Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas redes sociais mostra cardume em área com pouca água. O narrador diz que imagens, gravadas na barragem de Oiticica, no Rio Grande do Norte, por um morador local, provam que a transposição do rio São Francisco está sendo fechada, “comporta por comporta” e que, por isso, os peixes estão morrendo.
Onde foi publicado: Kwai e Twitter.
Conclusão do Comprova: Vídeo de cardume represado em área com pouca água foi usado enganosamente em redes sociais para afirmar que comportas da transposição do rio São Francisco estão sendo fechadas a mando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, causando a morte de peixes.
As imagens dos animais são verdadeiras e foram gravadas na Barragem de Oiticica, em Jucurutu, no Rio Grande do Norte, em 17 de março, mas não têm ligação com o fechamento das comportas, como explicou a Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte (SEMARH) ao Comprova. “Esclarecemos que as comportas da barragem não foram fechadas”, afirmou. Segundo o órgão, com o aumento do volume de chuvas na região, houve um transbordamento e um trecho da estrada de serviço da barragem se rompeu, desviando a água para outro curso e fazendo com que a área anteriormente abastecida (a que aparece no vídeo) fosse esvaziada.
Ainda de acordo com a secretaria, foram feitas ações conjuntas entre Defesa Civil, Câmara de Vereadores, Prefeitura de Jucurutu e pescadores. “Foi realizada a limpeza dos peixes mortos pela falta de oxigênio e os que estavam vivos foram pescados pela colônia dos pescadores.”
De acordo com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), a chegada das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) ao Rio Grande do Norte ocorreu em 8 de fevereiro de 2022 e, naquele ano, foram liberados aproximadamente 90 milhões de metros cúbicos de água para o Estado para testar o sistema. O órgão explica que a obra da barragem é executada pelo governo do Rio Grande do Norte e 93,7% está concluída.
Um dos tuítes verificados pela reportagem usa o vídeo e, na legenda, pergunta se a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, vai se manifestar frente à mortandade dos peixes. Contatado pelo Comprova, o ministério afirmou não ser responsável pela barragem e que o conteúdo é “falso”.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Twitter, um dos posts foi visualizado 288,8 mil vezes e compartilhado 5,8 mil vezes até 27 de março. No Kwai, foram 22,7 mil compartilhamentos e 76,4 mil curtidas até a mesma data.
O que diz o responsável pela publicação: A reportagem tentou contatar perfis que publicaram o post enganoso no Kwai e no Twitter, mas não houve retorno até a publicação deste texto.
Como verificamos: O primeiro passo foi, por meio da busca no Google pelas palavras-chave “barragem”, “Oiticica” e “peixes” encontrar o vídeo original completo. A reportagem contatou o canal de YouTube que publicou a gravação, mas o responsável não soube informar quem gravou as imagens, apenas que as recebeu de um seguidor. Sem conseguir falar com o autor do vídeo, o Comprova falou com a assessoria de imprensa do governo do Rio Grande do Norte e a SEMARH-RN, já que, no vídeo, o homem diz se tratar da barragem de Oiticica. Para saber mais detalhes sobre a transposição e a barragem, entrou em contato com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e o MIDR.
O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores utilizam vídeos reais para dar a impressão de credibilidade. Como informado anteriormente, o vídeo dos peixes represados é verdadeiro, mas é preciso ter cautela para não acreditar em qualquer conteúdo que circula nas redes sociais. Sempre devemos desconfiar e refletir se as publicações fazem sentido. Neste caso, bastava perguntar: “Se as comportas tivessem realmente sido fechadas, não haveria reportagens na imprensa sobre o assunto?”, “Não haveria reportagens sobre desabastecimento no Rio Grande do Norte?”, “Por que o governo federal estaria fechando as comportas dessa forma?” e “Essa mortandade não configuraria um crime ambiental caso, de fato, o governo estivesse fechando as comportas?”.
Além de fazer perguntas básicas sobre o que alega o conteúdo duvidoso, sempre busque informações em sites de veículos profissionais. Busque no Google por palavras e expressões-chave relacionadas à publicação, como “transposição”, “morte de peixes” e “fechamento de comportas”.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo verificado aqui foi checado por Boatos.org e Aos Fatos. E, ainda neste mês, o Comprova já investigou outro conteúdo que afirma falsamente que Lula desligou bombas da transposição. O governo federal também foi foco de outras checagens do projeto, como de post que mente ao dizer que a Marinha penalizou o presidente por autorizar a entrada de navios iranianos no Brasil.
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