Não é recomendado esperar epidemia de dengue passar para se vacinar; imunizantes podem conter surtos

Ministério da Saúde e especialistas concordam que vacinação é fundamental para evitar propagação da doença; procurado, médico responsável pelo vídeo verificado disse que proteção só é robusta após segunda dose, o que é refutado por infectologistas

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Atualização:

O que estão compartilhando: vídeo orienta pessoas a evitarem se vacinar contra qualquer tipo de doença durante uma epidemia ou pandemia. O autor do conteúdo recomenda que as pessoas esperem o verão passar para se imunizarem contra a dengue.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Consultados pelo Estadão Verifica, o Ministério da Saúde e especialistas explicaram que a vacinação é fundamental para conter o avanço de doenças. Por isso, é muito importante que as pessoas se vacinem durante epidemias ou pandemias. Vale ressaltar que o imunizante contra a dengue disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) protege mesmo após a primeira dose. “A vacinação é uma das medidas mais importantes para prevenir a propagação de doenças infecciosas e a proteção (da vacina contra dengue) não acontece apenas após a segunda dose”, informou o ministério.

Procurado, o médico responsável pelo vídeo verificado afirmou que a proteção da vacina só é robusta após a segunda dose e que se vacinar durante um surto de dengue pode aumentar a chance de agravamento da infecção. Isso foi refutado pelos especialistas ouvidos pelo Verifica.

Vacina contra a dengue aplicada em Brasília. Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

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Saiba mais: A vacina contra a dengue em uso no Brasil, a QDenga, da farmacêutica japonesa Takeda, demonstrou eficácia de 81% na redução de quadros sintomáticos após 30 dias da primeira dose. O médico infectologista Unaí Tupinambás destaca que o estudo usado para a aprovação da vacina para crianças e adolescentes indicou haver proteção contra a dengue mesmo após a primeira dose.

Tupinambás, que é professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ressaltou que o estudo foi realizado em locais onde havia epidemias de dengue. Participaram da pesquisa 20.071 pessoas na Ásia e na América Latina. “A vacina contra dengue, mesmo neste cenário de aumento da incidência de casos da infecção, é absolutamente indicada e segura”, afirmou o especialista.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, ressalta que a vacinação contra qualquer doença durante surtos é uma estratégia para conter sua disseminação. “Chamamos de vacinação de bloqueio”, explicou o infectologista.

Isso explica o uso da vacina de sarampo durante os surtos da doença, assim como as imunizações contra pólio, hepatite A e meningite, por exemplo. “É fundamental que a gente tenha esse instrumento de proteção e de controle de surtos para diversas doenças. Com a dengue, não é diferente”, disse.

“Imagine se a gente fosse esperar a pandemia de covid passar pra se vacinar. A covid foi um exemplo clássico, de como a gente vacina durante surtos e epidemias para controle da doença”, concluiu Kfouri.

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Fenômeno ADE não foi observado em vacina QDenga

O autor do vídeo é o médico infectologista Francisco Cardoso. No conteúdo analisado, ele elogia a vacina QDenga, mas diz que a pessoa vacinada corre o risco de se contaminar quando ainda está produzindo uma resposta imune. Segundo ele, as consequências disso seriam “escape imune, fracasso da imunização e efeitos adversos complicados”.

Por e-mail, ele disse ao Verifica que “o vídeo explica que idealmente a vacinação sempre deve ser feita fora do período epidêmico. Isso porque no período epidêmico, aumentam suas chances de se contaminar com o agente infeccioso, no caso o dengue”.

Segundo o médico, a resposta imunológica da vacina não seria robusta após a primeira dose. Cardoso afirma que, caso o vacinado seja infectado com o vírus, ele poderia ter uma resposta inflamatória pior, aumentando o risco de doença grave. “Esse fenômeno se chama ‘enhancement’ ou ADE”, argumentou.

Mas, na verdade, os especialistas consultados pelo Verifica explicaram que esse fenômeno não ocorre com a vacina contra a dengue. Na explicação do professor da UFMG Unaí Tupinambás, o ADE “é o que pode acontecer quando a pessoa contrai a dengue pela segunda vez, tem mais chances de apresentar o choque da dengue”. Tupinambás detalha que o estudo que aprovou a vacina contra a dengue não encontrou este fenômeno em participantes que receberam o imunizante, depois de mais de 4 anos de acompanhamento.

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O vice-presidente da SBIm, Renato Kfouri, confirma que o ADE não foi observado em pessoas vacinadas com a QDenga. Ele lembra, no entanto, que o primeiro imunizante contra a dengue usado no Brasil, o Dengvaxia, da farmacêutica Sanofi Pasteur, só é recomendado para pessoas que já tiveram infecção prévia.

Essa primeira vacina conseguiu licença da Anvisa em 2015. Porém, meses depois, estudos pós-comercialização mostraram que ela aumenta o risco de quadros graves em vacinados que nunca tinham tido contato prévio com um dos sorotipos da doença.

Campanha de vacinação contra dengue em Brasília. Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO

Segundo Kfouri, o que foi observado com a Dengvaxia foi que, em alguns dos imunizados que nunca tiveram dengue, a vacina funcionou como uma primeira infecção. Por isso, quando algumas dessas pessoas contraíam a doença tempos depois, havia um risco maior de agravamento do quadro de saúde.

“Por isso que as novas vacinas, de segunda geração, a OMS obriga pelo menos um acompanhamento de três anos, para ver se esse fenômeno não aparece”, explicou o médico. “E os estudos de quatro anos e meio não mostraram nenhum risco com a vacina QDenga do fenômeno ADE acontecer nos indivíduos estudados”.

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Novas vacinas contra dengue no Brasil

Até o momento, a QDenga é a única vacina contra a dengue aprovada no Brasil para utilização em indivíduos sem necessidade de teste pré-vacinação. O imunizante é recomendado a pessoas de 4 a 60 anos e deve ser administrado em duas doses, com intervalo de até três meses. Em 2024, o público-alvo da vacinação no SUS são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos.

Já há estudos apontando a eficácia da vacina em elaboração pelo Instituto Butantan, que será de dose única. A expectativa é que os pesquisadores peçam a licença da Anvisa em setembro deste ano.

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