O que andam compartilhando: vídeo afirma que 15 médicos especialistas nas áreas de oncologia, epidemiologia e pneumologia estariam na lista de passageiros do voo que caiu em Vinhedo (SP). Segundo o vídeo, o acidente teria sido planejado por uma “elite mundial” para impedir a denúncia que fariam a respeito da orquestração de uma nova pandemia com a “doença X”.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Eram quatro médicos no voo, e não 15, de acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR). Apenas duas profissionais eram especializadas em oncologia; havia ainda um radiologista e uma pediatra. Não há ligação comprovada entre as vítimas e pesquisas sobre uma “doença X” – termo usado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma doença que possa afetar o mundo no futuro. Consultada pelo Verifica, a OMS esclareceu que o vídeo tem informações falsas (leia mais abaixo).
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Vale ressaltar que as causas do acidente em Vinhedo ainda não foram esclarecidas. O Estadão mostrou que o voo enfrentou condições meteorológicas “caóticas”, mas ainda não há uma conclusão oficial das investigações. A Força Aérea Brasileira (FAB) estima cerca de 20 dias para a divulgação de um relatório preliminar sobre o acidente.
Saiba mais: A confusão com a quantidade de profissionais da saúde entre os passageiros foi gerada por uma fala do vice-presidente do CRM-PR, Eduardo Baptistella. Ele divulgou inicialmente que eram 15 médicos entre as vítimas; depois, falou outro número equivocado, 8. De acordo com Baptistella, a imprecisão foi causada pelo adiantamento das passagens aéreas de alguns passageiros.
Segundo o CRM-PR, as oncologistas que morreram no acidente são Arianne Albuquerque Risso (CRM-PR 52.433) e Mariana Comiran Belim (CRM-PR 42.998). Entre as vítimas também consta o radiologista José Roberto Leonel Ferreira (CRM-PR 11.741) e a pediatra e alergista Sarah Sella Langer (CRM-PR 30.485). O Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo identificou todas as pessoas que estavam a bordo.
O autor do vídeo afirma que os médicos mortos eram especialistas em sequenciamento genético de vírus e que eles teriam conseguido “sequenciar toda a estrutura genômica viral do vírus covid no Brasil e isolar as principais cepas”, mas isso não é verdade. Não há evidências que nenhum dos médicos vitimados no acidente tenha trabalhado com sequenciamento genético em sua carreira.
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O Estadão Verifica consultou o currículo Lattes das vítimas, plataforma onde pesquisadores registram atividades acadêmicas. Apenas Mariana Belim registrou experiência em um projeto relacionado à covid-19. A profissional participou de uma pesquisa na área de insuficiência renal aguda nos pacientes em unidade de terapia intensiva no Hospital Universitário Regional de Maringá.
Outra alegação falsa do vídeo é que os profissionais mortos iam para o Congresso Brasileiro de Oncologia em São Paulo. Na realidade, esse evento, organizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, está programado para os dias 7 a 9 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
Na verdade, a participação seria de dois médicos que estavam no voo e ocorreria em um congresso de oncologia entre os dias 9 e 10 de agosto, em Curitiba. A conferência era organizada pela empresa farmacêutica Astrazeneca, mas foi cancelada após o acidente. Os painéis tinham como interesse a discussão da prática de especialidade de oncologia no setor público.
OMS nega rejeição ao trabalho dos médicos
O vídeo falso diz que os médicos que morreram no voo teriam enviado relatórios à OMS sobre o sequenciamento genético da covid-19, mas foram rejeitados pela instituição. O autor também alega que os profissionais foram proibidos de participarem de um comitê da entidade.
Em nota, a OMS desmentiu essa alegação. A entidade disse que, desde o surgimento do coronavírus, tem incentivado governos, cientistas e pesquisadores a realizar o sequenciamento do vírus causador da doença e suas mutações. “Essa colaboração internacional permite um melhor entendimento do comportamento, circulação e eventuais mudanças no vírus, o que facilita e agiliza a tomada de ações coordenadas para prevenir e conter sua propagação no mundo”, afirmou.
