A saída do Brasil da rede atacadista Makro não começou após a chegada à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva. Um vídeo que viralizou no Instagram mostra uma das lojas do Makro com prateleiras vazias e atribui o fechamentos das unidades e a demissão de funcionários ao atual governo, mas isso não é verdade. O Makro, que pertence ao grupo holandês SHV, começou a se desfazer de suas unidades no Brasil em 2020, quando repassou 30 lojas ao Atacadão. No ano passado, o grupo contratou o banco Santander para vender as últimas 24 lojas – a venda de 16 delas, além de 11 postos de combustível, foi concretizada este ano.
O Makro está presente no Brasil há mais de 50 anos, mas os sinais de que a rede atacadista deixaria o País começaram há três. Em fevereiro de 2020, como noticiou o Estadão, a rede francesa Carrefour, que controla o Atacadão, anunciou a compra de 30 lojas do Makro ao redor do Brasil – isso porque o Makro havia decidido operar apenas em São Paulo, onde manteve 24 lojas. As 30 unidades compradas pelo Carrefour custaram R$ 1,95 bilhão.
Já em abril do ano passado, ou seja, antes da eleição de Lula, o Estadão apurou que o grupo se preparava para deixar definitivamente o Brasil, colocando à venda as 24 lojas remanescentes em São Paulo. O banco Santander foi contratado para encontrar um comprador disposto a pagar cerca de R$ 2 bilhões pelas lojas.
Na época, o Estadão publicou que, ao se desfazer da maior parte de suas lojas em diversos Estados brasileiros e se concentrando só em São Paulo, o Makro havia ficado pouco competitivo em relação às concorrentes atacadistas, como o Atacadão (do grupo Carrefour) e o Assaí (do grupo francês Casino), que expandiram a operação, em vez de reduzir. Por isso, a empresa decidiu desistir do mercado no Brasil.
Outra razão para a saída, publicada no ano passado, foi o fato de a matriz da SHV já ter deixado o negócio do varejo na Europa há mais de 20 anos e também ter saído da Ásia e da África – a marca Makro ainda existe, mas, ao menos na Europa, foi licenciada a um grupo alemão.
Venda para o Grupo Muffato
O Estadão Verifica procurou a rede Makro para questionar as razões da saída do Brasil e o número de funcionários demitidos com a venda das lojas, mas a empresa disse que não comenta sobre o assunto. Enviou por nota, apenas, o anúncio feito em janeiro deste ano a respeito a venda dos imóveis e alguns ativos de 16 lojas e 11 postos de combustíveis que também pertenciam ao grupo, dono da Supergasbras.
A venda foi de fato assessorada pelo Santander. Segundo o Makro, o Grupo Muffato, do Paraná, comprou imóveis e determinados ativos relativos a lojas e postos de combustível localizados em Guarulhos, Marilia, Piracicaba, Presidente Prudente, Santo André, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, São Jose dos Campos, Sorocaba Norte, Sorocaba Sul e Taubaté. Também foram vendidos os imóveis das lojas do Butantã, Campinas Santos Dumont, Interlagos, Lapa e Mogi das Cruzes, que não possuem posto de combustível associado.
Das 24 lojas remanescentes em São Paulo após a venda de 2020, oito ficaram de fora da negociação, e o Makro não informou se há um possível comprador para elas. São as unidades de Vila Maria, Santos, Praia Grande, Ribeirão Preto, Bauru, Franca, Osasco e Campinas-Dom Pedro, que, segundo a empresa, continuam com a operação usual.
“Em um mundo em constante mudança, estamos sempre analisando nossos negócios, em busca de maior eficiência, produtividade e novas oportunidades. Nesse contexto, fomos contatados pelo Grupo Muffato, que identificou imóveis e ativos extremamente valiosos para o desenvolvimento de seu próprio negócio de varejo no País, e fez uma oferta por tais imóveis e ativos. Assim, o Makro Brasil decidiu seguir com a venda desses imóveis e ativos”, disse em nota Antero Filippo, CEO do Makro Brasil.
Funcionários desligados
O Makro não respondeu quantos funcionários foram demitidos com a venda das lojas no Brasil, e informou apenas que, somando as 110 unidades no Brasil, Argentina, Colômbia e Venezuela, emprega 7,9 mil trabalhadores. Em fevereiro, o site especializado BP Money falou em demissão de 123 funcionários, o que não foi confirmado pela empresa.
Em março, o jornal O Diário de Mogi, de Mogi das Cruzes (SP), publicou que a unidade na cidade estava colocando produtos em promoção e as prateleiras começavam a ficar vazias. Funcionários disseram que deveriam se preparar para ser desligados e, possivelmente, recontratados pelo Grupo Muffato, que comprou a loja.
Não foi possível identificar, no vídeo, em qual unidade do Makro as imagens foram feitas, embora seja evidente se tratar de uma loja no Estado de São Paulo, único com operação do Makro desde 2020.
Em nota, o Grupo Muffato confirmou a compra dos imóveis e ativos, aprovada recentemente pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas ressaltou que não se trata de uma transição, e sim da compra de imóveis. “A intenção do Grupo Muffato é reestruturar e modernizar tais imóveis para atuar com sua bandeira de atacarejo, o Max Atacadista. Em algumas cidades o banco de talentos já está aberto para novos cadastros. O Grupo Muffato está comprometido com a geração emprego, renda e negócios para o Brasil e acredita na força econômica do país”, diz a nota.
Os dados mais recentes do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) são do mês de fevereiro, quando o Brasil teve um saldo positivo de 241.785 postos de trabalho, resultado melhor do que o de janeiro, quando o saldo tinha sido de 84.571.
Os dados gerais apontam que o setor de comércio foi o único a ter um saldo negativo de empregos em fevereiro – 419.008 admissões, contra 420.333 demissões, alcançando saldo negativo de 1.325 postos de trabalho. Já o setor de comércio atacadista de produtos alimentícios de geral, foram 8.393 admissões e 7.371 desligamentos, com saldo positivo de 1.022 empregos.
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