É falso que Mercado Livre esteja vendendo Smart TV por R$ 247

Vídeo manipula trecho de reportagem e imita aparência de site de vendas para aplicar golpe

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Foto do author Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: que o Mercado Livre, por conta de uma dívida judicial, está sendo obrigado a vender um lote inteiro de produtos com 90% de desconto, entre eles uma Smart TV 4K de 50 polegadas por R$ 247.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo publicado no Facebook usa a imagem da jornalista Adriana Reid, ex-apresentadora do Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, e cria um texto completamente diferente da notícia original para induzir as pessoas a clicarem em um link malicioso.

Na verdade, ela falava sobre um investimento bilionário do Mercado Livre no Brasil em 2023, e não de uma ordem judicial para vender produtos com 90% de desconto. Ao final do vídeo, há um link que leva a um site com a mesma identidade visual da empresa, mas com um endereço diferente.

Ao clicar em comprar o produto, o cliente é levado a um site que imita a identidade visual do Mercado Pago, sistema de pagamentos da empresa, mas que também tem um endereço diferente do original. A página pede informações como endereço, CPF, e-mail e oferece diversas opções de pagamento para uma Smart TV que custaria apenas R$ 247.

Em nota, o Mercado Livre informou que “não foi notificado recentemente por nenhum órgão para o cumprimento de ofertas ligadas a essa categoria e que combate ativamente tentativas de golpe e fraude de engenharia social”. Para isso, diz a nota, a empresa “investe massivamente em segurança, tecnologia e equipes especializadas, além de todo trabalho de conscientização de usuários e da parceria com o poder público para a investigação de crimes de cibersegurança”.

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Vídeo viral manipula trecho de reportagem para tentar aplicar golpe com venda de TV. Foto: Reprodução/Facebook Foto: Reprodução/Facebook

Saiba mais: o vídeo, que acumula mais de 185 mil visualizações no Facebook, usa uma tática comum: a primeira imagem a aparecer é a de um jornalista ou o trecho de uma reportagem. O que vem a seguir, contudo, são imagens genéricas cobertas por uma voz parecida com a original.

Ao final, o vídeo leva a um link malicioso, que imita a aparência do site cujo nome está sendo usado para aplicar um golpe. Neste caso, a imagem utilizada é a da jornalista Adriana Reid, ex-apresentadora do Jornal da Manhã, da Jovem Pan News. A tela é cortada, mas é possível ver a chamada sobre “mercado eletrônico” e alguns trechos exibidos pelo gerador de caracteres: “entra em dívida judicial” e “lote inteiro com 90%”.

O primeiro passo foi buscar notícias sobre uma dívida judicial do Mercado Livre que tivesse levado a empresa a vender produtos com 90% de desconto, mas nada foi encontrado.

Na segunda vez em que a tela da Jovem Pan aparece no conteúdo enganoso, é possível ler no rodapé a seguinte frase: “Liga governador do Acre a esquema”. Foi a partir disso que o Estadão Verifica localizou o trecho exato do Jornal da Manhã usado no golpe.

Notícia de março de 2023

No dia 16 de março do ano passado, a imprensa brasileira noticiou a Polícia Federal apontou um apartamento no bairro dos Jardins, em São Paulo, avaliado em R$ 6 milhões, como indício de ligação do governador do Acre, Gladson Cameli (PP), a um esquema de corrupção e desvio de dinheiro em contratos com empresas da construção. Em novembro do ano passado, a Procuradoria Geral da República pediu o afastamento dele do cargo.

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O Verifica, então, buscou por edições do Jornal da Manhã da Jovem Pan News em datas próximas. Na edição do dia 17 de março do ano passado, Adriana Reid usava a mesma roupa que aparece no vídeo investigado. Com 1h29 de programa, às 7h24, ela chamou uma reportagem sobre um investimento bilionário do Mercado Livre no Brasil: R$ 19 bilhões em 2023. No rodapé da imagem, ao longo da matéria, o jornal exibe manchetes das notícias de destaque daquele dia. Em uma delas é possível ler: “Imóvel em SP liga governador do Acre a esquema de corrupção, aponta PF”.

No dia 17 de março de 2023, Jovem Pan News veiculou reportagem sobre o Mercado Livre, mas tema era investimento bilionário no Brasil, e não venda de produtos com 90% de desconto. Foto: Reprodução de Vídeo/Jornal da Manhã/Jovem Pan News Foto: Reprodução de Vídeo/Jornal da Manhã/Jovem Pan News
Trecho do Jornal da Manhã da Jovem Pan News de 17 de março de 2023 mostra que, durante reportagem sobre o Mercado Livre, também foi noticiada operação contra governador do Acre, que aparece em vídeo viral.  Foto: Foto: Reprodução de Vídeo/Jornal da Manhã/Jovem Pan News

Caracteres editados

Embora o Mercado Livre seja tema de uma reportagem durante o jornal daquele dia, não aparece em nenhum momento uma referência a uma suposta dívida judicial ou à venda de produtos com 90% de desconto. Na verdade, o texto que aparece na parte de baixo da tela foi editado, enquanto o verdadeiro é: “Comércio Eletrônico – Mercado Livre investirá R$ 19 bilhões no Brasil em 2023 – Empresa quer focar em logística, tecnologia e banco”.

O conteúdo falso foi publicado no Facebook em 26 de janeiro deste ano, mas não poderia mesmo ser verdadeiro, nem atual. Isso porque Adriana Reid não faz mais parte da equipe da Jovem Pan News desde julho de 2023. No Instagram, Adriana confirmou o desligamento e disse que a saída ocorreu após ela pedir uma mudança de horário.

Uma das estratégias do vídeo investigado é usar links parecidos com o verdadeiro e criar sites com uma aparência que imita a do Mercado Livre, numa tentativa de enganar e convencer as vítimas do golpe. Segundo a empresa, ações educativas com clientes e vendedores têm surtido efeito nos últimos anos. Mesmo assim, o Mercado Livre orienta que toda comunicação e transação entre usuários seja realizada dentro da plataforma.

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Dados pessoais nunca devem ser compartilhados e as pessoas não devem clicar em links suspeitos. “É recomendável ainda verificar os anúncios diretamente na plataforma, o remetente de e-mails recebidos e desconfiar de mensagens via WhatsApp, e-mail ou SMS sem que o usuário tenha solicitado atendimento”.

Se houver qualquer suspeita, o usuário deve consultar os dados de transações dentro da própria plataforma, verificar os Termos e Condições de Uso e a seção de Segurança, além de acionar os canais de atendimento oficiais.

O que podemos aprender com esta checagem: Cada vez mais, publicações nas redes sociais têm simulado promoções em sites e compras com preços impraticáveis, sob a justificativa de que há uma ordem judicial para que os produtos sejam vendidos com um alto desconto. Em, geral, esses posts contêm links ao fina, e eles costumam imitar os sites originais. É importante ficar atento.

Neste caso, o link suspeito se chamava “mercadollivre.com”, com duas letras “L”, quando, na verdade, o site da empresa tem apenas um “L” - “mercadolivre.com.br”. Ao clicar, o endereço mudava para “ofertasbrasilhoje.online”. Já no local de pagamento, a página era parecida com a do Mercado Pago, mas o endereço - “pagarseupedido.online” - é bem diferente do verdadeiro: “mercadopago.com.br”.

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