É falso que um vídeo que circula nas redes mostre integrantes do Movimento Sem Terra (MST) bloqueando a transposição do Rio São Francisco em Pernambuco. O responsável pela conta que inicialmente compartilhou as imagens esclareceu que a cena, na realidade, mostra um processo de limpeza de um canal da obra no município de Santa Maria da Boa Vista. O vídeo passou a ser compartilhado sem o contexto original.
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De acordo com o site local Didi Galvão, as imagens são da última quinta-feira, 20, quando produtores rurais do distrito projeto Fulgêncio, no município de Santa Maria da Boa Vista, se reuniram para realizar uma limpeza no canal de aproximação do Rio São Francisco. O bloqueio do canal seria para retirada de lodo e algas com o objetivo de melhorar a captação de água e abastecimento para consumo e produção.
O pequeno agricultor Jorge João da Silva, que esteve na mobilização, confirmou ao Estadão Verifica que o vídeo mostra uma ação para limpar o canal de aproximação da estação de bombeamento do projeto Fulgêncio. Ele não tem relação com o MST.
O vídeo foi compartilhado na rede Kwai com a marcação do perfil de Misael Amaris, que também aparece mencionado em outras publicações do projeto no Facebook. Em sites de notícias locais, ele é identificado como diretor do distrito do Projeto Fulgêncio.
Ainda no Kwai há outros vídeos da ação. Em um deles, um participante explica que a população se reuniu para a limpeza para melhorar a captação de água para o projeto.
O Ministério do Desenvolvimento Regional disse que "não tem conhecimento sobre nenhum bloqueio em qualquer trecho do projeto neste momento". Por nota, o MST desmentiu a informação e disse não ter "nenhum conhecimento" sobre o fato retratado e difundido no vídeo.
O movimento tem sido alvo de desinformação na reta final das eleições. O nome do MST esteve envolvido em um ataque a plantação de mamão no Espírito Santo, o que foi descartado pela Polícia Militar. Além disso, uma paralisação por causa de um acidente na BR-285 também circulou nas redes como se fosse um ato do MST, mas a informação não é verdadeira.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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