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Não, Exército não declarou Bolsonaro ‘verdadeiro presidente do Brasil’

Vídeo cria narrativa fantasiosa envolvendo eleições, golpe militar, tráfico de drogas e posse presidencial

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Foto do author Clarissa Pacheco

É falso que o Exército Brasileiro tenha declarado Jair Bolsonaro (PL) como verdadeiro presidente do Brasil. Um vídeo que viralizou em diversas postagens no Facebook apresenta uma série de informações sem nenhum fundamento para tentar enganar a respeito do futuro político do País. Todas as alegações contidas no vídeo são mentirosas.

Diferentemente do que diz a narração do vídeo, feita em espanhol, Bolsonaro não foi reeleito, nem reconhecido como o verdadeiro presidente do Brasil. Também é falso que observadores internacionais tenham apontado indícios de intervenção federal, que militares do Exército tenham ocupado favelas no Rio de Janeiro, ou matado líderes do Comando Vermelho. Além disso, não há qualquer indício que a posse de Bolsonaro esteja sendo preparada.

 Foto: repr

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O vídeo usa fotografias do atual presidente e de militares, além de um vídeo de baixa qualidade com veículos militares em cima de caminhões de transporte. Não há informações sobre quando as imagens foram feitas, mas é possível identificar que são do Rio de Janeiro – há um táxi amarelo com faixa lateral azul, característico da cidade. O vídeo sozinho, contudo, não indica que haja uma intervenção militar por lá. Em nota ao Estadão Verifica no início do mês, o Exército informou que não está realizado nenhuma operação no estado.

Confira a checagem de cada uma das alegações do vídeo:

Petistas executados e Bolsonaro declarado presidente?

A primeira afirmação contida no vídeo e repetida diversas vezes é que o Exército teria executado funcionários do presidente eleito Lula (PT). É mentira. Não há qualquer menção a assassinatos de petistas ou de funcionários diretos do presidente eleito na imprensa profissional ou independente, nem mesmo em sites que rejeitam o resultado nas eleições e apoiam um golpe.

Também é falsa a alegação de que Bolsonaro foi declarado presidente do Brasil pelo Exército. Segundo a narração do vídeo, o reconhecimento de Jair Bolsonaro como o verdadeiro eleito teria ocorrido ao mesmo tempo em que funcionários de Lula eram executados.

Além disso, não é verdade que a posse de Bolsonaro esteja sendo preparada. O mandato do atual presidente se encerra em 31 de dezembro e a diplomação de Lula, no dia 12 de dezembro, já abriu caminho para a posse do petista, em 1º de janeiro de 2023. Os palcos para a posse já começaram a ser montados e o Senado Federal até encerrou o credenciamento de imprensa para a cobertura da cerimônia.

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Operários trabalham na preparação da rampa do Palácio do Planalto para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 1° de Janeiro de 2023. Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Líderes do Comando Vermelho mortos?

De acordo com o vídeo, militares do Exército Brasileiro adotaram uma medida incomum e invadiram favelas para matar líderes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) nos primeiros dias após Bolsonaro ser declarado presidente. A justificativa fantasiosa para a ação seria o apoio dos traficantes, supostamente comunistas, a Lula. Isso também é falso, por mais de um motivo: primeiro, porque o Exército não fez operações recentes em favelas do Rio de Janeiro. A intervenção federal ocorrida no estado se encerrou em dezembro de 2018.

Segundo, porque são poucas as notícias recentes sobre mortes de líderes do Comando Vermelho e, mesmo assim, nenhum deles foi morto por militares das Forças Armadas. O principal líder do CV, Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foi encontrado morto dentro da cela que ocupava na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, em setembro de 2020.

Em setembro de 2022, uma liderança da facção em Cáceres (MT), Jailson Buck Rodrigues, foi encontrado morto dentro da Cadeia Pública da cidade. Menos de um mês depois, em 16 de outubro, Izalan Dias, apontado como líder do CV no Baixo-Tocantins, morreu em uma troca de tiros com policiais civis que tentavam cumprir um mandado de prisão preventiva contra ele por roubo majorado e extorsão em Ananindeua (PA).

Depois, em 1º de dezembro de 2022, Rodrigo Barbosa Marinho, o Titio Rolinha, líder do Comando Vermelho no Morro do Juramento, Zona Norte do Rio, foi morto em um confronto com a Polícia Militar. Não houve participação das Forças Armadas em nenhuma das operações.

Observadores falam em intervenção?

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Não, não há observadores internacionais falando em intervenção militar na eleição brasileira, assim como é falso que a votação tenha sido fraudada. Sete missões internacionais acompanharam as eleições brasileiras de 2022; elas apontaram que o pleito ocorreu de acordo com padrões internacionais e atestaram a confiabilidade do processo.

Um dia após o segundo turno, ao menos 90 países já tinham reconhecido a vitória de Lula. O presidente francês, Emmanuel Macron, postou uma mensagem de reconhecimento da vitória apenas 15 minutos após o Tribunal Superior Eleitoral declarar o resultado do segundo turno, ainda na noite de 30 de outubro.

Para a posse de Lula, no dia 1º, foram confirmadas a presença de ao menos 12 chefes de Estado. O público esperado é de 300 mil pessoas.

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Operários trabalham na montagem do palco "Festival do Futuro, a alegria vai tomar posse" na Esplanada dos Ministérios em Brasília. O palco é para festa de posse de Lula. Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Traficantes comemoraram?

Diversos vídeos de tiros sendo disparados para o alto durante festas em favelas do Brasil foram compartilhados nas redes sociais após o resultado das eleições como se mostrassem traficantes festejando a vitória de Lula.

O Estadão Verifica desmentiu pelo menos dois deles – um dos vídeos já circula pela internet desde 2019 , e outros estavam no ar desde antes da votação, inclusive em comemoração à vitória do Flamengo na Libertadores da América.

Segundo o vídeo aqui investigado, apenas traficantes comemoraram a vitória do petista na eleição, o que é mentira. Houve celebrações de eleitores em todo o País.

Bolsonaro tomou medidas enérgicas contra traficantes?

Uma das alegações comuns entre apoiadores de Bolsonaro é afirmar que ele foi o responsável por transferir líderes de facções, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), para presídios federais. Não é bem assim, uma vez que a iniciativa de pedir a transferência de Marcola não partiu do presidente, e sim de um promotor do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya.

Gakiya criticou o uso político da transferência por parte do ex-juiz, ex-ministro e agora senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR), que apoiou Bolsonaro na reta final da campanha para a reeleição. Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro lançou um livro no final de 2021, quando estava rompido com Bolsonaro, afirmando que o atual presidente titubeou antes de aceitar transferir líderes do PCC para presídios federais.

Apesar das declarações sobre combate ao crime organizado e ao narcotráfico, o governo Bolsonaro cortou 96% dos investimentos na Polícia Federal para combate ao tráfico de drogas e outros crimes na proposta de orçamento para 2023, enviada ao Congresso em setembro deste ano, como mostrou o jornal O Globo.

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