A OMS afirma também encorajar que os resultados e dados de sequenciamento sejam divulgados de forma pública para a sociedade. A organização destaca que não é necessário participar de um comitê nem receber autorização da OMS para apresentar informações de sequenciamento. De fato, não é difícil encontrar pesquisas acadêmicas sobre sequenciamento genético da covid publicadas em revistas científicas.
O responsável pelo vídeo ainda comenta que os médicos que os médicos que morreram teriam recebido prêmios pelo sequenciamento, mas o Verifica não encontrou nenhum registro disso. Também não é verdade que as premiações tenham sido rejeitadas pela OMS. A organização respondeu à reportagem que não monitora, aprova ou rejeita qualquer tipo de premiação dada ou recebida por outras pessoas ou instituições. Todos os prêmios concedidos pela OMS estão listados de forma pública. Na lista de prêmios da organização, não há nenhuma menção aos quatro profissionais de saúde que foram vítimas do acidente.
O que é doença X?
O vídeo desinforma ao dizer que a queda do avião é uma sabotagem de uma suposta “elite mundial” que temia a descoberta do vírus da “doença X”. Até o momento, não há conclusão sobre os motivos que levaram a aeronave a perder a sustentação e cair em São Paulo. Análises preliminares divulgadas pela imprensa indicam interferência climática e acúmulo de gelo nas asas no avião como possíveis fatores contribuintes para a queda. De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidades Aeronáuticos (Cenipa), o avião estava com a documentação em dia e autorizado a voar.
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A “doença X” é um termo que a OMS reservou para novos patógenos que possam causar doenças potenciais de forma pandêmica no futuro. A OMS tem uma lista de patógenos (bactérias, vírus, fungos ou parasitas) que são observados por cientistas frequentemente. O termo pode ser direcionado para qualquer nova doença, como o covid-19 foi na época anterior à pandemia.
Recentemente, a OMS atualizou o número de possíveis doenças que podem desencadear uma nova pandemia para 27. A lista inclui também a “doença X”. Veja abaixo.
- Mammarenavirus lassaense (Febre de Lassa);
- Vibrio cholerae (Cólera);
- Klebsiella pneumoniae (Pneumonia);
- Yersinia pestis (peste pulmonar, peste septicêmica ou peste bubônica);
- Shigella dysenteriae 1 (Shigelose);
- Salmonella enterica (Salmonelose não tifoide);
- Orthohantavirus hantanense (Febre hemorrágica);
- Orthohantavirus sinnombreense (Febre hemorrágica das Américas);
- Orthonairovirus haemorrhagiae (Febre hemorrágica da Crimean-Congo);
- Bandavirus dabieense (Febre Grave com Síndrome de Trombocitopenia (SFTS);
- Subgênero Merbecovírus (Vírus Respiratório do Oriente Médio);
- Subgênero Sarbecovírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave);
- Orthoebolavirus sudanense (Ebola pelo vírus Sudão);
- Orthomarburgvirus marburgense (Doença de Marburg);
- Orthoebolavirus zairense (Ebola);
- Orthoflavivirus flavi (Febre amarela);
- Orthoflavivirus dengue (Dengue);
- Orthoflavivirus zikaense (Zika);
- Alphainfluenzavirus influenzae H1,H2,H3,H5,H6,H7,H10 (gripe comum, gripe aviária e gripe suína);
- Henipavirus nipahense (Nipah);
- Enterovirus coxsackiepol (Doença mão-pé-boca);
- Orthopoxvirus variolae (Varíola);
- Orthopoxvirus monkeypo (varíola dos macacos);
- Lentivirus humimdef1 Alphavirus chikungunya (Chikungunya);
- Alphavirus venezuelan (Encefalite Equina Venezuelana);
- Patógeno X.
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