O que estão compartilhando: mensagem encaminhada no WhatsApp dizendo que uma “ministra do atual governo do PT” declarou em evento que o açúcar vem do mel, da produção de abelhas. Parte dos conteúdos cita nominalmente a ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Quem fala no vídeo é uma moradora do bairro de Pirituba, em São Paulo, durante encontro de mulheres com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 30 de abril do ano passado. Ela se apresenta no evento como uma das lideranças da Ocupação Vila Atlântica e faz um apelo pela redução no preço dos alimentos, mencionando três produtos da cesta básica: óleo de cozinha, café e açúcar.
Saiba mais: o Estadão Verifica recebeu diversos pedidos de leitores para checar o conteúdo pelo número de WhatsApp (11) 97683-7490. A mensagem que circula no aplicativo de mensagens começa com a frase “Não pode rir. Ela é ministra do atual governo do PT” e aparece junto a um vídeo mostrando o discurso de uma pessoa não identificada nas imagens.
O painel que aparece ao fundo oferece pistas de que se trata de um evento oficial de mulheres com Lula sobre o direito à alimentação. No trecho de 40 segundos, a pessoa diz ao microfone: “O óleo vem da nossa terra, do nosso Brasil, da nossa plantação. Custa R$ 10 o litro de óleo. O café está R$ 25,90, e o açúcar, R$ 6. De onde vem o nosso açúcar? Do mel, da produção de abelha do nosso Brasil”.
O equívoco sobre a origem do açúcar, produzido no Brasil principalmente a partir da cana, é usado para desqualificar a fala e insinuar que ministros do governo Lula não teriam conhecimento sobre o assunto. Parte das mensagens que circulam nas redes citam nominalmente a ministra dos Povos Originários, Sonia Guajajara, como se fosse dela a autoria da frase.
A informação é facilmente rebatida a partir de uma busca simples no Google com os termos evento, Lula, mulheres e alimentação. Entre os primeiros resultados surge um encontro transmitido pelo Partido dos Trabalhadores, no dia 30 de abril de 2022, com o título “Lula discute custo de vida com mulheres na Brasilândia, em São Paulo”.
O material completo revela que a pessoa se identifica como Dayane, de 41 anos, e que ela representa a Ocupação Vila Atlântica, situada em Pirituba e próxima ao Pico do Jaraguá. Mãe de seis filhos e avó de oito netos, a mulher pede ao então pré-candidato à Presidência que reduza o preço dos alimentos da cesta básica e ajude a comunidade a obter água tratada, luz e esgoto do poder público, além de abastecer os medicamentos no posto de saúde e oferecer merenda escolar de melhor qualidade.
Dayane conversou com o Estadão e lamentou que pessoas estejam usando o material para fazer piada e jogo político nas redes sociais. “Pegaram uma parte que eu falei errado e ignoraram todo o resto”, disse. O Ministério dos Povos Originários também foi procurado por e-mail, mas não retornou o contato.
O mesmo boato foi analisado pela Lupa e classificado como falso.
Como lidar com postagens do tipo: a mensagem analisada nesta checagem traz informações genéricas, o que deve servir de sinal de alerta antes de encaminhar aos seus contatos. Alguns não mencionam, por exemplo, quem seria exatamente a suposta ministra do governo Lula — o que tornaria muito mais fácil para quem recebe o conteúdo procurar fotos e comparar com o rosto da pessoa que aparece nas imagens.
O vídeo é editado por uma página desconhecida do Tiktok que trata de mercado financeiro, outro aspecto que aumenta a desconfiança. Por fim, não menciona onde, quando e por quem foi gravado. Nesses casos, o melhor a se fazer é pesquisar sobre a história no Google. Alguma agência de checagem já pode ter esclarecido o assunto. Se não encontrar nenhum registro, evite passar adiante.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.