona “desde quando” falta teto para voo no Rio Grande do Sul.
Na realidade, helicópteros do Exército tiveram dificuldades para adentrar o espaço aéreo gaúcho, justamente por causa das chuvas. No dia seguinte, as aeronaves conseguiram chegar e atuam nos resgates juntamente com outras do governo gaúcho e de outros Estados. Atualmente, são 42 aeronaves federais, sendo 16 das Forças Armadas (15 helicópteros e um avião de carga). Ao todo, mais de 46 mil pessoas foram resgatadas por todas as forças de segurança e voluntários, segundo balanço divulgado nesta segunda-feira, 6, pela Operação Taquari 2, coordenada pelas Forças Armadas.
O vídeo enganoso utiliza cenas de resgate feitas por helicópteros da Polícia Militar de São Paulo, sem especificar a data em que as imagens foram feitas. As imagens são reais, e parte delas foi publicada no Instagram do governo paulista no dia 3 de maio.
Leitores do Estadão Verifica pediram a checagem deste conteúdo através do WhatsApp, no número (11) 97683-7490. O conteúdo também foi compartilhado no Instagram.
Mau tempo realmente atrapalhou chegada de helicópteros
No vídeo da conversa com Leite, divulgado no perfil de Lula, o presidente afirma que iria no dia seguinte, 2 de maio, ao Rio Grande do Sul para visitar as regiões atingidas. O petista acrescenta que, além dos helicópteros do Ministério da Defesa, não haveria limite para o envio de pessoal para ajudar às vítimas das chuvas.
No dia 2, Leite publicou um vídeo informando que estava se deslocando para a cidade de Santa Maria, onde encontraria com o presidente. Ele confirmou que os helicópteros do Exército, que deveriam ter chegado na manhã do dia 1º de maio, ainda não haviam conseguido chegar, mas agradeceu ao governo de São Paulo porque um helicóptero já estava atuando nos resgates junto com aqueles do próprio governo do Rio Grande do Sul.
O governador gaúcho também disse que esperava a chegada dos helicópteros da Defesa para que se juntassem a duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), que estavam atuando nos resgates. Ou seja, naquela data já havia forças federais no Estado, como fica claro por este post feito pela FAB no dia 2, após o resgate de uma criança de 2 anos. As equipes informaram que tentavam fazer o resgate desde a véspera, “mas as condições climáticas impossibilitavam o cumprimento da missão”.
Há notícias na imprensa de que os helicópteros enviados para ajudar nas buscas realmente ficaram parados por falta de condições de voo. Segundo a CNN, seis helicópteros enviados pelo governo federal ficaram parados em Criciúma (SC) no dia 2 de maio.
O governo de São Paulo anunciou na mesma data que enviaria reforços para auxiliar nos resgates. A demanda surgiu após um primeiro helicóptero chegar ao Rio Grande do Sul no dia 1º. A previsão era de que mais dois chegassem ainda na tarde de 2 de maio, mas eles só conseguiram chegar no dia 5.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que dois helicópteros Águia da PM decolaram do Aeroporto Campo de Marte no dia 4 e fizeram duas paradas previstas no estado de Santa Catarina. De lá, seguiram para o Rio Grande do Sul. Com o reforço, a força-tarefa do governo de São Paulo fez 1,8 mil atendimentos até esta segunda-feira, 6.
No dia 3, o aeroporto de Porto Alegre, Salgado Filho, fechou. O terminal ficou tomado pela água. Nesta segunda, 6, a Fraport Brasil, que administra o terminal, emitiu um alerta de voos suspensos até 30 de maio.
Governo federal tem 42 helicópteros e aeronaves atuando no Rio Grande do Sul
Nesta segunda, 6, o Ministério da Defesa divulgou um balanço das ações no Rio Grande do Sul e informou que 46 mil pessoas tinham sido resgatadas pelo trabalho conjunto de órgãos federais, estaduais e municipais. Desde o dia 30, as Forças Armadas coordenam a Operação Taquari 2 em solo gaúcho.
Entre militares, policiais e agentes, há 15 mil pessoas trabalhando nos resgates. Eles contam com um efetivo de 42 aeronaves, sendo 16 apenas das Forças Armadas. Também há 243 embarcações e 2.500 viaturas e equipamentos de engenharia sendo utilizados pela equipe de trabalho.
Desde domingo, 5, a FAB passou a utilizar, além de aeronaves, um drone não tripulado para identificar pessoas em locais isolados. No mesmo dia, chegou a Porto Alegre um helicóptero da Receita Federal, que também disponibilizou drones para a operação.
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Número de mortos chega a 90; 132 pessoas estão desaparecidas
Há uma semana, o Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas e enchentes. O balanço mais recente, divulgado na manhã desta terça-feira, 7, é de 90 mortos e 132 desaparecidos. O desastre climático é o maior da história do Estado, atingiu 388 municípios e deixa pessoas ilhadas em diversas regiões. São mais de 203 mil pessoas desabrigadas.
Apesar do forte efetivo empregado nos resgates, o mau tempo dificulta os trabalhos, mesmo com o uso de aeronaves. Uma das recomendações da FAB é que as pessoas que estão em locais isolados saiam dos abrigos e sinalizem ao ouvirem o barulho de aeronaves, para que possam ser resgatadas.
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