É falso que vídeo viral mostre luta com competidora trans

Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram embate entre um homem e uma mulher, no qual nenhum dos dois lutadores é trans; filmagem é de evento na Polônia em 2021

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Por Flavio Lobo

É falso que um vídeo que viralizou nas redes sociais recentemente mostre uma luta entre duas mulheres e que uma delas se identifique como trans. Na realidade, as imagens compartilhadas no Facebook e no Kwai retratam um embate entre um homem e uma mulher, no qual nenhum dos dois participantes se apresenta como transgênero. A filmagem foi feita na Polônia em 2021.

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Pessoas trans são aquelas que se identificam com um gênero diferente daquele que corresponde ao seu sexo biológico no nascimento. Já as pessoas que se reconhecem pelo mesmo gênero que foi designado ao nascer são chamadas cisgênero.

O vídeo checado aqui circula nas redes com o texto “Nikolas Ferreira está certo ou errado? – Os trans tomando o lugar das mulheres”. O parlamentar mineiro fez um discurso na semana passada na Câmara dos Deputados contra “homens que se sentem mulheres”, o que fez com que ele se tornasse alvo de três notícias-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) por transfobia e de um abaixo-assinado pedindo sua cassação.

Michal Przybylowicz, o "Ken Polonês", e sua oponente, Wiktoria Domzalska, se apresentam para a luta no evento MMA-VIP realizado na Polônia, em outubro de 2021 Foto: Reprodução

Segundo o site de notícias bósnio Mondo e sites de apostas e sobre esportes como o Zawód Typer, o BJJ World e o Interia Sport, a disputa, realizada na Polônia em outubro de 2021, integrou o evento “MMA-VIP 3″ e foi entre um rapaz apresentado como “estrela do Instagram” e uma estudante universitária, Wiktoria Domzalska. O jovem, conhecido como “Polski Ken” (“Ken Polonês” ou “Polaco Ken”), venceu a luta em cerca de 30 segundos.

Michal Przybylowicz, o “Ken Polonês” já foi personagem de matérias jornalísticas de veículos internacionalmente conhecidos, como o jornal britânico Daily Mail. Em 2018, o tabloide londrino publicou um perfil do jovem polonês intitulado “Vidente chamado de ‘boneco Ken polonês’ graças à sua semelhança com o personagem de plástico insiste que sua aparência se deve a ‘tratamentos de beleza’ e não à faca do cirurgião”. O personagem de plástico em questão é o boneco Ken, par da boneca Barbie, com o qual, segundo a cobertura midiática, Przybylowicz se parece.

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A promoção do evento e os veículos que o divulgaram foram unânimes em apresentar a disputa como de um homem contra uma mulher. Przybylowicz se apresenta como homem e não há notícia de que poderia ser uma mulher transgênero. A utilização de imagens da luta entre Przybylowicz e Domzalska para disseminar a ideia de uma suposta injustiça cometida contra mulheres cis que competem com mulheres trans é, portanto, uma falsificação.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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