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Mudança no rótulo da vacina contra covid da Janssen ocorreu em 2021

Vídeo usa trecho de programa da CNN como se fosse de 2023 para afirmar que só agora efeitos colaterais do imunizante estão sendo divulgados; casos de Síndrome de Guillain-Barré associados à vacinação são raros

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Foto do author Clarissa Pacheco
Atualização:

O que estão compartilhando: que a Food and Drug Admnistration (FDA), órgão dos Estados Unidos similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atualizou o rótulo da vacina da Janssen contra a covid-19 para incluir risco de associação à Síndrome de Guillain-Barré, e que só agora os efeitos colaterais da vacina estão sendo divulgados.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo reproduz trecho do programa Expresso CNN do dia 12 de julho de 2021 há mais de dois anos – quando a FDA anunciou uma atualização no rótulo da vacina na Janssen contra a covid-19 a fim de alertar a população sobre uma possível complicação associada ao imunizante: a Síndrome de Guillain-Barré.

Diferente do que diz o post aqui investigado, que acumula quase 3 mil interações no Instagram e também circula bastante no TikTok, os efeitos colaterais não estão sendo divulgados apenas agora, em 2023. A Anvisa fez o alerta no Brasil ainda em 2021, dias depois da decisão da FDA.

Na época, a CNN informou que as autoridades sanitárias dos Estados Unidos disseram que não estava claro se a vacina realmente causava a síndrome, mas que havia notado um aumento nos relatos de casos. Já a fabricante da vacina disse, na ocasião, que as chances de que isso ocorresse eram muito baixas.

 Foto: Reprodução

Saiba mais: Recentemente, um trecho do programa Expresso CNN do dia 12 de julho de 2021 passou a viralizar na redes sociais, especificamente no momento em que a âncora, Roberta Russo, noticia uma decisão da FDA de alterar o rótulo da vacina da Janssen contra a covid-19 para incluir um alerta sobre uma possível – mas rara – reação adversa: a Síndrome de Guillain-Barré.

Embora não fique claro, é possível que o assunto tenha vindo à tona recentemente após o Peru anunciar uma emergência sanitária por conta da Guillain-Barré. Até 8 de julho deste ano, foram 191 casos notificados no país, segundo o Centro Nacional de Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças do Peru.

O que é a Síndrome de Guillain-Barré

A Síndrome de Guillain-Barré é considerada um distúrbio neurológico autoimune raro, no qual o sistema imunológico danifica as células nervosas, podendo causar fraqueza nos músculos e paralisia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A maioria das pessoas se recupera totalmente, mesmo nos casos graves, mas há casos em que o distúrbio afeta músculos respiratórios e pode levar à morte. Em geral, a doença é desencadeada por uma infecção viral ou bacteriana.

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Os casos associados à vacinação também são raros, mas a síndrome também já foi ligada à vacina da gripe. Em 2015, houve aumento de casos no Brasil, o que levou pesquisadores a estudarem uma relação com o vírus da Zika. No ano passado, uma artigo publicado por pesquisadores brasileiros apontou uma relação entre a covid-19 e a Síndrome de Guillain-Barré.

No caso do Peru, ainda não foi determinado o que desencadeou o surto, mas já se sabe que pessoas que tiveram covid-19 têm mais riscos de desenvolver a síndrome, independente da gravidade da infecção pelo coronavírus. Isso porque o Sars-CoV-2, que causa a covid-19, é um dos vírus que servem de gatilho para a Guillain-Barré, assim como o vírus da Zika, o citomegalovírus e o vírus Epstein-Barr (causadores da herpes), e o HIV, por exemplo.

A Guillain-Barré é geralmente desencadeada por uma infecção viral ou bacteriana e pode causar paralisia Foto: Freepik

Vacina continuou sendo aplicada nos EUA

Quando o alerta foi feito pela FDA, em julho de 2021, 13 milhões de doses do imunizante produzido pela Johnson & Johnson tinham sido aplicadas nos Estados Unidos, e 100 casos de Síndrome de Guillain-Barré tinham sido notificados às autoridades de saúde. Das 100, 95 pessoas tinham sido hospitalizadas – homens com mais de 50 anos, em sua maioria – e um óbito tinha sido confirmado, como mostrou o Estadão.

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Apesar do alerta, a FDA não suspendeu o uso da vacina, que continuou sendo aplicada no país. A bula mais recente, atualizada em 13 de março de 2023, permanece com um alerta de risco aumentado para Guillain-Barré durante os primeiros 42 dias após a vacinação.

Em 22 de maio deste ano, a própria fabricante pediu a retirada voluntária da autorização de uso emergencial nos Estados Unidos da vacina Janssen Covid-19, já que os últimos lotes adquiridos pelo governo norte-americano tinham expirado e a fabricante não pretendia atualizar a cepa, passando a se concentrar nas variantes emergentes. Em 1º de junho, a FDA revogou a autorização para uso emergencial da vacina da Janssen no país.

Alerta foi emitido pela FDA em julho de 2021, mas órgão deixou claro que relação não estava provada e não suspendeu uso do imunizante Foto: Kamil Krzaczynski/AFP

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Anvisa emitiu alerta em julho de 2021

Assim como nos Estados Unidos, a Anvisa também alertou para suspeita de associação entre a Síndrome de Guillain-Barré e vacinas contra a covid-19. Além da Janssen, o alerta valia para as vacinas da AstraZeneca e para a CoronaVac. No dia 28 de julho de 2021, a Anvisa divulgou um comunicado informando que havia recebido 27 notificações de casos suspeitos da Síndrome de Guillain-Barré após a imunização com a AstraZeneca, quatro com a CoronaVac e três com a vacina da Janssen.

Diante dos relatos dos eventos adversos considerados raros, a Anvisa notificou as fabricantes para que incluíssem em suas bulas um alerta sobre os possíveis riscos da Síndrome, mas continuou recomendando a vacinação com todos os imunizantes disponíveis na época.

“É importante destacar que a Anvisa mantém a recomendação pela continuidade da vacinação com todas as vacinas contra covid-19 aprovadas pela Agência, dentro das indicações descritas em bula, uma vez que, até o momento, os benefícios das vacinas superam os riscos”, disse a Anvisa, em nota.

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