Ministro da Defesa não ‘desmentiu’ Lula, nem chamou 8 de Janeiro de ‘narrativa absurda’

Declaração de José Múcio foi tirada de contexto nas redes sociais; em entrevista na íntegra, ele defende as Forças Armadas e alega que a instituição agiu com responsabilidade

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Foto do author Gabriel Belic

O que estão compartilhando: que o ministro da Defesa, José Monteiro Múcio, afirmou que ideia de golpe no 8 de janeiro é uma “narrativa absurda”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso, porque está fora de contexto. Publicações virais replicam um trecho de entrevista do ministro José Múcio à CNN Brasil. “Não passou de narrativa: a ideia de golpe é absurda. O ministro da Defesa desmente e humilha Lula e Xandão”, diz a legenda sobreposta ao vídeo. A peça verificada, contudo, distorce a declaração do ministro. Na íntegra da fala, é possível perceber que Múcio não nega a tentativa de um golpe, mas defende que as Forças Armadas atuaram com responsabilidade no episódio e não apoiaram os atos golpistas.

Declaração de José Múcio foi tirada de contexto; na íntegra, ele defende as Forças Armadas e alega que a instituição agiu com responsabilidade Foto: Reprodução/Instagram

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Saiba mais: no dia 27 de setembro de 2023, o ministro da Defesa, José Múcio, concedeu uma entrevista ao jornalista William Waack, da CNN. Questionado sobre qual o papel das Forças Armadas atualmente, Múcio relembrou os ataques criminosos de 8 de Janeiro contra as sedes do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro afirmou que o posicionamento das Forças Armadas no episódio foi de “absoluta responsabilidade”. Ele diz que, em todos os golpes da história, as Forças Armadas estavam à frente, enquanto o povo apoiava atrás. Para ele, a tentativa de golpe em 8 de Janeiro veio de indivíduos sem expressão, sem apoio das Forças Armadas.

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“Nesse episódio que nós passamos, o dia 8 de janeiro, eles [as Forças Armadas] tiveram um papel, assim, de absoluta responsabilidade. Em todos os golpes que você vê na história, vão as Forças Armadas na frente e o povo vem apoiando atrás. O que foi que aconteceu no 8 de Janeiro? Uma absoluta baderna, patrocinada por alguns irresponsáveis. Não havia uma liderança, não havia uma palavra de ordem. Era como se agências de turismo tivessem convocados desavisados para irem a Brasília para fazer aquele quebra-quebra”, disse, na íntegra (minuto 7:01).

Por telefone, a assessoria do ministério da Defesa afirmou que, na entrevista, Múcio não chamou o 8 de Janeiro de “narrativa” em nenhum momento.

Ministro diz que Forças Armadas não queriam golpe

Em diversas declarações públicas, José Múcio defendeu a postura das Forças Armadas nos atos que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes. Em entrevista recente ao Estadão, o ministro afirmou que o Exército, enquanto uma instituição, não queria um golpe, apesar de admitir que “algumas pessoas ali de dentro” torcessem por isso.

Também durante a entrevista, Múcio defendeu a investigação do episódio. “Precisamos apenas achar os culpados para tirar de vez essa nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas”, afirmou. Ele também alegou que não quer “condenar inocentes”, e sim “punir culpados”.

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Comentários endossam boatos sobre ‘infiltrados’

Os comentários das peças que tiraram de contexto a declaração de Múcio endossam a versão falsa de que a destruição das sedes dos Três Poderes foi causada por “infiltrados”. “A baderna foi patrocinada pelo próprio presidente Lula e todos os partidos de esquerda”, diz, por exemplo, um dos comentários.

Após os atos golpistas, o Estadão analisou horas de transmissões ao vivo, listas de passageiros de ônibus, postagens em redes sociais e centenas de imagens. Os conteúdos mostram que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) organizaram os atos golpistas e foram para Brasília dispostos a invadir as sedes dos Três Poderes. As imagens analisadas pelo jornal apontaram a identidade de 88 participantes.

Mesmo após um ano dos ataques golpistas, teses falsas e infundadas continuam circulando pelas redes sociais. Recentemente, o Estadão Verifica relembrou as narrativas enganosas sobre os atos antidemocráticos que já foram desmentidas.

Como lidar com postagens do tipo: A postagem verificada tira de contexto um vídeo real para distorcer uma declaração de uma figura pública e impulsionar uma tese desinformativa. Procure a entrevista na íntegra para entender a totalidade do trecho compartilhado nas redes sociais. Para encontrar o vídeo original, tente fazer uma busca reversa de imagens ou busque por palavras-chave que são mencionadas no vídeo (nesse caso, tente Múcio + baderna + 8 de janeiro).

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